Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz. (Isaías 9:6)Fui educado como cristão, e sempre me ensinaram que Jesus era o único caminho para Deus. Anos mais tarde, tornei-me Bahá'í. Antes disso, tive que desfazer esta noção de "apenas Jesus" que recebi durante uma parte significativa da minha infância e adolescência.
Ao investigar a Fé Bahá’í - especialmente as afirmações da verdade de Bahá’u’lláh - sempre temi que, de alguma forma, pudesse perder a minha salvação. Para alterar ou mudar as minhas convicções, eu arriscava muito - para dizer o mínimo.
Deparei-me com esta questão: posso acreditar simultaneamente em Jesus Cristo e Bahá’u’lláh? Em caso afirmativo, como? ‘Abdu’l-Bahá respondeu a uma pergunta semelhante:
Colocaste-me duas perguntas: "Se o mesmo espírito se manifesta em todos os Manifestantes e Profetas, então, qual é a distinção ou diferença entre Cristo (ou melhor, Jesus) e os outros Profetas; também [qual é a diferença] entre Pai e Filho? "Neste texto notável, quando ‘Abdu’l-Bahá se refere ao "Filho", significa Jesus Cristo; da mesma forma, "o Pai" refere-se a Bahá’u’lláh.
Saibe que o espírito humano é um só, mas manifesta-se em vários membros do corpo de uma certa (medida ou) forma. O espírito humano existe no olhar (olhos); também existe no cérebro, que é a localização de grandes funções e poderes; também existe no coração, cujo órgão está fortemente ligado ao cérebro ou ao centro da mente; e o coração, ou o centro que é a ligação com o cérebro, tem uma função, efeito e aparência distintas e separadas...
Falando de forma figurada, o Pai é o centro do cérebro e o Filho é o centro do coração; o resto dos Profetas são membros e peças. Neste caso, o Pai e o Profeta são duas expressões da mesma coisa, como o homem e a criatura são dois nomes da mesma realidade. A palavra "homem", porém, é maior que a palavra "criatura" porque contém um significado mais importante do que o nome "criatura"; ambos são o mesmo. (Tablets of Abdul-Baha, pp. 102-103)
A reacção do leitor – com justa indignação – poderá ser: "O quê??? Eu sempre pensei que o 'Pai' era Deus e apenas Deus!” Sim, isso está correcto. Mas convido o leitor a ler novamente a profecia de Isaías 9:6, citada acima. Este excerto, amplamente conhecido como a "Profecia Natalícia", sugere, por implicação, que o "Pai da eternidade" não pode logicamente ser o "Filho de Deus" - uma pedra angular fundamental da teologia Trinitária, e uma crença base daquilo que os teólogos sistemáticos às vezes se referem como "alta Cristologia".
Na sua "Epístola ao Papa Pio IX", Bahá’u’lláh afirma o seguinte:
Ó confluência de monges! As fragrâncias do Todo-Misericordioso sopraram sobre toda a criação. Feliz o homem que abandona os seus desejos e se segura firmemente à orientação. Ele, em verdade, é dos que alcançaram a presença de Deus neste Dia, um dia em que o alvoroço se apossou dos habitantes da terra e encheu de consternação todos salvo aqueles que foram libertados por Deus, Aquele que faz curvar os pescoços dos homens.De forma sucinta, vamos agora aplicar à Profecia Natalícia (Is 9:6), os quatro passos para entender a profecia:
Adornais os vossos corpos, quando as roupas de Deus estão manchadas com o sangue de ódio pelas mãos do povo da negação? Saí das vossas habitações e ordenai ao povo que entre no Reino de Deus, o Senhor do Dia do Juízo. A Palavra que o Filho ocultou tornou-se manifesta. Foi enviada na forma de templo humano, neste dia. Bendito seja o Senhor, Que é o Pai! Ele, na verdade, veio às nações na Sua mais grandiosa majestade. Voltai as vossas faces para Ele, ó confluência dos justos!
Ó seguidores de todas as religiões! Vemos-vos vagueando enlouquecidos nos desertos do erro. Sois os peixes deste Oceano; então porque vos privais daquilo que vos sustém? Vejam! Agitou-se perante as vossas faces. Apressai-vos a ele vindo todas as regiões. Este é o dia em que a Rocha brada, grita e celebra o louvor do seu Senhor, o Possuidor de tudo, o Altíssimo, dizendo: “Vejam! O Pai já veio, e aquilo que foi prometido no Reino cumpriu-se!” Esta é a Palavra que foi preservada por detrás dos véus da grandeza e que, quando a Promessa se cumpriu, derramou com sinais claros o seu esplendor desde o horizonte da Vontade Divina (The Summons of the Lord of Hosts, pp. 58–59)
1º Passo: Se impossível, então não é literal.
Esta profecia não é literal, porque o "Pai da eternidade" não pode ser Deus se o nascimento mencionado na profecia de Isaías é humano: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu" (Isaías 9: 6). A maioria dos Cristãos pensa que "o Filho" aqui significa "o Filho de Deus" (Jesus Cristo). Mas "o Filho de Deus" não pode ser um e o mesmo que o "Pai da eternidade". Sim, eles são "um" em espírito, mas não idênticos.
2º Passo: Se não é literal, então é figurado.
'Abdu'l-Bahá apresenta uma perspectiva importante sobre a analogia expressa aqui: "Falando de forma figurada, o Pai é o centro do cérebro e o Filho é o centro do coração; o resto dos Profetas são membros e peças. Neste caso, o Pai e o Profeta são duas expressões da mesma coisa, como o homem e a criatura são dois nomes da mesma realidade." Por outras palavras, podemos interpretar "o Pai" figurativamente, não literalmente.
3º Passo: Se é figurado, então é simbólico.
Quanto às qualidades que este símbolo representa, "o governo está sobre os seus ombros" é uma das funções do símbolo do "Pai da eternidade". Esse governo provavelmente será um governo mundial, especialmente porque o "Pai da eternidade" é também o "Príncipe da Paz".
4º Passo: Se é simbólico, então é espiritual e social.
'Abdu'l-Bahá aplica a Profecia Natalícia a Bahá’u’lláh como o "pai". Bahá’u’lláh afirma claramente: "A Palavra que o Filho ocultou tornou-se manifesta. Foi enviada na forma de templo humano, neste dia. Bendito seja o Senhor, Que é o Pai! Ele, na verdade, veio às nações na Sua mais grandiosa majestade".
Assim podemos perceber que os Bahá’ís veneram Cristo como o coração ("o Filho é o centro do coração") e Bahá’u’lláh como alma.
------------------------------------------------------------
Texto original: Revering Christ and Baha’u’llah as Heart and Soul (www.bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.
Sem comentários:
Enviar um comentário