sexta-feira, 9 de julho de 2010

Porque é que os Bahá'ís comemoram o martírio do Báb

Artigo de Brent Poirier publicado hoje no Huffington Post.
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Numa zona rural de New Hampshire, onde vivo com a minha esposa, há uma igreja Congregacional, que remonta ao século XIX. Que relação pode haver entre esta encantadora igreja da New England, com o seu espírito acolhedor e convidativo, e o martírio do Báb na Pérsia há 160 anos, que hoje Baha'is comemoram?

O ministério da Báb - o primeiro dos dois fundadores da Fé Bahá'í - começou em 1844 na Pérsia (actual Irão). "Báb" é um título que significa "porta" ou "portão" em árabe. Nesse ano, o seu primeiro acto foi revelar os significados mais profundos da história de José, uma narrativa que se encontra no livro do Génesis e no Alcorão. José é uma figura profética que cruza várias linhas, sendo reverenciada por judeus, cristãos, muçulmanos e bahá'ís.

Mesmo se considerado como um acontecimento histórico, a história de José e os seus irmãos é uma das histórias mais comoventes na literatura mundial - uma história de superioridade espiritual e da inveja que gerou; de traição e de perdão; de reconciliação e de paz.

Resumidamente, os irmãos de José pediram ao pai que lhes confiasse José, prometendo cuidar dele. Invejosos do seu favor aos olhos do pai, eles colocaram-no num poço e, posteriormente, venderam-no como escravo. Anos mais tarde, durante um período de fome, eles foram ao Egipto para comprar comida. Durante esses anos José sofreu, mas acabou por ascender a uma posição de destaque sendo responsável pelos armazéns de alimentos. Os irmãos entraram na presença de José, mas não o reconheceram. José ofereceu-lhes pão; eles foram novamente à sua presença e ele deu-se a conhecer. Por fim, eles reconheceram-no. Feliz por se reunir com os seus irmãos, ele disse-lhes para não se zangarem; abraçou-os e chorou.

Gostaria de partilhar o meu entendimento pessoal sobre o significado desta história. "Com efeito, na história de José e seus irmãos há mensagens para todos os que buscam a verdade" (Alcorão 12:8).

Eu entendo essa história como simbolizando o maior de todos os acontecimento na Terra: a sucessão de mensageiros, a quem Bahá'ís chamam Manifestantes de Deus, que vem à terra ao longo dos tempos para levar a Palavra de Deus renovada. A promessa dos irmãos de José ao seu pai para cuidar de José simboliza a Grande Aliança entre Deus e a humanidade - a promessa de Deus de enviar esses guias espirituais, e a promessa da humanidade a Deus para tratar dignamente os Seus Manifestantes, e para ouvir os seus conselhos. E embora a humanidade aguarde ansiosamente o seu aparecimento, quando os Manifestações de Deus surgem, a humanidade não os reconhece, rejeita-os, e persegue-os. Por fim, eles são reconhecidos, e assumem o seu lugar de proeminência.

O ponto central é o reconhecimento: Na história, os irmãos não reconhecem as características físicas de José, mas o significado é muito mais profundo. A humanidade não reconhecer facilmente os seus maiores benfeitores - não sem primeiro sofrer devido à falta de orientação. Os mesmos elementos encontram-se na história do fracasso dos discípulos em reconhecer Jesus Cristo, nas narrativas pós-ressurreição, como na estrada de Emaús, no último capítulo do Evangelho de Lucas.

Há um outro significado, e esta é especificamente uma interpretação Baha'i. O Bab anunciou a vinda do "Verdadeiro José", outro Manifestante de Deus, Bahá'u'lláh, que em breve Lhe iria suceder e sofrer nas mãos do Seu irmão. Detido numa masmorra em Teerão, conhecida como o Buraco Negro, Bahá'u'lláh, o Fundador da Fé Bahá'í, tentou "despertar o mundo e unir todos os que habitam na terra". Na verdade, as escrituras bahá'ís vêem isso como a missão de cada Manifestante Divino. Bahá'u'lláh escreveu: "Os Mensageiros de Deus foram enviados, e seus livros foram revelados, com o objectivo de promover o conhecimento de Deus, e de promover a unidade e a comunhão entre os homens."

A Pérsia naqueles dias estava tomada pelo zelo milenarista - e isto leva-me de volta à igreja na nossa comunidade. O pastor dessa igreja deixou o púlpito em 1844 para se juntar aos Milleritas, um grupo de antevia o regresso de Cristo vindo dos céus em 1843 ou 1844, com base na profecia de Daniel de 2.300 dias. O ano de 1844 coincidiu com as profecias de 1.260 dias encontrado no livro do Apocalipse, e o ano de 1260 no calendário islâmico, desconhecido para eles. As profecias judaicas, cristãs e muçulmanas coincidiam.

Em 1850, os principais seguidores do Báb, tinham sido todos mortos, e o próprio Báb estava preso. Em 9 de Julho desse ano, em circunstâncias notáveis narradas em detalhe aqui, o Báb foi condenado à morte por fuzilamento.

Até ao fim, o Báb falou com coragem e mostrou uma grande ternura. Ele escrevera: "O caminho para a orientação é de amor e compaixão, não de força e coerção". Vou reflectir sobre estes aspectos, neste dia solene: Coragem em afirmar a verdade de Deus a um outro, tal como o vemos, e gentileza em dar a plenitude dos nossos corações uns aos outros, mesmo quando somos mal compreendidos. Podemos procurar o significado mais profundo de outras Escrituras, e ver a sua base em comum?

José abraçou os seus irmãos e chorou. Também deveremos nós vaguear por terras distantes durante mais anos de conflito antes de nos abraçarmos e chorarmos? Ou podemos seguir o conselho dos Livros Sagrados, e o exemplo de José, e esforçamo-nos, segundo as palavras de Bahá'u'lláh, para "revivificar o mundo, enobrecer a sua vida, e regenerar os seus povos"?

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