domingo, 15 de março de 2009

A crise no Irão

A propósito da forma como a crise económica está a afectar os países produtores de petróleo, Jorge Almeida Fernandes escreve hoje no jornal Público:
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O problema do Irão é diferente do russo. A sua dependência do petróleo é maior. Quarto produtor mundial, as exportações do crude constituem 80 por cento das divisas do país. A gestão do Presidente Mahmoud Ahmadinejad, que prometeu colocar "a receita do petróleo na mesa dos pobres", foi um fiasco. O Irão produz hoje menos 40 por cento do que no tempo do Xá e deixou envelhecer as infra-estruturas. É obrigado, por falta de capacidade de refinação, a importar boa parte da gasolina que consome e está racionada.

Tem as segundas maiores reservas de gás do mundo, a seguir à Rússia, mas só muito parcialmente o explora. Por falta de tecnologia e porque os EUA bloqueiam tanto quanto possível a construção de gasodutos para a exportação. O isolamento que os americanos lhe impuseram após a revolução islâmica e as sanções decorrentes do seu programa nuclear limita sobretudo o investimento estrangeiro e a modernização económica.

Os anos da alta do petróleo permitiram relativizar as dificuldades económicas. Ahmadinejad aumentou fortemente a despesa pública, o que se traduziu numa explosão da inflação. Em 2008, os alimentos subiram 40 por cento e o desemprego estará na casa dos 20, sendo mais alto entre os jovens. O descontentamento popular manifesta-se abertamente.

Ahmadinejad não constituiu uma reserva financeira, antes dilapidou a que recebeu. Segundo a BBC, a diferença de cada dólar no preço do barril de petróleo vale mil milhões de dólares por ano. Com o crude na casa dos 100 dólares, é o maná. Na casa dos 50, é a ruína. O preço mínimo para um equilíbrio ronda os 75 dólares.

O maior problema do Irão, país culto e dinâmico, com uma enorme elite técnica, é a decrepitude da sua economia. A questão de fundo é sempre política. O Irão é uma potência regional, mas submetido a dois imperativos até agora contraditórios: a obsessão de sobrevivência do regime dos mullah e a hostilidade americana.

A oportunidade de romper o círculo não está tanto nas próximas eleições como num eventual diálogo com os EUA.

A crise mundial mostrou que são as economias desenvolvidas da Europa, da América ou da Ásia que, embora duramente fustigadas, melhor resistem e sem riscos políticos. As petroeconomias, e sobretudo as que não investiram na modernização das infra-estruturas energéticas, como a Rússia, o Irão ou a Venezuela de Chávez, estão gravemente enfraquecidas. Esperam que a crise não dure demasiado, para que o petróleo volte a subir e possam recuperar parte do poderio perdido.

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COMENTÁRIO: Percebemos que quanto maior for a crise no Irão, maior será a necessidade do seu regime em desviar as atenções dos verdadeiros problemas do país, apelando à perseguição de inimigos internos imaginários, como acontece com a Comunidade Baha’i daquele país.

1 comentário:

Anónimo disse...

João César das Neves
http://linguagem-virtual.blogspot.com/2009/03/joao-cesar-das-neves.html