sábado, 28 de outubro de 2017

4 Passos para entender os Mistérios da Profecia

Por Christopher Buck.


Ele disse: "Os seus olhos eram como chama de fogo", e "os pés semelhantes ao latão reluzente", e "da sua boca saía uma aguda espada". [ver Apocalipse 1: 14; 2:18; 19:15] Como podem estas palavras ser interpretadas literalmente? Se alguém aparecesse com todos estes sinais, certamente não seria humano. E como poderia qualquer alma procurar a sua companhia? Não, se aparecesse numa cidade, até os habitantes da cidade vizinha fugiriam dele, e nenhuma alma ousaria aproximar-se dele! No entanto, se reflectires sobre estas frases, descobrirás que elas têm uma eloquência e clareza insuperáveis que atingem os cumes sublimes da expressão e o epítome da sabedoria. Parece-Me que é a partir delas que os sóis da eloquência apareceram e as estrelas de clareza surgiram e brilharam resplandecentes. (Bahá’u’lláh, Gems of Divine Mysteries, pp. 52-53)
Sempre que nos deparamos com um texto das Escrituras, temos que tomar uma decisão - o texto é literal ou simbólico, metafórico e figurativo? Essa decisão inicial faz toda a diferença.

Este ensaio apresenta uma série de etapas, a que os estudiosos chamariam de abordagem ou técnica hermenêutica, para entender a profecia:
1. Se impossível, então não é literal.
2. Se não é literal, então é figurado.
3. Se é figurado, então é simbólico.
4. Se é simbólico, então é espiritual e social.
Esses métodos não cobrem todas as possibilidades proféticas, mas constituem uma ferramenta interpretativa útil. Vamos tentar um primeiro exemplo da compreensão espiritual da profecia, olhando para o sermão de Pedro em Pentecostes no livro dos Actos dos Apóstolos 2: 14-21:
Pedro, porém, pondo-se em pé, com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Varões judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
E nos últimos dias acontecerá, diz Deus,
que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne;
e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão,
os vossos mancebos terão visões
e os vossos velhos sonharão sonhos;
E também do meu Espírito derramarei
sobre os meus servos e minhas servas,
naqueles dias, e profetizarão;
E farei aparecer prodígios em cima, no céu,
e sinais em baixo, na terra,
sangue, fogo e vapor de fumo.
O sol se converterá em trevas,
e a lua em sangue,
antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor;
E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Aqui, Pedro cita Joel 2: 28-32, não como uma profecia a ser cumprida no futuro, mas como cumprida no presente no Dia de Pentecostes, o evento que representa o nascimento da Igreja Cristã.

Nenhuma história contemporânea comprovou a ocorrência física destes eventos celestiais - isto é, que o sol ficou escuro e a lua tornou-se carmesim - eventos que evidentemente não ocorreram, apesar de Pedro ter dito o contrário. Este facto, por si só, força-nos a concluir que Pedro entendeu a profecia de Joel como um evento espiritual, e não como literal.

Vamos agora olhar para a profecia que Bahá'u'lláh comentou acima: Apocalipse 1: 14; 2:18; 19:15. Quanto ao 1º passo, Bahá'u'lláh exclui uma interpretação literal com esse argumento convincente:
Como podem estas palavras ser interpretadas literalmente? Se alguém aparecesse com todos estes sinais, certamente não seria humano. E como poderia qualquer alma procurar a sua companhia? Não, se aparecesse numa cidade, até os habitantes da cidade vizinha fugiriam dele, e nenhuma alma ousaria aproximar-se dele! (Gems of Divine Mysteries, p. 52)
O 2º passo pede-nos que identifiquemos a natureza da figura de estilo em si. Bahá'u'lláh descreve "Os seus olhos eram como chama de fogo" desta maneira:
Sabe, pois, que Ele, que proferiu estas palavras nos reinos da glória, pretendeu descrever os atributos d’Aquele que virá, em termos tão velados e enigmáticos que escapam à compreensão do povo do erro. (Gems of Divine Mysteries, p. 53)
Estes "termos velados e enigmáticos" são, obviamente, figurados, e não literais. Além disso, essa figura de estilo é uma comparação. Simplesmente isto!

Para o 3º passo, quando tentamos identificar as qualidades transmitidas pela linguagem figurada, poderíamos simplesmente perguntar: "Quais qualidades que podem ser representadas pelas «chamas de fogo»?" Aqui, Bahá'u'lláh faz exactamente isso:
Assim, quando Ele disse: "Os seus olhos eram como chama de fogo", Ele aludiu apenas à perspicácia da visão e à acuidade da visão do Prometido, que com os Seus olhos queima todo véu e capa, dá a conhecer os mistérios eternos no mundo contingente, e distingue os rostos que estão obscurecidos com a poeira do inferno daqueles que brilham com a luz do paraíso.

Se os Seus olhos não fossem feitos com o fogo ardente de Deus, como poderia Ele reduzir a cinzas todo o véu e a consumir tudo o que o povo possui? Como poderia Ele contemplar os sinais de Deus no Reino dos Seus nomes e no mundo da criação? Como poderia Ele ver todas as coisas com os olhos de Deus que tudo percebem?... Pois, de facto, que fogo é mais feroz do que esta chama que brilhou no Sinai dos Seus olhos, com a qual Ele consumiu tudo o que encobriu os povos do mundo? (Gems of Divine Mysteries, p. 54)
Quanto ao 4º passo, quando tentamos determinar o evento espiritual a que a profecia alude, Bahá'u'lláh sugere, mas não divulga abertamente, o evento espiritual - o Seu próprio advento, cumprindo estas mesmas profecias do Livro do Apocalipse.

Na verdade, sabemos que esta profecia não pode referir-se literalmente a Jesus Cristo, pelo menos em nome, pois em Apocalipse 19:12 lemos:
E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo;
Este é o "novo nome" anteriormente referido em Apocalipse 2:17 e 3:12:
Ao que vencer, darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.

A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.
Se, como a maioria de nós, você já se esforçou para entender os mistérios da profecia, esta técnica pode ajudar. No próximo artigo, analisaremos alguns conceitos básicos sobre linguagem figurada que podem ajudar ainda mais.

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Texto original: 4 Steps for Understanding the Mysteries of Prophecy (www.bahaiteachings.org)

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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

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