sábado, 24 de maio de 2025

Em que Teoria da História podemos acreditar?

Por David Langness.


Como funciona a história? Quando os historiadores analisam as idades da humanidade, como explicam o nosso progresso — ou a falta dele? Que forças impulsionam a história?

Eis a questão principal, que abrange todas as outras questões sobre o estudo da história: como damos sentido ao passado?

Responder a estas questões complexas sobre a história humana significa criar uma explicação compreensível e racional dos acontecimentos, estruturas e processos que nos possam dizer como e por que razão passámos das cavernas para os arranha-céus.

Os historiadores há muito que tentam responder a estas questões — desde os antigos filósofos gregos. Literalmente, centenas de teorias e filosofias da história foram propostas ao longo dos séculos. A maioria dos cursos de nível universitário sobre história mundial condensa todas estas teorias em seis categorias principais:
  • A Teoria Cíclica, onde a história se repete sem fazer qualquer progresso real
  • A Teoria Linear, onde o mundo melhora e progride constantemente
  • A Teoria do Grande Homem, que afirma que a história é impulsionada pelos grandes homens
  • A Teoria do Homem Comum ou do Povo, que afirma que a história é moldada por pessoas comuns
  • A Teoria Geográfica, que propõe a geografia como destino
  • A Teoria Marxista, que afirma que a história é uma contínua da luta de classes
Nesta série de artigos, examinaremos brevemente as verdades subjacentes a todas estas seis teorias relevantes, e tentaremos explorar quais delas se ajustam melhor à nossa compreensão contemporânea da história humana. Examinaremos também uma sétima teoria singular, apresentada pela primeira vez nos ensinamentos Bahá’ís, que desafia todas as percepções existentes da história e segue um caminho completamente diferente para explicar a evolução da civilização humana.

Estão preparados? Então vamos a isto — comecemos pelo princípio.

A teoria cíclica da história afirma, basicamente, que as pessoas repetem invariavelmente uma série de padrões recorrentes. Os mitos de muitas culturas antigas promoviam esta concepção não linear da história e do tempo, afirmando que a história oscilava para a frente e para trás, repetidamente, entre Idades das Trevas e Idades de Ouro alternadamente. A teoria cíclica afirma que as civilizações ascendem e caem pelas mesmas razões básicas — por outras palavras, a história repete-se infinitamente. Tal como a natureza, várias sociedades humanas passam por padrões de desenvolvimento idênticos em ciclos que se repetem periodicamente.

Historiadores gregos como Heródoto, Tucídides e Políbio acreditavam na teoria cíclica da história, onde não se verifica qualquer progresso real — na verdade, o progresso, de acordo com este conceito, é um mito:

A história é uma roda, pois a natureza do homem é fundamentalmente imutável. O que aconteceu antes, inevitavelmente voltará a acontecer. (George R.R. Martin)

O que é constante na história é a ganância, a insensatez e o amor ao sangue, e isso é algo que até Deus — que sabe tudo o que pode ser conhecido — parece impotente para mudar. (Cormac McCarthy)

A teoria cíclica sustenta que a natureza humana — seja ela boa ou má — determina sempre a história. Aqueles que defendem a teoria cíclica diriam que a natureza humana nunca muda; e, por isso, a história também não pode mudar, registando assim muitos ciclos repetitivos de realizações e loucuras humanas.

Os grandes filósofos gregos — Sócrates, Platão e Aristóteles — defendiam todos uma variante da teoria cíclica da história. Na Atenas antiga, porém, provavelmente consegue compreender porquê — a sociedade humana ainda não tinha progredido muito e estava nos primórdios da civilização moderna. Ainda atormentada pela escravatura, pelas guerras constantes e pelos índices de escolaridade muito baixos, a cultura ateniense testemunhou o primeiro florescimento da civilização ocidental — mas ainda tinha um longo caminho a percorrer.

Talvez isso ajude a explicar a teoria cíclica da história, que não exigia uma resposta sofisticada à questão de dar sentido ao passado. Em vez disso, baseava-se no que se sabia na época sobre o carácter humano e reconhecia o facto de que todas as pessoas terem as mesmas escolhas essenciais — ser nobre ou vil, bom ou mau, generoso ou agressivo. Estas escolhas, sustenta a teoria cíclica, determinam a história humana e será sempre assim.

Os ensinamentos Bahá’ís atribuem alguma verdade à teoria cíclica, pois os ideais Bahá’ís centram-se nos nossos traços de carácter pessoal e nas nossas virtudes, ou na falta delas. Os Bahá’ís acreditam que estes traços, no seu conjunto, podem ter um impacto profundo na civilização em geral:

Em suma, o homem está dotado de duas naturezas: uma tende para a sublimidade moral e para a perfeição intelectual, enquanto a outra volta-se para a degradação bestial e para as imperfeições carnais. Se viajardes pelos países do globo, vereis de um lado os vestígios da ruína e da destruição, enquanto do outro vereis os sinais da civilização e do desenvolvimento. Essa desolação e ruína são o resultado de guerras, conflitos e disputas, enquanto todo o desenvolvimento e progresso são fruto das luzes da virtude, da cooperação e da concórdia. (Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, nº 225)

Mas a teoria cíclica da história não se enquadra inteiramente no modelo da história que se encontra nos ensinamentos Bahá’ís, porque os Bahá’ís acreditam definitivamente que a sociedade humana pode progredir:

A educação humana, no entanto, consiste na civilização e no progresso, isto é, governação sólida, ordem social, bem-estar humano, comércio e indústria, artes e ciências, descobertas importantes e grandes empreendimentos, que são as características centrais que distinguem o homem do animal. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 9)

No próximo artigo desta série, examinaremos a Teoria Linear da história, a ideia de que o nosso mundo melhora e progride constantemente.

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Texto original: Which History Do You Believe In? (www.bahaiteachings.org)

 
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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