domingo, 13 de abril de 2014

Quando a religião se torna maligna

Por David Langness.

Charles Kimball, académico conhecido e presidente do Departamento de Religião da Universidade Wake Forest, publicou um livro notável há alguns anos atrás, intitulado When Religion Becomes Evil (Quando a religião se torna maligna). O Dr. Kimball não tem aversão à fé e não é ateu - na verdade, é ministro baptista ordenado - mas o livro descreve o que ele, após uma vida de investigação, considera como os cinco sinais de corrupção na religião :
  • Reivindicações de verdade absoluta;
  • Exigências de obediência cega;
  • Definir o momento "ideal";
  • Os fins justificam os meios;
  • Declarar guerra santa.

Nos próximos artigos desta série sobre o mal que a religião pode provocar, vamos examinar estes sinais de alerta e investigar o que os ensinamentos Bahá’ís dizem sobre cada uma delas.

A análise persuasiva e perspicaz de Kimball em When Religion Becomes Evil esboça uma crescente percepção que já começou a chegar a grupos de fé, nacionalidades e classes em todo o mundo: a religião, que ele designa como "a força mais poderosa e penetrante sobre a terra", pode tornar-se corrupta, destrutiva e perigosa:
Como as instituições humanas, todas as religiões estão sujeitas à corrupção. As principais religiões que têm resistido ao teste do tempo fizeram-no através de um processo contínuo de crescimento e reforma, um processo que liga continuamente as pessoas de fé - judeus, hindus, muçulmanos, budistas, cristãos e outros - com as verdades vitais existentes no âmago da sua religião. (When Religion Becomes Evil, pág. 38-39).
Mas, Kimball diz-nos que independentemente da linguagem que usam ou dos princípios que defendem, são as acções das pessoas de fé que realmente as definem:
O que quer que as pessoas religiosas possam dizer sobre o amor de Deus ou o mandato da sua religião, quando o seu comportamento em relação aos outros é violento e destrutivo, quando causa sofrimento entre os seus próximos, podemos ter certeza que a religião foi corrompida e a reforma é desesperadamente necessária. (Ibid , pág. 39)
Os Bahá’ís têm uma visão única sobre esta dinâmica, pois as Escrituras Bahá’ís descrevem os ciclos históricos de ascensão e queda das grandes religiões numa perspectiva mais ampla, lógica e realista. As seguintes palavras de 'Abdu'l-Bahá, proferidas numa época que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, sintetiza essa perspectiva:
Não podemos continuar a viver de acordo com leis e costumes dos tempos antigos.

Tudo se transforma. O actual governo de França não se pode adaptar às exigências da Idade Média. Tudo evolui e o mesmo acontece com a religião - como testemunham as doutrinas que hoje perdem a sua influência. Todos os rituais e cerimónias religiosas, quando cumpridos fielmente, tornam-se causa de destruição e luta. Vejam a guerra nos Balcãs. Conseguem imaginar algo mais terrível? Homens levantam-se contra os seus irmãos e ambos os exércitos acreditam que actuam de acordo com leis morais. Se cada lado colocar em prática os verdadeiros princípios da sua própria religião, não poderia haver mais conflito.

Este é o dia em que os dogmas devem ser sacrificados pela nossa busca da verdade. Devemos deixar tudo para trás, excepto o que é necessário para as necessidades de hoje; não nos devemos apegar a qualquer forma ou ritual que esteja oposição à evolução moral. ('Abdu’l-Bahá , Divine Philosophy, pp 67-68)
O termo "evolução moral", descreve sucintamente o conceito Bahá'í de revelação progressiva, que vê a religião como um sistema único, em que todos os Fundadores das grandes Religiões formam uma sequência de professores morais de toda a humanidade. Visto desta forma, com Deus sendo o educador supremo de todos nós, cada uma das sucessivas religiões forma um elo na grande corrente cadeia da existência, um degrau na escada de consciência, uma etapa na escola da espiritualidade. E entendido desta forma, a religião - como qualquer outro organismo vivo - tem um ciclo de vida natural, um ciclo de estações e um propósito sequencial na evolução da humanidade.

Com este conceito em mente, os ensinamentos Bahá'ís apresentam a ascensão e queda da religião como um processo natural e orgânico:
A partir da semente da realidade, a religião tornou-se uma árvore onde cresceram ramos, folhas, flores e frutos. Após algum tempo, esta árvore entrou em decadência. As folhas e as flores murcharam e morreram, a árvore adoeceu e tornou-se infrutífera. Não é razoável que o homem se apegue à velha árvore, alegando que as suas forças vitais estão na sua plenitude, que o seu fruto é inigualável e a sua existência eterna. A semente da realidade deve ser novamente plantada nos corações humanos, para que uma nova árvore possa crescer aí e novos frutos divinos refresquem o mundo. Isto quer dizer que as nações e os povos que agora divergem na religião serão levados à unidade, as imitações serão abandonadas e a própria fraternidade universal será estabelecida. A guerra e conflitos cessarão entre a humanidade; todos se reconciliarão como servos de Deus. Pois todos estão abrigados sob a árvore da Sua providência e misericórdia. Deus é bom para todos, Ele é o doador de bênçãos para todos... ('Abdu'l-Bahá, Baha’i World Faith, p. 225)

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Texto original: When Religion Itself Becomes Evil
Texto anterior: Os Ateus dizem que a Religião provoca Ignorância e Ódio

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David Langness é jornalista e critico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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