terça-feira, 7 de setembro de 2004

Exílio em ‘Akká: Reacções (1)

O início do exílio de Bahá'u'lláh em 'Akká em Agosto de 1868 iniciou-se com um período de tempo em que Ele ficou quase incontactável pelo mundo exterior. Primeiramente os crentes desconheciam o Seu destino. Esta situação deu origem a vários rumores; chegou a dizer-se que Ele se teria afogado em Chipre. Mas a chegada dos exilados persas a 'Akká também fez correr uma série de boatos sobre um misterioso e importante prisioneiro que estaria naquela cidade.

Fortaleza de 'Akká

Alguns dos poucos crentes que nesse período estiveram pessoalmente na presença de Bahá'u'lláh, funcionaram como "correio" entre os exilados e o mundo exterior. 'Abdu'l-Bahá enviou uma carta ao Reverendo Leon Rosenberg (um missionário austríaco de origem judaica que trabalhava com judeus em Adrianópolis) descrevendo a chegada a 'Akká e as condições de encarceramento. Rosenberg, por sua vez enviou, em Novembro de 1868, essa carta ao Cônsul Britânico em Adrianópiolis, John Blunt, com a seguinte nota:

Em anexo envio uma carta que recebi do chefe do Babis que está agora no Acre, na Síria.

Tomo a liberdade de lhe solicitar que apresente esta carta a Sua Excelência, o Embaixador Elliot em Constantinopla, cuja poderosa influência solicito, por humanidade e em nome do desafortunado Sheik e seu povo, com o objectivo de induzir o Governo Otomano a aliviar a dureza e até o tratamento cruel a que estão sujeitos pelas autoridades do Acre. Estarei sempre grato a sua Excelência e rezo ao Todo-Poderoso para que o abençoe nos seus esforços.

Lamento profundamente que a doença me impeça de lhe entregar imediatamente cópias destas cartas; além disso, por erro do representante da nossa Comunidade Protestante, os originais - e não as cópias - foram entregues ao Vice-Consul Austríaco. O Sr. Camerloher, não pôde copiá-las a tempo para seguirem no correio, e enviou-as a sua Excelência, o Embaixador Austríaco em Constantinopla, e apenas em 12 de Fevereiro lhe foram devolvidas.[1]

Constantinopla. O embaixador britânico preferiu não interceder a favor de Bahá'u'lláh junto da Porta Sublime.

Blunt enviou esta carta e o anexo para a Embaixada Britânica em Istambul. Nessa cidade, Bahá'u'lláh e os seu companheiros tinham vivido durante cerca de 4 meses; Durante esse breve período de tempo, a embaixada persa espalhou uma série de boatos sobre Bahá'u'lláh e conseguiu criar nos meios diplomáticos alguma desconfiança em relação ao exilados. A resposta do embaixador britânico, Henry Elliot, reflecte essa desconfiança:

Procedi a algumas averiguações relativamente aos Babís persas no Acre, em favor dos quais, e a pedido do Sr. Rosemberg, solicitou a minha intervenção... e tenho garantias que não são tratados com dureza, apesar de não lhes ser permitido espalhar as suas doutrinas para lá dos limites da fortaleza.

Os esforços de proselitismo desta seita entre a população muçulmana e a forte mistura de elementos políticos no seu meio, impede-me de exercer qualquer esforço em seu nome, facto que faria com todo o agrado se eles pudessem ser justamente considerados como sendo perseguidos apenas devido às suas convicções religiosas.

A sua adopção de algumas frases de sentido místico, e de alguns excertos da moralidade cristã, constituem, tanto quanto sei, a sua única pretensão a abordar o protestantismo, facto que parece ser um motivo para promover a sua defesa.
[2]

---------------------
NOTAS
[1] Citado em The Bábi and Bahá'í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, de Moojan Momen, pag. 206
[2] Citado em The Bábi and Bahá'í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, de Moojan Momen, pag. 207

Sem comentários: