sábado, 6 de maio de 2017

As religiões mentem?

Por Tim Wood.


Certo dia, o grande especialista em mitologia Joseph Campbell, estava numa entrevista de rádio sobre o seu trabalho em religião e mitologia comparadas, quando lhe foi dito que as religiões mentem.

Campbell disse ao entrevistador que as religiões não mentem porque falam em metáforas. O entrevistador contestou essa noção até que Campbell pôs à prova o seu entendimento e lhe pediu que desse um exemplo de uma metáfora. O entrevistador, julgando que se tratava de um pedido simples, respondeu: "O meu amigo John corre tão depressa que algumas pessoas dizem que ele é uma gazela." Campbell, numa resposta rápida, disse: "Não. Uma metáfora seria: ‘John é uma gazela’". O entrevistador de rádio afirmou em resposta: "Isso não é uma metáfora, é uma mentira", e com essa frase terminou a entrevista.

No seu livro Thou Art That, Campbell escreveu sobre essa entrevista, dizendo:
... levou-me a pensar que metade das pessoas no mundo pensa que as metáforas das suas tradições religiosas, por exemplo, são factos. E a outra metade contesta que elas não são factos. Como resultado, temos pessoas que se consideram crentes porque aceitam metáforas como factos, e temos outras que se classificam como ateus porque pensam que as metáforas religiosas são mentiras.
As metáforas funcionam como a poesia, em termos de conotações e não de denotações. As metáforas apontam para os significados internos para lá dos símbolos designados. Campbell diz:
A referência nas tradições religiosas aponta para algo transcendente que não é verdadeiramente uma coisa qualquer. Se você pensa que a metáfora é uma referência para si própria, seria como ir a um restaurante, pedir um menu, e vendo lá escrito “Bife”, começar a comer o menu.
A sugestão de que uma pessoa se senta e come um menu quando ela quer comida é completamente absurda, neste caso, porque sabemos que a mente da pessoa se foca no significado da palavra escrita “bife”, e no pedaço real de carne. No entanto, nas situações em que o objecto de pensamento não é físico, a metáfora desempenha um papel crucial, ajudando a mente a concentrar-se em algo que não podemos perceber com os nossos cinco sentidos.

As metáforas concentram a mente num significado pretendido. Quando permitimos que as nossas mentes interpretem a afirmação "John é uma gazela" como metáfora, podemos ver o John correndo sobre pedras e saltando um ribeiro com agilidade e facilidade. É claro que o John não é uma gazela, mas se toda a nossa atenção consciente se foca nisso, perdemos a capacidade para perceber o significado mais profundo da frase.

Os ensinamentos Bahá’ís convidam-nos a aumentar a nossa compreensão do espírito humano através das metáforas. 'Abdu'l-Bahá diz:
... quando se deseja explicar a realidade do espírito e as suas condições e graus, é-se obrigado a descrevê-las em termos de coisas sensíveis, pois exteriormente nada existe salvo o sensível. Por exemplo, a dor e a felicidade são coisas inteligíveis, mas quando se deseja expressar essas condições espirituais, diz-se: "O meu coração ficou pesado", ou "O meu coração ergueu-se", embora o coração não seja literalmente pesado nem se erga. Pelo contrário, é uma condição espiritual ou inteligível, cuja expressão requer o uso de termos sensíveis. (Some Answered Questions, newly revised edition, p. 94)
Sabemos pelos ensinamentos Bahá’ís que o caminho da consciência leva do sensível ao inteligível. Podemos compreender aqueles aspectos da vida que estão fora do alcance dos sentidos, apenas referindo a realidade sensível, como diz 'Abdu'l-Bahá, "naquele reino de fenómenos através do qual o caminho consciente nos conduz ao reino de Deus."

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Texto original: Do Religions Lie? (www.bahaiteachings.org)

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Tim Wood é um estudante e trabalhou em mediação, reforma da justiça criminal, defesa dos direitos humanos e educação. É membro da comunidade Bahá’í desde 2007.

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