Aqui fica uma tradução de um excerto de uma artigo intitulado Iran: a faith on trial, de Bernd Kaussler, publicado no site OpenDemocracy. Recomendo a leitura integral deste artigo.
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Assim, enquanto a comunidade internacional parece muito alarmada com o programa nuclear do Irão e o volátil anti-semitismo de Ahmadinedjad, o crescendo das campanhas anti-baha’is concertadas e apoiadas pelo governo, passaram largamente despercebidas. Apesar dos EUA e a UE continuarem a condenar as violações dos direitos humanos, o destino de 36 crentes detidos – incluindo sete que aguardam julgamento – e o da comunidade como um todo, não ocupa um lugar de destaque nas agendas europeia ou americana. De facto, a mensagem do Presidente Obama ao Irão por ocasião do Ano Novo Iraniano foi a primeira mensagem presidencial americana que não fazia distinção entre o povo e o regime iraniano, mas dirigia-se a ambos. Esta muito antecipada mudança na política americana para com o Irão indica que a administração Obama está a afastar-se da retórica da “mudança de regime” e procura uma détente gradual com o Irão.
O novo pragmatismo americano para com o Irão vai inevitavelmente focar-se nos meios diplomáticos para resolver o impasse da questão nuclear e não a questão da natureza do regime. Isto são, certamente, boas notícias para a estabilidade regional, na medida em que pela primeira vez os EUA e o Irão podem abordar directamente preocupações mútuas de segurança. No entanto, no que toca à segurança humana no Irão, o crescendo dos laços diplomáticos bilaterais vê os assuntos da "liberdade de religião e de expressão" como estrategicamente inoportunos. A Europa também colocou os direitos humanos em segundo plano e foca-se apenas na reactivação nas negociações nucleares.
A campanha para as eleições presidenciais em Junho de 2009 está em marcha. Mas ao contrário das eleições de 1997, que foram dominadas por apelos à democracia e discursos reformistas sobre direitos humanos e o primado da lei, as facções em disputa centram a sua atenção nas reformas económicas. As agendas dos dois principais candidatos da facção reformista, o antigo porta-voz do Parlamento, Mehdi Karrubi e o antigo primeiro ministro Mir-Hoseyn Musavi criticaram fortemente as políticas económicas e o estilo de gestão de Ahmadinedjad. E apesar de Karrubi e Musavi terem condenado as perceptíveis inclinações do Presidente para o nepotismo, corrupção e e violação do primado da lei, as suas principais atenções são a economia e a política externa. Musavi, em particular, tornou bem claro que não gosta de “provocar todo o mundo sem qualquer motivo e apoia políticas de privatização”. Atendendo ao estado débil da economia iraniana, parece que o eleitorado reagirá mais favoravelmente a provocadores reformistas que se abstêm em matéria de direitos humanos e em retórica de democratização, e em vez disso prometem uma détente com o Ocidente que inerentemente abrirá caminho para o progresso económico. As eleições no Irão são notoriamente difíceis de prever, mas parece evidente que qualquer candidato que consiga apresentar-se como gestor de crises que tirará o país do isolamento, poderá vencer em Junho.
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Artigo completo: Iran: a faith on trial (em inglês)
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