sábado, 1 de abril de 2017

Globalismo ou Nacionalismo?

Por David Langness.


O leitor considera-se globalista ou nacionalista? Se não tem a certeza, faça este pequeno teste para descobrir:
1. O que pensa sobre as fronteiras nacionais? Devem ser: 
     a) Seladas, policiadas e geralmente impenetráveis?
     b) Desvalorizadas e mais facilmente atravessadas?  
2. Se você decidiu colocar uma bandeira em sua casa, escolheria: 
     a) A bandeira do seu país?
     b) Uma bandeira com uma foto da Terra vista do espaço? 
3. Você pensa em si próprio como um cidadão: 
     a) Da nação em que você vive?
     b) Do mundo?
Muito óbvio, não é? Se escolheu a resposta "a)" para estas três perguntas, você é provavelmente um nacionalista; e se você respondeu "b)" você é provavelmente um globalista. Todas essas perguntas basicamente se resumem a um centro emocional: o que você ama mais e a quem se sente mais leal: ao seu país ou à Terra?

Mas antes de irmos mais longe com este tipo de classificação, vamos definir as nossas palavras - ou pelo menos deixar que o Dicionário faça isso por nós:
Nacionalismo: devoção à nação a que se pertence; patriotismo;  
Globalismo: uma política ou perspectivas que sejam de âmbito mundial;
Parece simples, não é? Bem, pode parecer simples, mas a escolha tão diferenciada entre o nacionalismo e o globalismo transformou-se ultimamente num ponto de grande confronto na complexa vida política do nosso planeta. Em muitos, ou mesmo na maioria dos países do mundo, desenrola-se um debate feroz: devemos fazer o que é melhor para o nosso país, ou o que é melhor para o mundo? Devemos preocupar-nos mais com os cidadãos da nossa própria nação, ou com todos, independentemente de onde eles tenham nascido? Devemos privilegiar aqueles que são nossos compatriotas, ou devemos desvalorizar a cidadania nacional a favor de uma visão mais inclusiva de todas as pessoas como cidadãos do mundo? Devemos manter as nossas identidades nacionais - como espanhóis, russos, brasileiros, liberianos, americanos - ou devemos adoptar uma identidade global mais universal que transcenda as nossas origens puramente nacionais?

Eleições, opções políticas, enormes despesas económicas e a vida de milhares de milhões de pessoas dependem hoje destas questões fundamentais. As crises dos refugiados, as crises ambientais e mesmo as crises nas relações entre países dependem da forma como respondemos a estas questões.

Forças tremendas actuam no mundo em defesa de cada posição. As forças nacionalistas ainda dominam as estruturas políticas planetárias e as chamadas nações "desenvolvidas" - os países mais prósperos, geralmente denominados o “Norte global”, dominam as nações mais pobres e "subdesenvolvidas", chamadas de “países do Sul”. Os países do Norte global - Estados Unidos, Japão, União Europeia e Rússia, entre outras - tendem a possuir mais riqueza, mais poder e mais influência. Os países do sul - Índia, Indonésia, a maioria dos países sul-americanos e africanos - tendem a ter menos riqueza, menos poder e menos influência, embora tenham mais população do que os países desenvolvidos.

As forças globalistas, porém, são um desafio cada vez maior para os pontos de vista nacionalistas tradicionais. Porque o mundo transformou-se durante o século passado; passámos de um vasto planeta para uma aldeia; porque as relações sociais entre os povos da Terra atravessam cada vez mais as fronteiras nacionais; porque as viagens, transportes, comunicações e a difusão de ideias e valores através da internet e da cultura popular global têm aumentado exponencialmente; os conceitos puramente nacionalistas de cidadania, patriotismo e lealdade absoluta a um único país começaram a decair.

Os Bahá’ís acreditam que estas mudanças globais titânicas assinalam um grande ponto de viragem na história humana. Agora, neste século, estamos no meio de uma alteração fundamental na forma como nos vemos a nós próprios e ao mundo - e essa alteração terá um enorme impacto no futuro da raça humana.

Toda a humanidade, dizem os ensinamentos Bahá’ís, deve unificar-se sob uma única bandeira - a bandeira da unidade global:
Desejamos apenas o bem do mundo e a felicidade das nações... Que todas as nações se tornem uma na fé e todos os homens sejam irmãos; que os laços de afecto e de unidade entre os filhos dos homens sejam fortalecidos... Porém, assim será; estes conflitos infrutíferos, estas guerras ruinosas passarão, e a "Grande Paz" virá... Contudo, vemos os vossos reis e governantes esbanjando os seus tesouros mais em meios de destruição da raça humana do que naquilo que conduziria à felicidade da humanidade... Essas contendas, este derramamento de sangue e discórdia devem cessar, e todos os homens devem ser como uma grande família... Que o homem não se glorifique porque ama o seu país; que se glorifique porque ama a sua espécie... (Bahá'u'lláh, The Proclamation of Baha’u’llah, p. 1)
Assim, nesta série de artigos, vamos examinar o confronto actual entre nacionalismo e globalismo, e explorar os ensinamentos Bahá’ís sobre o assunto. Examinaremos o que os ensinamentos Bahá'ís prevêem para um mundo unificado e pós-nacionalista e veremos o que significam quando defendem a unidade de todas as nações sob um sistema de governação global. Acima de tudo, vamos elucidar os motivos pelos quais se deve privilegiar o amor à humanidade sobre o amor à pátria, e porque é que o futuro da Terra depende de nos assumirmos todos como globalistas.

-----------------------------
Texto original: Are You a Globalist or a Nationalist? Take the Quiz! (www.bahaiteachings.org)

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

Sem comentários: