sábado, 3 de fevereiro de 2018

Budistas, Bahá’ís e o Dogma



O Buda afirmou: "a vida religiosa não depende do dogma". Para os Budistas, o dogma "não tem benefícios, nem tem que ver com os fundamentos da religião, nem tende para a aversão, ausência de paixão, cessação, quietude, faculdades sobrenaturais, sabedoria suprema e nirvana; portanto, não o expliquei". Em resumo, a essência da religião, como os Bahá’ís acreditam, centra-se no refinamento do carácter humano, no nosso alinhamento com a realidade divina (nirvana) e na construção da civilização. Transformá-la em distinções obscuras, não é produtivo.

Mas apesar do Buda não se alongar na teologia, Ele afirma claramente:

“Existe o Não-nascido, o Não-formado, o Não-criado, o Não-composto; se não existisse, ó mendicantes, não haveria saída do mundo do nascido, do formado, do criado e do composto.” (Udana 8:3 in The Spiritual Heritage of India, Swami Prabhavananda, p. 181)

Essa fonte de salvação Não-nascida tem claramente uma semelhança impressionante com Deus, tal como as religiões do mundo Ocidental entendem o Criador. Mas em vez de tentar falar sobre esse Deus numa terra de muitos deuses, a solução elegante do Buda passou apenas por falar sobre a condição humana, o sofrimento e o caminho para a salvação. No entanto, é um erro pensar que o Buda não conhece Deus. Ele tinha um conhecimento especial de Deus, dizendo ao Seu discípulo Vasetta:

Pois eu conheço Brahman, Vasettha, e o mundo de Brahman, e o caminho que conduziu a Ele. Sim, eu conheço-o como alguém que entrou no mundo Brahman e nasceu dele. (Svetasvatara 3: 9 in The Spiritual Heritage of India Swami Prabhavananda, p. 173)

É importante notar que, sempre que, no Ocidente, falamos de Deus, Ele é, como S. Tomás de Aquinas nos recorda na sua obra De Potentia, incognoscível, porque Ele "transcende tudo o que podemos entender dele". Falamos de Deus porque nos sentimos ligados aos Ser de Deus, a fonte derradeira da Realidade, e isso é que os Budistas chamam nirvana.

É verdade que a maioria das formas do Budismo pouco fala de um Deus criador. Mas, na verdade, as histórias sobre a criação ocupam muito pouco das Escrituras Ocidentais. O que realmente preenche as nossas Escrituras são nossas tentativas de descrever a nossa atracção pelo Ser com o qual estamos ligados, as nossas interrogações sobre o mundo e aquilo que é conducente ao progresso (ou retrocesso) pessoal e social. Estes são os mesmos rumos das escrituras Budistas. No seu âmago, as religiões orientais e ocidentais têm o mesmo objectivo e envolvem-se nas mesmas tarefas. O Dalai Lama referiu este assunto:

Para um não-budista, o conceito de nirvana e uma vida seguinte parecem não ter sentido. Da mesma forma, para os Budistas, a noção de um Deus Criador soa, por vezes, sem sentido. Mas estas coisas não são importantes; podemos deixá-las. O que importa é que, através destas diferentes tradições, uma pessoa muito negativa pode-se transformar numa pessoa boa. Esse é o propósito da religião - e esse é o resultado real. (The Four Noble Truths, p. 5)

Dizer que o Budismo é ateu é não compreender o Budismo. O Buda falava frequentemente de Brahman (Deus) com conhecimento íntimo, e, como vimos, Ele condenou aqueles sacerdotes que não agiam de acordo com a natureza de Brahman. Além disso, toda a missão do Budismo é ajudar a aliviar o sofrimento humano, pregando o comportamento moral e o alinhamento com a natureza sagrada da realidade (Deus).

Os Bahá’ís acreditam que esta forma profunda e santa de ver o universo (e nosso lugar nele) coloca o Budismo no panteão das grandes religiões mundiais. Para os Bahá’ís estas verdades eternas, quer sejam transmitidas por Buda ou por Cristo ou Bahá’u’lláh, têm todas a mesma fonte:

Nenhuma verdade pode contradizer outra verdade. A luz é boa em qualquer lâmpada que esteja acesa! Uma rosa é bela em qualquer jardim que possa florescer! Uma estrela tem o mesmo esplendor se brilhar no Oriente ou no Ocidente. Libertai-vos do preconceito para amar o Sol da Verdade em qualquer ponto no horizonte que possa surgir! Compreendereis que, se a luz Divina da verdade brilhou em Jesus Cristo, então também brilhou em Moisés e em Buda. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 137)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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