terça-feira, 18 de janeiro de 2005

O Embaixador Britânico na Porta Sublime

Henry George Elliot foi um dos muitos diplomatas que serviram o Império Britânico no séc. XIX. Além de vários cargos e missões diplomáticas, foi o representante britânico na cerimónia de abertura do Canal do Suez, em 1869. Entre Julho de 1867 e Fevereiro de 1877 exerceu o cargo de embaixador britânico junto em Constantinopla, cargo que teve de abandonar devido a problemas de saúde. A sua história cruza-se com a presença de Bahá'u'lláh em Adrianópolis, quando os cônsules europeus começam a enviar várias informações sobre os exilados persas para as suas embaixadas na Porta Sublime.

aqui referi uma das suas cartas em que ele dizia acreditar nas explicações do governo otomano, segundo as quais o motivo para o exílio daquele pequeno grupo de persas seria meramente político. Em 1868, respondendo ao Cônsul em Adrianópolis, John Blunt, escreveu sobre a possibilidade dos exilados persas virem a sair de Adrianópolis:
"Parece que estas pessoas se esforçaram para ganhar a simpatia dos cristãos levando-os a acreditar que as suas novas doutrinas são um passo em direcção ao cristianismo, facto que, tanto quanto sei, não tem o menor fundamento.

Por muito repugnante que seja qualquer coisa parecida com perseguição religiosa, este não me parece ser um caso em que eu possa intervir adequadamente, pois tenho informações que os esforços dos babees no seu proselitismo estimulou a aversão da população muçulmana, facto que pode trazer inconvenientes se lhes for permitido prosseguir.

Os babees, tendo criado a sua secessão no maometanismo, com uma tentativa de assassinato ao Xá da Pérsia, são vistos com muito ressentimento naquele país, mas não tenho motivos para acreditar que as medidas actuais em relação aos que se encontram em Adrianópolis tenham sido adoptadas por sugestão do governo persa"[1]

Como nota de curiosidade refira-se que este mesmo diplomata inglês é referido por Eça de Queirós nas "Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres". Numas das suas cartas, o autor português, descreve o episódio que levou à demissão do embaixador inglês:

"Nenhuma novidade literária, a não ser o livro de Gallenga, o correspondente do «Times» em Constantinopla, sobre alguns dos episódios mais característicos da Questão do Oriente. Este livro, que é a reprodução da sua correspondência, tem um lado curioso: mostra o poder, em Inglaterra, de um correspondente de jornal. Gallenga, convenceu-se em Constantinopla, que o embaixador inglês, Sir G. Elliot, não representava com vantagem os interesses britânicos na Turquia. Apenas formou esta ideia, dirigiu-se à embaixada, e intimou o embaixador para mudar rapidamente uma política, que ele correspondente do «Times», julgava nociva.

O embaixador não o mandou expulsar pelo mordomo, porque isso seria insultar o «Times», o que equivale a ofender a City, o que significa injuriar a Inglaterra, mas contentou-se em resmungar monossílabos com os olhos fitos obstinadamente no fogão, que, sendo Verão, estava apagado. Deixou a embaixada, veio para o seu hotel, e começou aquela série de correspondências, que revolveram profundamente a opinião e obrigaram o Governo a demitir o embaixador! Gallenga, agora no seu livro, conta esta curiosa campanha todo enlevado num doce júbilo!

Feliz Gallenga!" [2]

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Notas
[1] – FO 195914, citado em
The Bábi and Bahá'í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, de Moojan Momen, pag. 191
[2] - Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres, Eça de Queirós, Livros do Brasil, Carta de 15 de Agosto de 1877.

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