Na sua crónica de hoje no Diário de Notícias, José Saramago discorre sobre o “laicismo”. Tal como noutras ocasiões, nas entrelinhas deste texto percebe-se que o escritor defende que o Estado deve ignorar as confissões religiosas. É algo bem diferente de uma laicidade inclusiva, onde o Estado coopera com as confissões religiosas, tal como coopera com tantos outros agentes sociais.
O texto de hoje tem a novidade: Saramago reduz o conceito de laicismo a uma espécie de combate escatológico entre a Igreja Católica e o Ateísmo. Para um velho combatente comunista, esta é uma curiosa visão profética.
Sabemos que Saramago nunca morreu de amores pela Igreja Católica, nem pela religião. No texto de hoje, rejeita a existência de Deus; não de um Deus transcendente, distinto da criação; para Saramago Deus apenas pode ser identificada com uma divindade saída de um catecismo literalista ou de uma qualquer religiosidade infantil. Um ateísmo, como o de Saramago, que se limita a rejeitar crenças religiosas patéticas, será sempre um ateísmo patético. É por isso que Saramago não chega aos calcanhares de Richard Dawkins.
5 comentários:
Como é habitual, gostei muito desta tua reflexão.
Comento apenas para dizer q me parece q seria mais correcta a expressão "crenças religiosas reduzidas ao patético" do q "crenças religiosas patéticas". Será um preciosismo semântico, e não deixa de ser apenas um pormenor no q dizes, mas parece-me q faz sentido.
Rui,
Tens razão; a expressão "crenças religiosas reduzidas ao patético" era a mais correcta.
Um abraço.
muito boa, mesmo, Marco. tocas no essencial da questão.
Embora a Igreja Católica não perca nada se reflectir um pouco nas motivações do Saramago.
abraço
À tua conta acabei por ler a crónica do Saramago.
Enfim, a sua ideologia mantém-se.
Dá para ver que é algo que continua a ameaçar-nos (o exemplo notório da Coreia do Norte).
Gostaria de parabenizar pela crítica consciente ao texto de Saramago e também percebi essa visão reducionista do mesmo, porém colocar Dawkins acima de Saramago ou mesmo desperceber que Dawkins é muito pior em discriminar toda a forma de religiosidade é um equívoco!
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