Toda a alma tem capacidade para se aproximar de Deus em oração e adoração.
Mas apesar desta capacidade universal, todos nascemos descrentes. Viemos ao mundo sem qualquer conhecimento sobre o Criador, completamente inconscientes da Revelação Divina, e ignorando quaisquer práticas espirituais com as quais possamos comungar com o Espírito Santo. Tal como afirma uma oração Bahá’í, “Se não fossem os Teus apelos, eu não Te adoraria”. A espiritualidade deve ser aprendida, porque no coração da espiritualidade está o amor; devemos aprender a amar. ‘Abdu’l-Bahá chama a atenção do leitor para este tema num texto sobre a educação espiritual das crianças:
É a esperança de 'Abdu'l-Bahá que essas almas jovens na sala de aula do conhecimento profundo sejam assistidas por alguém que as ensine a ter amor. Que todas elas, com todo o poder do espírito, possam aprender bem os mistérios ocultos - tão bem que, no Reino do Todo-Glorioso, cada uma delas, tal como um rouxinol dotado de fala, anuncie em voz alta os segredos do Reino Celestial e, como alguém que ama ardentemente, expresse o seu extremo desejo e a sua necessidade absoluta do Bem-Amado. (Selecção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, nº 107)Ensinar uma criança a recitar uma oração simples, não é muito difícil. Algumas boas técnicas combinadas com uma metodologia consistente constituem o caminho para alcançar esse objectivo básico. Mas a adoração fervorosa a Deus descrita por 'Abdu'l-Baha exige uma transformação interna na criança que requer tempo, atenção e prática. No início, a criança pode seguir os movimentos que aparentam uma oração e não entender o impulso espiritual por trás desta. Por isso, pode precisar de anos para cultivar o desejo íntimo de comunhão com o Espírito Santo. A imitação vazia pode impedir o desejo. O amor não se aprende facilmente, e pode passar por muitas fases de desenvolvimento antes de chegar à comunicação arrebatadora com o misterioso, que 'Abdu'l-Baha descreve de forma tão bela e convincente.
Pensei nas palavras de 'Abdu'l-Bahá quando me deparei com o seguinte excerto de Friedrich Nietzsche, no seu livro A Gaia Ciência. Acho que dá que pensar quando reflectimos sobre a tarefa 'Abdu'l-Bahá coloca diante de nós. Nietzsche usa o exemplo da música:
Devemos aprender a amar. Isto é o que acontece connosco na música. Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um tema, uma melodia, de uma maneira geral, a percebê-la, a distingui-la, a limitá-la e isolá-la na sua vida própria. Devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade - para a suportar, mau-grado a sua novidade - para ser pacientes com o seu aspecto e a sua expressão - e de caridade - para tolerar a sua estranheza. Por fim chega o momento em que já estamos acostumados, em que a esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes e encantados adoradores, que não pedem mais nada ao mundo, senão ela, ainda ela, sempre ela.Uma boa oração é como uma boa música - é necessário prática para apreciar algo tão bonito. Tal amor e apreço levam tempo a desenvolver antes que se transformem em hábitos. Os nossos hábitos, muito mais do que apenas gestos e movimentos exteriores, tornam-se as posturas que moldam o nosso ser. Gradualmente voltamos o espelho do nosso coração para Deus - o sol celestial de iluminação espiritual - aprendendo a amar a oração e torná-lo uma prática habitual. Pode exigir uma série de etapas intermédias, alguma atenção consistente e uma devoção à sua prática diária. Consequentemente, não devemos desanimar, se nós ou qualquer um dos nossos entes queridos, não conseguir passar de um lado para o outro com um único passo.
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. No final somos sempre recompensados pela nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa mente justa, a nossa gentileza com as coisas que nos são novas; porque as coisas, pouco a pouco, levantam o seu véu e apresentam-se aos nossos olhos como belezas indescritíveis: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.
Se alguém recita a palavra de Deus, comunga silenciosamente, ou improvisa com as suas próprias palavras, a oração fortalece-lhe a alma com a força da sua própria voz, e permite-lhe chamar o seu Bem-Amado. Cada um desses modos ou oração pode parecer estranho num primeiro encontro - mas devemos aprender a amar a beleza na oração quando oramos.
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Texto original: Nietzsche and Learning to Love Prayer (bahaiteachings.org)
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Greg Hodges é um apaixonado pela combinação da mudança social com a renovação espiritual. Vive com a sua esposa no Maine (EUA).
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