quarta-feira, 5 de abril de 2006

Relativismo

A minha colaboração de hoje na Terra da Alegria volta a ser um texto de Moojan Momen.
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Além do teísmo e do monismo, existe uma outra posição que pode ser considerada como situada entre as duas. Esta abordagem é chamada relativismo. Resumidamente, assume a posição de que a Realidade Última é incognoscível, está além da capacidade humana para a conceptualizar. O conhecimento (seja do mundo físico ou metafísico) é sempre o conhecimento de uma perspectiva particular, e portanto é relativo a esse ponto de vista. Não é possível proferir nada que seja uma verdade absoluta. Todos os conceitos são meras perspectivas da verdade, sendo cada uma correcta do seu próprio ponto de vista. Isto representa um relativismo cognitivo.

Este modo de pensar surgiu na escola Madhyamika que foi fundada por Nagarjuna, na Índia, provavelmente no séc. II EC. Apesar de não ser uma grande corrente do Budismo, é de grande importância, pois muito do Budismo Mahayana tem a sua base filosófica nos ensinamentos desta escola. Este modo de pensar também surge na Fé Bahá'í como forma de explicar a unidade subjacente à diversidade de religiões no mundo.

Tal como elementos de pensamento teísta e monista ocorrem universalmente, elementos de pensamento relativista encontram-se entre escritores de outras religiões. Além do pensamento de Nagarjuna no Budismo descrito anteriormente, o conceito do "Deus criado nas fés" de Ibn al'Arabi, o místico muçulmano, tem em si uma implicação de relativismo. Inb al'Arabi sustentou que cada pessoa tem uma certa aptidão e capacidade para “ver” Deus e que Deus lhe surge de acordo com essa capacidade. Numa escala maior, ele viu as religiões históricas como caminhos limitados e particulares para adorar o Absoluto. Também existem semelhanças entre o relativismo Bahá'í e a posição apresentada pelo teólogo cristão John Hick. Ele sustenta que as diferenças nas descrições do Absoluto/Deus nas várias religiões são devidas às diferentes influências culturais e diferentes modos de cognição.

A perspectiva relativista, obviamente, aceita tanto o monismo como o teísmo. Contém uma explicação para o facto de, conforme descrito anteriormente, cada religião ter expressões teístas e monistas. O relativismo sustenta que as diferentes expressões de teísmo e monismo são devidas aos diferentes tipos de percepção mental da realidade. Assim, claramente, se uma religião pretende ter um apelo universal e tornar-se uma religião mundial, deve satisfazer estes diferentes tipos de mentalidade ao incluir elementos teístas e monistas.

(...) O relativismo bahá'í aceita, como se podia esperar, pontos de vista teísta e não-teísta relativos ao sofrimento, ao mal e à salvação. A salvação, ou a libertação, trazida pelos fundadores das religiões mundiais é vista, da perspectiva bahá'í, como tendo um efeito duplo. Ao nível pessoal liberta os seres humanos de um estado de ignorância; e conduz a humanidade a uma salvação social (paz e unidade). A segunda facilita o esforço dos seres humanos pela primeira, e vice-versa. A salvação, ou a libertação, é vista mais como um processo do que como um estado em que se está ou não está. A condição que ocorre após a morte é impossível de ser descrita. Pode apenas ser parcialmente apreciada recorrendo a analogias, tais como o mundo do embrião relativamente ao nosso mundo (uma analogia da nossa condição de preparação para o que acontece após a morte, mas da qual somos ignorantes).

Em contraste com as religiões teístas e monistas, a Fé Bahá'í tem pouco rituais fixos. Isto permite-lhe uma grande flexibilidade para adoptar práticas religiosas que estejam de acordo com as preferências do crente individual. Tanto a oração como a meditação são obrigações diárias pessoais.

No que toca a conceitos de tempo e espaço, o ponto de vista relativista é que ambos são assuntos em que “divergir devido às divergências de opinião nos pensamentos e opiniões dos homens”. Na perspectiva bahá’í, os ciclos de progresso e declínio afectam todos os aspectos da vida humana, e a religião não é excepção. Mas apesar de tudo, existe um progresso e evolução generalizadas na vida social humana. Porém, quando a religião entra em declínio e os seus ensinamentos já não são adequados à condição de desenvolvimento da sociedade humana, surge uma nova religião. O conceito bahá'í apresenta, portanto, elementos de progresso linear e cíclicos.

6 comentários:

João Moutinho disse...

O Moojan Momen é um brilhante pensador, até porque a sua linha de pensamento se aproxima muito da minha.
Quanto ao resto, vamos se o SLB dá uma coça à nação que queria ser independente e não o é e ainda não percebeu o que quer ser.

Anónimo disse...

João Moutinho...gostei dessa do Moojan Momen ser um brilhante pensador por a sua linha de pensamento se aproximar da sua :-)
Depois dessa já não me surpreende a do SLB dar uma coça ao Barça:-)

Anónimo disse...

Pois, Moutinho, acho que meteste o pé na argola, não era bem aquilo que querias dizer pois não? ;-)

Quanto ao artigo do Marco, epá, muito interessante estas coisas que tu vais cavar aqui e ali.
Agora já percebo porque eu me sentia mais monista, embora posteriormente tu tenhas dito que a Fé Bahá'í é mais teista do que monista. É que afinal a Fé Bahá'í, nem é uma coisa nem outra, mas essencialmente relativista.

Isto faz todo o sentido, e no fundo é uma evolução analoga à evolução cientifica. As teorias deterministas do passado, primárias e limitadas, estão a dar lugar às teorias relativistas e quânticas, em direcção a uma concepção mais global e que tem em conta quer o lado material assim como o etérico (não visivel) da existência.

Acho que não é absurdo dizer que o cristianismo e/ou o islamismo está para a fisíca newtoniana, assim como a Fé bahá'í está para a fisica quântica... apenas uma analogia!

Anónimo disse...

O João Moutinho é uma luz que ilumina o universo. Mas é um universo muito especial, habitado só por ele... :-)

Digam-me uma coisa. Não foi o Bento XVI que condenou o relativismo? Será que ele se referia ao relativismo religioso ou ao relativismo cultural?

João Moutinho disse...

O Koeman também falou do relativismo (no caso do penalti) e da Luz (onde não foi assinalado).

Anónimo disse...

GH, aqui entre nós, o Moutinho andou a fumar aquilo outra vez... mas desta vez a piada foi mesmo gira... LOL