Os ensinamentos Bahá'ís apresentam uma forma completamente nova para compreender a religião: a revelação progressiva.
As escrituras Bahá’ís identificam dois objectivos para a religião: construir uma relação espiritual perpétua entre Deus e a humanidade; e adaptar-se às exigências de cada era na história humana.
O primeiro objectivo - a relação perpétua entre Deus e a humanidade - impulsiona o processo de crescimento espiritual em que a humanidade, reconhecendo aquele que é objectivo de todo conhecimento, aprende a desenvolver as suas potencialidades internas. Este primeiro propósito da religião é universal e eterno no seu percurso e acumulativo no seu conteúdo.
O segundo objectivo da religião provoca mudanças e renova as condições sociais dentro do contexto de uma determinada cultura e no âmbito do conhecimento humano. Este objectivo da religião é relativo, temporário e sujeito a mudanças de acordo com as exigências do tempo e do lugar. As escrituras Bahá'ís explicam estes dois objectivos nestes breves textos:
As religiões divinas possuem dois tipos de mandamentos. Primeiro, há aqueles que constituem o essencial ou o espiritual. Essas são a fé em Deus, o adquirir de virtudes... Este é o aspecto fundamental da religião de Deus... Este é o fundamento essencial de todas as religiões divinas, a realidade em si, comum a todas... Em segundo lugar, existem leis e mandamentos que são temporárias e não-essenciais. Estas referem-se aos afazeres e relações humanas. São acidentais e sujeitos a mudanças de acordo com as exigências do tempo e do lugar. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 403)Os dois propósitos da religião estão inter-relacionados e interligados. Cada nova revelação acrescenta mais conhecimento ao processo geral de crescimento espiritual da humanidade, que por sua vez cria um novo modelo para a organização da sociedade humana. Por exemplo, Bahá'u'lláh proclama que, neste dia, o princípio espiritual do amor encontrou um significado universal e um alcance mais amplo. Houve um tempo em que o amor à pátria era um elemento de espiritualidade; mas agora o amor à humanidade constitui a mais alta aspiração espiritual:
O propósito de Deus ao enviar os Seus Profetas aos homens é duplo. O primeiro é libertar os filhos dos homens das trevas da ignorância e guiá-los à luz da verdadeira compreensão. O segundo é assegurar a paz e tranquilidade da humanidade, e fornecer todos os meios com os quais eles podem ser estabelecidos. (Gleanings from the Writings of Baha'u'llah, pp. 79-80)
... não se deve vangloriar quem ama o seu país, mas quem ama o mundo. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, p. 95)Consequentemente, como o significado do amor alarga o seu âmbito, a sua correspondente expressão social também precisa de um modelo universal. Nesse sentido, se o amor à pátria exigiu o modelo de Estados soberanos e a construção das nações, o amor ao mundo exige a unidade do planeta e o estabelecimento de uma ordem global.
Bahá'u'lláh ensinou que as grandes religiões mundiais, tal como as revelações do propósito de Deus para o desenvolvimento espiritual e o progresso social da humanidade, têm uma linha comum subjacente à sua natureza básica, valores e propósito; todas elas têm origem divina e juntas constituem uma religião permanente. As revelações sucessivas representam um processo progressivo semelhante aos passos sequenciais de aprendizagem. Na verdade, as escrituras Bahá'ís usam os termos "professor" e "educador" para referir os Profetas e os Manifestantes de Deus e enfatizam que não há diferenças de estatuto entre os Manifestantes de Deus. Diferenças nas afirmações dos vários mensageiros reflectem apenas diversos níveis da maturidade espiritual dos povos de diferentes época, e diferentes exigências do tempo em que a revelação ocorreu:
Atribuímos duas condições a cada um dos Luminares que Se elevam nas Alvoradas da santidade eterna. Uma dessas condições, a condição da unidade essencial, já a explicamos. "Nenhuma distinção fazemos entre qualquer um deles." A outra é a condição da distinção, e pertence ao mundo da criação e às suas limitações. Neste aspecto, cada Manifestante de Deus tem uma individualidade distinta, uma missão definitivamente prescrita, uma Revelação predestinada e limitações especialmente designadas. Cada um deles é conhecido por um nome diferente, é caracterizado por um atributo especial, cumpre uma Missão precisa e é-Lhe confiada uma Revelação particular. (Baha'u'llah, O Livro da Certeza, parag. 171)
É claro e evidente para ti que todos os Profetas são os Templos da Causa de Deus, Que surgem vestidos com diferentes trajes. Se observares com olhos que discernem, contemplá-los-ás habitando no mesmo tabernáculo, voando no mesmo céu, sentados no mesmo trono, proferindo o mesmo discurso e proclamando a mesma Fé. Assim é a unidade dessas Essências do ser, aqueles Luminares de esplendor infinito e imensurável. Portanto, se um desses Manifestantes da Santidade proclamar: "Eu sou o regresso de todos os Profetas", Ele, de facto, fala a verdade. (Idem, parag. 162)
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Texto original: The Purpose of Religion—Now and Forever (www.bahaiteachings.org)
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Behrooz Sabet é professor universitário, doutorado pela State University de Nova Iorque, em Buffalo. Durante mais de 20 anos fez estudos e investigações sobre os cruzamentos entre religião, ciência e cultura no Médio Oriente. É um estudioso de religião, movimentos e pensamento político contemporâneo no Irão. Traduziu e escreveu muito sobre religião, ética, educação, filosofia e temas sociais.
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