Por Maya Bohnhoff.
Será que a
evolução programou os seres humanos para acreditar em Deus?
No debate
Intelligence Squared, o físico Lawrence
Krauss - que defendia a ideia de que a ciência refuta Deus - afirmou o
seguinte:
Os seres humanos foram claramente
programados pela evolução para atribuir intencionalidade ao mundo ao seu redor.
Significado
e o propósito foram infundidos em todos os eventos do dia-a-dia para
dar sentido a um mundo perigoso, difícil e indiferente; e assim desenvolvemos
rituais a propósito do sol, da lua, dos planetas, do vento, da terra, dos
oceanos, em todas as sociedades. O desenvolvimento da nossa compreensão física
afastou-nos lentamente desses muitos deuses... A ciência ensinou-nos que em vez
de seres caprichosos, há uma ordem na natureza, e essa ordem não parece incluir
uma divindade.
Como
qualquer pessoa que já trabalhou com computadores sabe, a programação não é
feita de forma aleatória - é um acto que exige um objectivo. Krauss e o ponto
de vista ateísta que ele representa pedem-nos que acreditemos que um processo
sem inteligência racional nem objectivo, de alguma forma, impregna estas
qualidades numa criatura entre os milhões que existem e existiram no planeta.
Ele apresenta essa ideia em termos passivos ("significado e o propósito
foram infundidos"), de modo que parece não haver infusor activo, mas a
razão e a lógica determinam que se o propósito fosse infundido, alguém ou alguma
coisa deve ter feito a infusão inicial.
O facto dos
seres humanos serem as únicas criaturas que atribuem um significado à vida não
pode ser explicado apenas afirmando que fomos programados sem um programador,
ou que aprendemos a atribuir significados sem que alguém nos tenha ensinado.
‘Abdu’l-Bahá
referiu sobre este mesmo assunto durante um encontro com um grupo de pensadores
livres em São Francisco, em 1912:
Se se afirma que a realidade
intelectual do homem pertence ao mundo da natureza - que é uma parte do todo -
perguntamos se é possível que a parte contenha virtudes que o todo não possui?
Por exemplo, será possível que a gota contenha virtudes das quais todo o corpo
do mar está privado?... Será possível que a extraordinária faculdade da razão no
homem tenha carácter e qualidade animal? Por outro lado, é evidente e é
verdade, embora muito espantoso, que no homem está presente esta força ou
faculdade supranatural que descobre as realidades das coisas e que possui o
poder da idealização ou da intelecção. É capaz de descobrir as leis
científicas; a ciência que conhecemos não é uma realidade tangível. A ciência
existe na mente do homem como uma realidade ideal. A própria mente, a própria
razão, é uma realidade ideal e não tangível. (The Promulgation of UniversalPeace, p. 451)
Na verdade,
eu gosto da referência de Krauss ao "desenvolvimento da compreensão física
". A distinção é importante, porque leva-nos a questionar uma suposição
chave de Krauss: que uma compreensão puramente física do universo é a única
compreensão possível ou válida.
O facto de
estarmos agora envolvidos numa conversa sobre realidades não-físicas parece
debilitar essa suposição. Esta conversa é onde a maioria de nós vive. Gastamos
mais tempo considerando coisas intangíveis do que a fazer as nossas
necessidades físicas mais críticas, como por exemplo, alimentarmo-nos. Para a
maioria das pessoas, estas coisas tornaram-se secundárias que servem para
manter, essencialmente, pensamentos sobre coisas não-tangíveis.
Eu passo a
maior parte do tempo a contar histórias, a pensar e a escrever sobre coisas não
tangíveis. Também muitas outras pessoas, incluindo Lawrence Krauss e o seu
parceiro teísta no debate Intelligence
Squared, o físico Ian Hutchinson. Ironicamente, todo o conjunto de
literatura do Novo Ateísmo, escrito por pessoas como Richard Dawkins, Sam
Harris e o inimitável Christopher Hitchens, é sobre coisas intangíveis, do
princípio ao fim - e, no entanto, eles negam a existência de qualquer
intangível supremo.
Estes novos
ateus contam histórias cujo propósito é dizer-nos que não temos nenhum
propósito - um enigma sobre o qual gostaria de escrever outro texto. Enquanto
isso, medite por um momento sobre este excerto dos ensinamentos Bahá'ís, que
indica que nós, humanos, temos um propósito maior e mais profundo do que
sabemos:
Se o homem não existisse, o universo
não teria resultado, pois o propósito da existência é a revelação das
perfeições divinas. (‘Abdu’l‑Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 227)
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Texto original: Has EvolutionProgrammed Us to Believe in God? (www.bahaiteachings.org)
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Maya
Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção
científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora
(juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View
Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na
www.commongroundgroup.net.
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