sexta-feira, 9 de março de 2007

Epicteto



«De todas as coisas, umas dependem de nós e outras não. Aquelas que dependem de nós são as nossas opiniões, os nossos movimentos, os nossos desejos, as nossas inclinações, os nossos ódios. Numa palavra, todas as nossas acções. Aquelas que não dependem de nós são o corpo, os bens materiais, a reputação, as honras. Numa palavra, tudo aquilo que não dependa das nossas acções.

As que dependem de nós são livres pela sua própria natureza, nada pode impedi-las ou impor-lhes um qualquer entrave. Aquelas que não dependem de nós permanecem frágeis, escravas, dependentes, sujeitas a mil obstáculos e inteiramente estranhas.

Lembra-te, pois, que se tomares como livres as coisas que são por natureza escravas, e como próprio de ti aquilo que dependa de outro, apenas encontrarás barreiras, sentir-te-ás permanentemente aflito, perturbado, e queixar-te-ás a todo o instante dos deuses e dos homens.
Ao invés, se acreditares ser teu apenas aquilo que é próprio da tua natureza, e estranho aquilo que pertença a outro, jamais te poderá alguém forçar a fazer o que não desejas, ou impedir-te de fazeres o que pretendas. Desta forma, não terás razões de queixa de ninguém, não acusarás quem quer que seja, nem mesmo que pela mais pequena coisa, pessoa alguma te fará mal, e não terás inimigos.»

Epicteto, 55–135 (Manual)

(Tradução de Rui Bebiano)

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