sexta-feira, 6 de março de 2009

Khavaran



Entre 1980 e 1988, os corpos de milhares de pessoas executadas pelo regime dos mullahs foram despejados num lugar chamado Khavaran, nos arredores Teerão, onde as flores e as lágrimas estão proibidas. Quando se soube que os Regime Iraniano pretendia apagar a memória dos grandes massacres da República Islâmica do Irão e as escavadoras começaram a destruir as valas comuns, activistas lançaram uma campanha contra o silenciamento dos mortos.

No suplemento P2 da edição de hoje do jornal Público inclui um trabalho de autoria de Margarida Santos Lopes onde se apresentam três testemunhos de antigos prisioneiros que sobreviveram à tortura e à prisão na República Islâmica. Um desses testemunhos – da escritora Monireh Baradran - termina com as seguintes palavras:

A destruição de Khavaran, que eu visitei quando saí da prisão em 1990, significa a erradicação de importantes provas materiais de um crime histórico. Destruir as campas dos mortos é um insulto e uma violação cultural. Há uma reverência especial pelos mortos em todas as culturas, incluindo a iraniana. Gostamos de recordar os que já não estão entre nós e temos rituais em homenagem aos que partiram. O direito de enterrar os mortos e de os honrar é, na minha opinião, mais importante do que o direito de cidadania.

Tal como em Khavaran, também a destruição dos cemitérios dos baha'is faz parte da política de abolir os direitos de cidadania destes crentes - em alguns casos é mesmo a abolição do seu direito à vida! Nos últimos meses, as pressões, as perseguições e as prisões de baha'is têm aumentado consideravelmente. Até onde pretendem ir as autoridades? Será que preparam outro massacre, desta vez de baha'is?

O passado ensina-nos que os massacres de natureza racial, religiosa ou cultural sempre tiveram como objectivo a aniquilação da história e da cultura das vítimas. O medo dos mortos é o medo da história. Há um factor em comum entre a destruição de Khavaran e a dos cemitérios baha'is é a de que, para o regime, os que ali jazem são najes (impuros ou intocáveis). Segundo algumas interpretações islâmicas, até os mortos baha'is são impuros e intocáveis.

Em Khavaran estão a ocultar crimes contra a humanidade. Não tenho sequer esperança que o reformista Mohamad Khatami, se vencer as eleições presidenciais de Junho próximo [afastando o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad], vá mudar alguma coisa. O actual sistema dá o pretexto para a supressão política em nome da religião. A revolução em 1977 e 1978, contra a monarquia, não era para criar uma república islâmica. Lutávamos por liberdade e democracia. Quando os mullahs assumiram o poder, a revolução fracassou. Trinta anos de República Islâmica têm sido muito piores do que a ditadura do Xá.

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