segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Relatório Minoritário: Motivos da Perseguição aos Bahá’ís no Irão

Tradução de um artigo divulgado hoje pela agência Reuters.
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Os 34 anos de regime da República Islâmica oprimiram muitos grupos religiosos e políticos no Irão. Mas uma Comunidade tem suportado um fardo particularmente pesado: os Bahá’ís, uma minoria religiosa considerada herética por alguns muçulmanos.

Dezenas de Bahá’ís foram mortos ou presos nos anos imediatamente após a revolução islâmica, em 1979. Terrenos, casas, lojas e outras propriedades - valendo milhares de milhões de dólares - foram confiscados nos anos seguintes por várias organizações iranianas, incluindo a Setad, uma organização supervisionada pelo líder supremo do Irão, o Ayatollah Ali Khamenei.

O escritório das Nações Unidas da Comunidade Internacional Bahá'í - uma organização não-governamental - até estima que, até 2003, mais de 2000 residências, lojas, pomares e outras propriedades foram confiscadas aos seus membros no Irão. O valor destes bens era estimado em 10 mil milhões de dólares.

"Na verdade, é um dos casos mais evidentes de perseguição governamental", afirma Heiner Bielefeldt, o Relator Especial da ONU sobre a liberdade de religião ou crença, sobre a forma como são tratados os Bahá’ís no Irão numa conferência das Nações Unidas, em Genebra, neste ano. "É basicamente perseguição governamental, sistemática e abrangendo todas as áreas de actividades do Estado, nos diversos sistemas, desde as leis de protecção à família até à escolaridade e segurança."

Uma razão pela qual os clérigos no Irão têm visado este grupo com tão grande zelo deve-se ao facto dos muçulmanos devotos verem a Fé Bahá’í como heresia e um insulto aos ensinamentos do Islão. A religião surgiu em 1844 na cidade de Shiraz, quando um homem chamado Báb anunciou a vinda de um mensageiro de Deus. Em 1863, um dos seguidores do Báb chamado Bahá’u’llah declarou ser o mensageiro e começou a pregar uma mensagem de unidade entre as religiões. Os seus seguidores foram atacados e ele passou anos no exílio, tendo morrido na cidade de Acre, no que era então a Palestina, em 1892.

Durante a maior parte do século 20, os monarcas que governaram o Irão toleraram os Bahá’ís, embora, segundo os historiadores, tenham existido períodos de prisões e ataques contra membros da comunidade.

Após a revolução islâmica, o grupo tornou-se um novamente um alvo. Enquanto os Judeus e os Cristãos eram reconhecidos como minorias religiosas na nova Constituição, os Bahá'ís não eram. Centenas de Bahá’ís foram expulsos das universidades, tiveram as suas lojas atacadas ou as suas propriedades confiscadas, afirmam os membros da comunidade.

O governo iraniano não respondeu a um pedido de comentário.

A Comunidade Internacional Bahá'í estima que 30.000 Bahá’ís tenham abandonado o Irão. No final de Julho - segundo a agência de notícias iraniana Tasnim - Khamenei publicou um decreto declarando que os iranianos devem evitar todas as relações com os Bahá’ís. Um advogado iraniano que representava vários clientes Bahá’ís em casos recentes envolvendo confiscação de bens afirmou ter sido chamado para interrogatório e ameaçado por agentes do ministério do interior, no ano passado. O advogado, que é muçulmano e falou na condição de não ser identificado, disse à Reuters que ele teve de parar de aceitar clientes Bahá’ís.

"O governo criou um sistema em que os Bahá’ís não estão autorizados a desenvolver autonomia financeira", disse o advogado.

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FONTE: Minority report: Why Baha’is face persecution in Iran (REUTERS)

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