NOTA: entre parêntesis rectos [ ] encontram-se referências aos parágrafos da Epístola da Sabedoria.
Academia de Atenas (Rafael) |
Como já dissemos, uma das características mais salientes da Epístola da Sabedoria é a referência a vários filósofos da antiga Grécia. Nesta Epístola, o fundador da Fé Bahá’í afirma o Seu apreço pelos homens de conhecimento que descobrem coisas que promovem o bem-estar da humanidade[40]. Também nos adverte para que não deixemos que a sabedoria se torne um obstáculo entre Deus e os seres humanos [36].
A sabedoria é um bem precioso; é fruto da capacidade racional do ser humano. Essa capacidade é a maior dádiva de Deus à humanidade(a). Bahá'u'lláh afirma que essa capacidade é distribuída por todos os povos do mundo[37-38] e acrescenta que houve conhecimento desenvolvido por povos do passado que se perdeu e que hoje não pode ser reproduzido [39].
As grandes religiões semitas sempre tiveram uma relação estreita com a filosofia clássica. No Cristianismo e no Islão, a assimilação dos valores e ensinamentos da filosofia clássica grega foi um processo lento e nem sempre linear. S. Agostinho (354-430) introduziu o Neoplatonismo (desenvolvido por Plotino e Porfírio) no pensamento antigo cristão; S. Tomás de Aquino (1225-1274) introduziu o pensamento de Aristóteles no pensamento cristão medieval. No Islão, a assimilação desses valores e ensinamentos iniciou-se em Bagdade, entre 750 EC e 850 EC, com a tradução de textos clássicos gregos para árabe.
A Epístola da Sabedoria pode ser vista como o pivot da integração filosofia clássica grega na Fé Bahá’í. Ao longo de vários parágrafos desta Epístola Bahá'u'lláh faz a apologia dos antigos filósofos gregos. Esses sábios da antiguidade clássica lançaram os alicerces sobre os quais se desenvolveram a filosofia e sabedoria modernas. A Abençoada Beleza salienta o facto desses sábios nunca terem negado a existência de Deus[21, 22] e terem sido influenciados pelos Profetas do passado [26, 24].
Convém aqui referir que estes filósofos fizeram reflexões sobre o Divino, e simultaneamente criticaram os sistemas religiosos e mitológicos vigentes no seu tempo; cada um destes filósofos desenvolveu o seu próprio conceito do Divino, de acordo com a sua metafísica e a sua moral.
Ao referir-Se aos filósofos antigos, Bahá'u'lláh cita e parafraseia textos historiadores muçulmanos Abu'l-Fath-i-Shahristani (1076-1153 A.D.) e Imadu'd-Din Abu'l-Fida (1273-1331 A.D.). Os textos destes autores eram conhecidos de Nabil, o destinatário da Epístola. Desta forma, Bahá'u'lláh usa um enquadramento histórico-filosófico que é familiar a Nabil.
O texto da Epístola contém referências a Empédocles ("…distinguiu-se na Filosofia…"[25]), Pitágoras ("...Influenciado pelos Profetas hebraicos..."[25]), Hipócrates ("...Eminente filósofo que acreditava em Deus..."[28]) e Balinus ("...Excedeu outros da difusão de letras e ciências..."[30]).
Os maiores elogios vão para Sócrates; Bahá'u'lláh alonga-se em elogios e descreve-o como se tivesse sido o expoente máximo da sabedoria humana: "Ele é quem mais se distinguiu entre todos os filósofos e era altamente versado em sabedoria"[28], "Parece-Me que ele sorveu uma porção quando o Mais Grandioso Oceano"[28]
Aristóteles, que Bahá’u’lláh designa como "Célebre homem de conhecimento"[29], foi o primeiro a formular a teoria da degenerescência religiosa da humanidade(b), afirmando que as religiões apareciam e desapareciam numerosas vezes (esta ideia seria retomada por Averroes). Aristóteles acreditava que a existência de movimento no mundo era uma prova da existência de Deus.
Platão, a quem Bahá’u’lláh chama "o divino Platão"[29], acreditava que todo o movimento do mundo tinha origem numa "Primeira Causa" inamovível. Para ele, existia um artesão (Demiurgo) responsável pela construção e desenvolvimento do universo físico.
Antes da revelação desta Epístola, já ‘Abdu’l-Bahá, no livro "O Segredo da Civilização Divina", tinha tecido elogios à influência dos filósofos gregos no pensamento moderno, acrescentando que tinham sido influenciados por Profetas Hebreus. O filho de Bahá’u’lláh chega a afirmar que Sócrates esteve na Palestina para falar com sábios e teólogos hebraicos.
Posteriormente, durante as Suas viagens na Europa e Estados Unidos 'Abdu'l-Bahá repetiu essas referências elogiosas aos filósofos da antiguidade clássica.
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(a) - Selecção dos Escritos de Baha’u’llah, XCV. Ver também parágrafos iniciais d' O Segredo da Civilização Divina
(b) - Metafísica XII, cap. 7º
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