quarta-feira, 1 de abril de 2009

Humanismo, Fé e Razão

No seu livro "Cristo Filósofo", Frederic Lenoir escreve:
Ao longo dos séculos, o projecto humanista vai desenvolver-se até emancipar o indivíduo e a sociedade da tutela da religião. Porém, contrariamente àquilo que se julga muitas vezes, ele não nasce contra as ideias cristãs, nem contra a ideia de Deus. O primeiro momento do Humanismo, o do Renascimento, permanece profundamente ancorado numa visão cristã. É em nome dos princípios evangélicos, harmonizados com os pensamentos dos Antigos , que os humanistas valorizam o homem e criticam os abusos da instituição eclesiástica. Num segundo momento, o das Luzes do século XVIII, o Humanismo radicaliza-se, assim como a critica das instituições religiosas. Mas a maioria dos filósofos das Luzes permanecem cristãos e apoiam-se, de maneira implícita ou explicita, na ética evangélica para libertar definitivamente a sociedade do domínio das Igrejas e edificar uma moral laica. Para além disso, insistem na necessária distinção entre a razão e a fé, e emancipam a razão da perspectiva teológica, mas sem chegar a opor estas duas ordens. É apenas num terceiro momento, em meados do século XIX, que certos pensadores entendem ir mais longe e desembaraçar o homem de qualquer crença religiosa, considerada uma alienação. Só então começa o tempo, por um lado da ruptura real entre o Humanismo e o Cristianismo, e, por outro lado, da oposição radical entre fé e razão. [1]
Gostei desta análise do desenvolvimento do Humanismo que Lenoir nos apresenta. Na minha opinião, Bahá'u'lláh propõe-nos um quarto momento para o projecto Humanista; nesta, o ser humano é visto como "talismã supremo"[2] e considerado semelhante "uma mina rica em jóias de inestimável valor”[3]. Segundo o fundador da religião Bahá’í, a falta de educação tem impedido os seres humanos de revelar todo o seu potencial.

O ser humano é considerado como o expoente máximo da criação; a sua conduta deve reger-se por elevados valores éticos ; a sua racionalidade é enaltecida, sendo mesmo considerada a maior dádiva que Deus lhe concede.

Quanto à tensão entre fé e razão, as seguintes palavras de 'Abdu'l-Bahá, proferidas numa palestra nos Estados Unidos em 1912, são bem elucidativas da perspectiva Baha’i sobre este assunto.
O terceiro princípio ou ensinamento de Bahá'u'lláh é a unicidade entre religião e ciência. Toda crença religiosa que não esteja em conformidade com a investigação e a comprovação científica é superstição; pois a verdadeira ciência é razão e realidade, e religião é essencialmente realidade e razão pura; portanto, ambas devem harmonizar-se. O ensinamento religioso que estiver em desacordo com a ciência e a razão é imaginação e invenção humana, e não merece aceitação, pois a antítese e oposto do conhecimento é a superstição nascida da ignorância humana. Se dissermos que a religião se opõe à ciência, desconhecemos tanto a verdadeira ciência como a verdadeira religião, pois ambas se fundamentam nas premissas e conclusões da razão, e ambas devem passar pela sua prova. [4]
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NOTAS
[1] - Cristo Filósofo, Frederic Lenoir, pag. 141-142
[2] - Epístola de Maqsúd, parag. 3
[3] - Epístola de Maqsúd, parag. 3
[4] - Promulgação da Paz Universal, Hotel Schenley, Pittsburgh, Pennsylvania, 07 de Maio de 1912

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