sábado, 30 de dezembro de 2017

A Evolução programou-nos para acreditar em Deus?



Será que a evolução programou os seres humanos para acreditar em Deus?

No debate Intelligence Squared, o físico Lawrence Krauss - que defendia a ideia de que a ciência refuta Deus - afirmou o seguinte:

Os seres humanos foram claramente programados pela evolução para atribuir intencionalidade ao mundo ao seu redor. Significado e o propósito foram infundidos em todos os eventos do dia-a-dia para dar sentido a um mundo perigoso, difícil e indiferente; e assim desenvolvemos rituais a propósito do sol, da lua, dos planetas, do vento, da terra, dos oceanos, em todas as sociedades. O desenvolvimento da nossa compreensão física afastou-nos lentamente desses muitos deuses... A ciência ensinou-nos que em vez de seres caprichosos, há uma ordem na natureza, e essa ordem não parece incluir uma divindade.

Como qualquer pessoa que já trabalhou com computadores sabe, a programação não é feita de forma aleatória - é um acto que exige um objectivo. Krauss e o ponto de vista ateísta que ele representa pedem-nos que acreditemos que um processo sem inteligência racional nem objectivo, de alguma forma, impregna estas qualidades numa criatura entre os milhões que existem e existiram no planeta. Ele apresenta essa ideia em termos passivos ("significado e o propósito foram infundidos"), de modo que parece não haver infusor activo, mas a razão e a lógica determinam que se o propósito fosse infundido, alguém ou alguma coisa deve ter feito a infusão inicial.

O facto dos seres humanos serem as únicas criaturas que atribuem um significado à vida não pode ser explicado apenas afirmando que fomos programados sem um programador, ou que aprendemos a atribuir significados sem que alguém nos tenha ensinado.

‘Abdu’l-Bahá referiu sobre este mesmo assunto durante um encontro com um grupo de pensadores livres em São Francisco, em 1912:

Se se afirma que a realidade intelectual do homem pertence ao mundo da natureza - que é uma parte do todo - perguntamos se é possível que a parte contenha virtudes que o todo não possui? Por exemplo, será possível que a gota contenha virtudes das quais todo o corpo do mar está privado?... Será possível que a extraordinária faculdade da razão no homem tenha carácter e qualidade animal? Por outro lado, é evidente e é verdade, embora muito espantoso, que no homem está presente esta força ou faculdade supranatural que descobre as realidades das coisas e que possui o poder da idealização ou da intelecção. É capaz de descobrir as leis científicas; a ciência que conhecemos não é uma realidade tangível. A ciência existe na mente do homem como uma realidade ideal. A própria mente, a própria razão, é uma realidade ideal e não tangível. (The Promulgation of UniversalPeace, p. 451)

Na verdade, eu gosto da referência de Krauss ao "desenvolvimento da compreensão física ". A distinção é importante, porque leva-nos a questionar uma suposição chave de Krauss: que uma compreensão puramente física do universo é a única compreensão possível ou válida.

O facto de estarmos agora envolvidos numa conversa sobre realidades não-físicas parece debilitar essa suposição. Esta conversa é onde a maioria de nós vive. Gastamos mais tempo considerando coisas intangíveis do que a fazer as nossas necessidades físicas mais críticas, como por exemplo, alimentarmo-nos. Para a maioria das pessoas, estas coisas tornaram-se secundárias que servem para manter, essencialmente, pensamentos sobre coisas não-tangíveis.

Eu passo a maior parte do tempo a contar histórias, a pensar e a escrever sobre coisas não tangíveis. Também muitas outras pessoas, incluindo Lawrence Krauss e o seu parceiro teísta no debate Intelligence Squared, o físico Ian Hutchinson. Ironicamente, todo o conjunto de literatura do Novo Ateísmo, escrito por pessoas como Richard Dawkins, Sam Harris e o inimitável Christopher Hitchens, é sobre coisas intangíveis, do princípio ao fim - e, no entanto, eles negam a existência de qualquer intangível supremo.

Estes novos ateus contam histórias cujo propósito é dizer-nos que não temos nenhum propósito - um enigma sobre o qual gostaria de escrever outro texto. Enquanto isso, medite por um momento sobre este excerto dos ensinamentos Bahá'ís, que indica que nós, humanos, temos um propósito maior e mais profundo do que sabemos:

Se o homem não existisse, o universo não teria resultado, pois o propósito da existência é a revelação das perfeições divinas. (‘Abdu’lBahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 227)

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

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