quarta-feira, 7 de julho de 2004

Inteligência Espiritual

Aqui há tempos vi no Canal História um documentário sobre o Julgamento de Nuremberga. O documentário de qualidade BBC despertou em mim vários sentimentos. Talvez volte a escrever outro artigo sobre outros pontos merecedores de reflexão, mas o que eu queria agora abordar era o seguinte: a certa altura foi referido que a média do Coeficiente de Inteligência (QI) dos 24 acusados, onde se incluíam Goebels, o principal, mas também Hess, Speer, Doenitz, Ribbentrop, etc., era de 130. Para mim foi curioso, mas não de todo inesperado, saber este facto. O programa referiu este dado para realçar a alta inteligência dos réus. Por coincidência, eu tinha feito um teste ao meu QI uns dias antes e tinha ainda presente os valores desta escala: 130 é o valor a partir do qual se encontram os génios... quer dizer que entre aqueles condenados de crimes contra humanidade, autênticos facínoras do pior que a humanidade já conheceu, havia verdadeiros génios com a capacidade intelectual de Einstein.

Depois de reflectir um pouco, realmente creio que seja lógico que estes homens tenham sido inteligências superiores: afinal conceberam planos que uma inteligência normal dificilmente teria conseguido. Pelo mesmo pressuposto, não será difícil chegar à conclusão que outros como o próprio Hitler, Estaline, etc, também pudessem ter QI's elevados. Pergunto, então, como explicar a diferença entre um homem desses e um Einstein, para citar um exemplo por todos conhecido, ou outros génios do bem? Sim, acho que não é abusivo chamar a uns génios do mal e a outros génios do bem... A resposta parece-me óbvia: a capacidade intelectual, só por si, está longe de ser suficiente para guiar a actividade humana, porque uma mente genial não é forçosamente uma alma genial. A genialidade intelectual, só por si, é condição necessária, mas não suficiente para o saudável bem estar e desenvolvimento da humanidade; igualmente podemos dizer o mesmo para a genialidade moral.

Para suportar esta ideia queria apresentar um conceito do qual tomei conhecimento recentemente, eventualmente já conhecido por alguns, mas acredito não por todos já que se trata de um conceito muito recente. É ele o Coeficiente Espiritual (QS), que vem complementar o Coeficiente Emocional (QE) este já mais conhecido e o tradicional e velhinho QI presente em tantos exames psicológicos. O QE primeiro, e agora o QS, são conceitos que vêm tentar procurar explicações cientificas para comportamentos e características humanas que o QI por si só não consegue suportar.

O QS distingue-se do QI e do QE pela capacidade de transformação. O QI basicamente é responsável pela resolução de problemas lógicos. O QE permite avaliar situações em que nos encontramos e encontrar um comportamento em consonância. O QS permite-nos perguntar se queremos estar numa determinada situação e poderá motivar-nos a criar uma outra diferente. Apesar da conotação que o nome carrega, o QS tem pouca relação com a religião formal. Ateístas e humanistas poderão ter um elevado QS, enquanto um religioso convicto e activo poderá não o ter.

O texto seguinte foi retirado de uma entrevista com a física e filósofa americana Dana Zohar, onde se aborda este tema. Nesta entrevista ela explica sucintamente o que é o QS. Chamo No final do texto, onde são enumeradas as 10 supostas características de uma pessoa espiritualmente inteligente.

No livro QS - Inteligência Espiritual, lançado no ano passado, Dana Zohar aborda um tema tão novo quanto polémico: a existência de um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas, torna-as mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida. Ela baseia seu trabalho sobre Coeficiente Espiritual (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas de cientistas de várias partes do mundo que descobriram o que está sendo chamado "Ponto de Deus" no cérebro, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas. O assunto é tão actual que foi abordado em recentes reportagens de capa pelas revistas americanas Neewsweek e Fortune. Dana afirma: "A inteligência espiritual colectiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos em uma cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual".

O que é inteligência espiritual?

É uma terceira inteligência, que coloca nossos actos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efectivos. Ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direcção pessoal. O QS aumenta nossos horizontes e torna-nos mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor. O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas acções.

[...]

Os cientistas descobriram que temos um "Ponto de Deus" no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. É uma área ligada à experiência espiritual. Tudo que influência a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neuronais. Um tipo de organização neuronal permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou inteligência intelectual. Outro tipo permite realizar o pensamento associativo, afectado por hábitos, reconhecedor de padrões, emotivo. É o responsável pelo QE, ou inteligência emocional. Um terceiro tipo permite o pensamento criativo, capaz de insights, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formulam e se transformam os tipos anteriores de pensamento. Esse tipo lhe dá o QS, ou inteligência espiritual.

Qual a diferença entre QE e QS?

É o poder transformador. A inteligência emocional permite-nos julgar em que situação nos encontramos e a nos comportarmos apropriadamente dentro dos limites da situação. A inteligência espiritual permite-nos perguntar se queremos estar nessa situação particular. Implica trabalhar com os limites da situação. Daniel Goleman, o teórico do Quociente Emocional, fala das emoções. Inteligência espiritual fala da alma. O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para nós, e não apenas como as coisas afectam a nossa emoção e como reagimos a isso. A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade.

No início do século XX, o QI era a medida definitiva da inteligência humana. Só em meados da década de 90, a descoberta da inteligência emocional mostrou que não bastava o sujeito ser um génio se não soubesse lidar com as emoções. A ciência começa o novo milénio com descobertas que apontam para um terceiro quociente, o da inteligência espiritual. Ela nos ajudaria a lidar com questões essenciais e pode ser a chave para uma nova era das actividades humanas.

Os especialistas identificam dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes. Essas pessoas:

1. Praticam e estimulam o auto conhecimento profundo
2. São levadas por valores. São idealistas
3. Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade
4. São holísticas [capacidade de ver a relação entre coisas diversas]
5. Celebram a diversidade,
6. Têm independência [capacidade de lutar contra as convenções]
7. Perguntam sempre "porquê?"
8. Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo
9. Têm espontaneidade
10.Têm compaixão


Pedro Reis

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