A propósito dos recentes ataques terroristas em Mumbai, tenho de partilhar convosco mais este pequeno excerto do livro de Fareed Zakaria, O Mundo Pós-Americano:
O carácter imediato das imagens e a intensidade das notícias num ciclo de vinte e quatro horas combinam-se para produzir exageros constantes. Todas as alterações climáticas são «a tempestade do século». Cada bomba que explode aparece nas NOTÍCIAS DE ÚLTIMA HORA. É difícil relativizar tudo isto porque a revolução na informação é muito recente. Não tivemos imagens diárias dos cerca de 2 milhões de pessoas que morreram nos campos do Cambodja na década de 1970 ou do milhão de pessoas que pereceram na guerra Irão-Iraque na década de 1980. Nem sequer tivemos imagens da guerra no Congo na década de 1990, na qual morreram milhões de pessoas. Mas agora vemos quase diariamente filmagens ao vivo dos efeitos de bombas improvisadas, de carro armadilhados ou de mísseis - acontecimentos trágicos, é verdade, mas que a maior parte das vezes não causam mais de dez vítimas. O carácter aleatório da violência terrorista, o facto de o alvo serem civis e a facilidade com que as sociedades modernas são penetradas por este tipo de violência aumentam a nossa preocupação. «Podia ter sido eu», dizem as pessoas depois de um ataque terrorista.Não será caso para pedir um pouco mais de responsabilidade aos media? Afinal que qualidade tem um meio de comunicação social que corre desesperadamente atrás do imediatismo da notícia e esquece aquilo que verdadeiramente é notícia?
Parece um mundo muito perigoso. Mas não é. A probabilidade de morrermos em consequência da violência organizada é baixa e está a diminuir. Os dados revelam que a tendência geral se afasta da das guerras entre grandes países, o tipo de conflito que causa de facto grande quantidade de vítimas. (p. 17-18)
2 comentários:
Mas os factos acontecem. Uns terroristas entraram por uns hoteis e mataram a tiro de um modo premeditado pessoas baseado em preconceitos pseudo-religiosos e pseudo-politicos. Isto e um facto, se noutros tempos nao acediamos as noticias tao rapidamente isso nao quer dizer nada, nem faz da comunicacao social os maus da fita. Afinal nao foram os jornalistas que mataram pessoas a sangue frio.
Ps - O dialogo "inter-cultural" tambem nao vai substituir a comunicacao social.
Anónimo,
Um grupo de homens armados (podemos chamar-lhes terroristas ou guerrilheiros) entram por uma aldeia e matam a tiro de um modo premeditado pessoas baseado em preconceitos pseudo-étnicos e pseudo-politicos.
Aconteceu - e acontece nos nossos dias - com tanta regularidade no Congo, que se estima que o número de mortos atinja os 5 milhões. Isto é um facto apesar da comunicação social praticamente o ignorar.
Porque é que um acontecimento merece destaque e outro não? Só porque num caso atacaram uns hotéis de luxo frequentados por ocidentais e noutro foi atacada uma aldeia cuja existência esquecida em África?
Já agora: O Zakaria não sugere que são os jornalistas que matam. E não percebi a que propósito vem essa do diálogo "inter-cultural" poder substituir a comunicação social.
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