Ao longo dos últimos meses escutei um desabafo comum a vários amigos e familiares católicos : "Sempre esperei que este tipo de fraudes acontecesse noutros bancos. O BCP seria sempre o último banco onde isso poderia acontecer. Afinal era suposto que aquelas pessoas da Opus Dei fossem mais integras e responsáveis do que os outros banqueiros..."
Hoje, na sua crónica semanal no DN, João César das Neves tenta fazer passar a ideia de que a Opus nada tem a ver com o BCP: "Afinal, não será toda esta confusão de poderes escondidos um enorme disparate, tendo tido o BCP apenas uma zanga habitual entre administração e accionistas?"
Num texto claramente defensivo, o professor da Católica para fazer valer o seu ponto de vista omite coisas tão básicas como o facto de Paulo Teixeira Pinto, o delfim de Jardim Gonçalves no BCP, não só ter abandonado aquela instituição financeira, mas também ter saído da Obra.
A verdade é que o BCP estava demasiado identificado com a Opus Dei; vários dos seus administradores eram membros da Obra. E, se em qualquer jornal, ou revista, com uma secção de economia podemos encontrar vários exemplos de actividades do BCP que se assemelham a verdadeiras fraudes, então é inevitável que a imagem da Opus Dei também fique associada a esses actos.
Confesso que esperava que um professor universitário como João César das Neves ao abordar este assunto tivesse uma argumentação mais sólida. Fará algum sentido tentar fazer passar a ideia de que quem ataca a Opus ataca também a Igreja e todo o Cristianismo? Fará algum sentido descrever a Obra como se se tratasse de mais um cordeiro pascal prestes a ser imolado pela raiva anticristã que grassa pelo mundo?
É óbvio que os administradores da Opus Dei que lideram o BCP em nada se assemelham a cordeiros pascais. Mas alguns milhares de clientes, que um dia foram convidados a investir em aumentos de capital do banco e posteriormente viram as suas economias diluírem-se, esses sim, são os verdadeiros cordeiros pascais que João César das Neves poderia ter recordado.
6 comentários:
Caro amigo Marco,
OPUS DEI no BCP? Após ler a crónica até fiquei com a impressão que afinal essa relação era tão verídica como a existência do Ieti ou do Lobisomem. Só falta aparecerem as fotos desfocadas em sites com contornos dúbios e dedicados ao folclore e mitologia urbana, onde não faltam são relatos de experiências efectuadas por ET’s em seres raptados de seus veículos em plena auto-estrada do Norte. Começo a ter “flashback’s” da série X-Files, essa mítica série sobre o fantástico.
De facto não poderia estar mais de acordo contigo, e quem lembra os cordeiros? Serão esses pequenos investidores considerados pelo cronista como vitimas, avisadas, de um sistema financeiro perfeitamente legítimo sujeito a perdas e ganhos aleatórios?
A realidade é que ao ler a crónica, creio que pessoas como eu irão ficar de pé atrás sobre o seu conteúdo. Irá aguçar a curiosidade pois creio que em certas situações o silêncio é de ouro, neste caso teria sido preferível.
Todos nós sabemos que as instituições bancárias têm apenas um propósito: ganhar ainda MAIS dinheiro. Por isso não é de todo de estranhar que em situações destas, onde se luta por muito dinheiro, poder e influência se tenham cisões e uns grupos de influência e poder perdem e outros ganham. Não significa, que conforme referido “(...) Opus Dei anda nas bocas do mundo. Não bastava a fama antiga de manipulação, agora perdeu um banco, que é negligência de monta. Qual será o problema do Opus Dei? (...)” Eles não têm nenhum problema, nem nada está de errado, agora ninguém pode no mundo actual de mudança, pensar que se mantém para sempre no controlo e no comando. Ou então será que devamos concluir que está a Obra a perder o “peso” na estrutura da sociedade actual? Uma questão que deixo.
Não vejo onde é que está a surpresa.
Antes de ser economista, João César das Neves é um católico e é o próprio quem o manifesta. Foi ele quem em tempos disse que a sua opinião é a da Igreja, é ele quem frequentemente vitimiza os católicos face a qualquer coisa que ganhe visibilidade e não vá de encontro à ortodoxia do Vaticano, são dele as crónicas onde se anuncia o valor último da virgindade, do sexo apenas procriativo e dentro do casamento, da ausência de valores, do holocausto do aborto, da homossexualidade como peste ou o mesmo que pedofilia e da mulher como tendo um modelo moderno numa virgem que é mãe sem nunca deixar de ser virgem. É dele, enfim, a opinião de que sexo com preservativo é em grau de banalidade o mesmo que comer um pastel de nata.
É de espantar que uma alma tão fiél como João César das Neves se apresse a lavar a imagem da Opus Dei e a vitimizar os católicos? É apenas e só o pão nosso de cada dia das suas crónicas.
Alfredo,
Ganhar dinheiro não é pecado; mesmo que seja uma soma astronómica. Mas tem de haver ética na forma como se ganha esse dinheiro. E cada vez vão surgindo mais evidências de que a ética não abundava na administração do BCP. É verdade que este episódio afecta a Opus; mas este episódio só por si não será suficiente para avaliar a evolução da sua influência.
Heli,
Eu penso que a ética não está directamente relacionada com crenças pessoais. Uma pessoa pode acreditar nos mais nobres ideais, e no seu dia-a-dia ser um patife. E outra pode acreditar nas maiores baboseiras, e ter um comportamento irrepreensível.
O Prof. João César das Neves tem convicções muito diferentes das minhas. Mas nem por isso eu alguma vez fiz um juízo ético a seu respeito. Com esta crónica, ele tem uma atitude ética muito estranha; Eu esperava mesmo que ele defendesse os mais fracos, os que mais sofreram com aquela “zanga habitual entre administração e accionistas” e com as práticas de gestão de umas pessoas da Opus Dei que lideravam o BCP. Surpreendentemente, ele sugere que nada daquilo teve a ver com a Obra.
Marco,
Não sendo a Igreja Católica o mesmo que os mais fracos - por muito trabalho que a primeira possa fazer em prol dos segundos - e sendo João César das Neves um homem da Igreja, o mais certo é que ele irá defendê-la quando tiver que escolher entre ela e os mais fracos. Se o BCP se associou à Opus Dei e esta está associada à Igreja Católica, a imagem do banco é, em certa medida, a da Igreja. João César das Neves, como tal, defenderá a Santa Sé tentando distanciar a Obra do BCP e se preciso for à custa dos mais fracos.
Poder-se-ia perguntar, em jeito de lenda do Graal, quem serve o sr. Neves, se a sua consciência cristã, se a instituição católica. A resposta está no ele em tempos ter dito que a sua opinião é a da Igreja e isso é notório em quase todas assuas crónicas, esta última incluida.
Pois é, quando há outros "valores" que se (a)levantam...
Happy Naw Ruz..
May
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