terça-feira, 24 de março de 2009

Fareed Zakaria: O Mundo Pós-Americano (10)

No livro "O Mundo Pós Americano", Fareed Zakaria chama a nossa atenção para as diferentes perspectivas sobre Deus, no Ocidente e na China.
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Há algumas diferenças reais e importantes entre as visões chinesas e ocidentais (particularmente, americanas) do mundo que vale a pena explorar. Começam com Deus. No inquérito Pew de 2007, quando se pergunta se se tem de acreditar em Deus para ser uma pessoa com moralidade, uma maioria confortável dos Americanos (57 por cento) responde que sim. Contudo, no Japão e na China, há maiorias muito mais elevadas a responder que não – na China, uns colossais 72 por cento! Trata-se de uma divergência notável e pouco usual em relação à norma, mesmo na Ásia. O ponto não é que ambos os países sejam imorais – na realidade, tudo indica o contrário - , mas antes que as pessoas não acreditam em Deus em nenhum daqueles países.

Isto pode chocar muitas pessoas no Ocidente, mas é uma realidade bem conhecida dos estudiosos do assunto. Os asiáticos do Leste não acreditam que o mundo tenha um Criador que estabeleceu um conjunto de leis morais abstractas que têm de ser seguidas. Esta concepção semita de Deus partilhada pelo judaísmo, pelo cristianismo e pelo islamismo é estranha à civilização chinesa. Há pessoas que afirmam que a religião chinesa é o confucionismo. Contudo, Joseph Needham, um eminente especialista em confucionismo, fez notar, que se se pensa na religião «como a teologia de um criador-divindade transcendente», o confucionismo não é uma religião. Confúcio foi um professor, não foi um profeta nem um homem sagrado em nenhum sentido. Os seus escritos, ou os fragmentos deles que sobreviveram, são espantosamente a-religiosos. Previne repetidamente contra pensar sobre o divino e, em vez disso, estabelece regras para a aquisição de conhecimento, para ter comportamentos éticos, para manter a estabilidade social e uma civilização ordenada. O seu trabalho tem mais em comum com os escritos dos filósofos do iluminismo que com opúsculos religiosos. (p.108-109)

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