sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

1898: Os Primeiros Peregrinos Ocidentais

Em 1891 um bahá'í persa, Ibrahim Khayru'llah, instalou-se nos Estados Unidos e começou a viajar por várias cidades divulgando a Mensagem de Bahá'u'lláh. Graças ao seu trabalho, no final do séc. XIX, existiam já os primeiros grupos bahá'ís no continente americano. Alguns dos primeiros crentes são recordados e referidos com respeito e admiração pelos bahá'ís de hoje. Nomes como Thornton Chase (o primeiro americano a aceitar a Causa de Bahá'u'lláh) e Lua Getsinger (uma das mais dedicadas crentes americanas, a quem 'Abdu'l-Bahá atribuiu o titulo de Liva – "Estandarte"), encontram-se com facilidade na literatura bahá'í.

Entre as pessoas que tomaram conhecimento da religião Bahá'í devido aos esforços de Lua Getsinger estava a Sra Phoebe Hearst, esposa do senador George Hearst. Em 1898, a Sra Hearst decidiu ir à Terra Santa para se encontrar com 'Abdu'l-Bahá; também resolveu convidar alguns bahá'ís – entre os quais Edward e Lua Getsinger - para a acompanhar nessa viagem.

Este pequeno grupo incluia Helen Goodall, Isabella Brittingham, Lillian Kappes, Arthur Dodge, Edward Getsinger, Howard MacNutt, Paul Dealy, Chester Thatcher, e ainda Robert Tuner, um empregado negro da Sra Hearst. 'Abdu'l-Bahá mostrou sempre um enorme carinho por este último e Tuner tornar-se-ia o primeiro bahá'í afro-americano. Em Paris, um pequeno número de americanos juntou-se aos peregrinos: duas sobrinhas da Sra Hearst, a Sra Thornburgh e a sua filha e também May Bolles. No Egipto, houve ainda outros crentes que se juntaram ao grupo.

No dia 10 de Dezembro de 1898 - passam hoje 106 anos - este pequeno grupo de peregrinos ocidentais chegou a Haifa. Foi a primeira vez que crentes bahá'ís provenientes do Ocidente estiveram frente-a-frente com 'Abdu'l-Bahá; um momento histórico, poucas vezes recordado entre os bahá'ís.


Podemos avaliar o impacto desta peregrinação naqueles crentes, lendo as suas memórias e notas de viagem[1]. São descrições carregadas de emoção e onde transparece o fascinio que 'Abdu'l-Bahá lhes causava. A Sra. Thornburgh escreveu:
«Tomámos, então, um pequeno e miserável barco até Haifa[2]. Também aqui houve uma tempestade e fomos sacudidos sem piedade naquele vapor antiquado. Após a chegada fomos para um hotel, onde permanecemos até anoitecer, pois era muito perigoso - para nós e para 'Abdu'l-Bahá – que estrangeiros fossem vistos a entrar na cidade do sofrimento.

Quando a noite caiu, tomámos uma carruagem que nos levou ao longo da areia dura junto ao «mar para lá do Jordão» que nos levou às portas da cidade-prisão. Ali, o nosso condutor, que era de confiança, arranjou maneira de entrarmos. Lá dentro encontrámos os amigos à nossa espera e subimos umas escadas irregulares que nos levaram até Ele. À nossa frente seguia alguém com uma vela cuja luz projectava sombras estranhas nas paredes daquele local silencioso.

De repente, a luz incidiu sobre uma forma que inicialmente parecia uma visão de luz e bruma. Era o Mestre que a luz nos revelava. O Seu manto branco, o cabelo longo e prateado, e os olhos azuis brilhantes davam a impressão de um espírito em vez de um ser humano. Tentamos dizer-Lhe o quão profundamente gratos estávamos por Ele nos receber. "Não", respondeu Ele, "vocês foram simpáticos por terem vindo..."

Então sorriu e nós reconhecemos a Luz que Ele possuía e o esplendor que emanava da Sua face nobre e elegante. Foi uma experiência espantosa. Nós, quatros visitantes do mundo ocidental, sentimos que a nossa viagem, com todos os seus inconvenientes tinha sido um pequeno preço a pagar por um tal tesouro, enquanto recebiamos o espírito e as palavras do Mestre; para isto tinhamos atravessado montanhas, mares e nações para o encontrar. Assim começou o nosso trabalho de «espalhar os ensinamentos», de «mencionar o nome de Bahá'u'lláh e dar a Sua Mensagem a conhecer ao Mundo» [3]
Alguns peregrinos ficaram com um tão grande fascínio por 'Abdu'l-Bahá que afirmavam ser Ele o regresso de Jesus Cristo. O Mestre corrigiu-os; Ele era apenas o "Servo de Bahá". Passado uns anos a Sra. Phoebe Hearst, que tinha organizado a peregrinação, fez a seguinte descrição:


«Apesar da minha estadia em Acca ter sido muito curta – estive ali apenas três dias – garanto-lhe que esses três dias foram os mais memoráveis da minha vida; e, no entanto, ainda me sinto incapaz de os descrever mesmo que ligeiramente.

Do ponto de vista material tudo era muito simples, mas a atmosfera espiritual que prevalecia no local e se manifestava nas vidas e actos dos crentes, foi verdadeiramente maravilhosa e algo que nunca tinha experimentado. É necessário vê-los para saber que eles são umas pessoas santas.

Não tentarei descrever o Mestre. Afirmo apenas que acredito com todo o meu coração que Ele é o Mestre e que a minha maior benção é ter sido privilegiada por ter estado na Sua presença e ter visto o Seu rosto santificado. A Sua vida é uma vida de Cristo, e todo o Seu ser irradia pureza e santidade.

Sem dúvida que 'Abbas Effendi é o Messias deste dia e desta geração e não necessitamos de procurar outro.» [4]
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NOTAS
[1] - An Early Pilgrimage de May Bolles Maxwell e In Galilee de Thorton Chase são, talvez os mais conhecidos.
[2] – Vinham do Egipto.
[3] – Chosen Highway, pag. 235-236
[4] – Bahá'í World, vol.VII, pag. 801

1 comentário:

Unknown disse...

adoro essa narrativa do primeiro encontro, sempre que a leio dou asas à imaginaçao...