sábado, 9 de junho de 2018

Palavras de Sabedoria sobre as distracções tecnológicas



Tal como a água que flui por um vale até a um rio mais abaixo, os nossos olhos e mentes dificilmente podem ficar longe dos nossos telefones, computadores e outros aparelhos com écrans.

A atracção aparentemente irresistível pela paixão electrónica atrai-nos e prende-nos. Mesmo quando rodeados pelas pessoas que nos são mais queridas e por oportunidades de nos melhorarmos a nós próprios e viver a vida na plenitude, mesmo assim, damos a nossa principal atenção aos prazeres on-line comuns.

Costumava ser apenas um estorvo. Mas à medida que a dependência de aparelhos se aproxima do vício e leva a um comportamento mais extremo, as nossas relações disfuncionais com as tecnologias de informação acabam por se transformar numa crise espiritual que afecta a sociedade como um todo.

Não haverá saída? Será isto o melhor que podemos conseguir? Uma parte crescente da sociedade actual diz que não. Mesmo que agora não tenhamos certezas - ou do que poderão ser essas saída e que consequências poderão ter - existe um movimento crescente de utilizadores insatisfeitos que sente que é possível um modo de vida melhor. A nossa experiência directa com o ambiente que nos rodeia e com as pessoas que nos são próximas pode ser a base para uma felicidade mais completa e plena.

Então, o que dizem os ensinamentos Bahá’ís sobre isto?

Esta não é uma questão de resposta fácil. As figuras centrais da Fé Bahá’í escreveram há mais de cem anos atrás; não tinham telefones, nem computadores. Consultar as escrituras Bahá’ís sobre este tipo de vício não é o mesmo que como fazer uma pesquisa no Google. As primeiras coisas que aparecem podem não parecer directamente relevantes. Mas o carácter universal das escrituras Bahá’ís permite que os leitores encontrem significados e orientações que podem não estar explícitos no contexto original da mensagem.

Escolhi quatro citações das escrituras de Bahá’u’lláh que sinto no meu coração serem relevantes para a luta que hoje enfrentamos na busca de um relacionamento saudável com a tecnologia da informação. Não considero de forma alguma que estas citações sejam as mais importantes sobre o assunto. São apenas aquelas que me dizem alguma coisa e que - quando uma noite reflecti sobre este tema - me pareceram ter um grande poder. Procurem nelas a qualquer sabedoria que quiserem. Se existirem outras citações não incluídas aqui que falam particularmente ao seu coração, por favor partilhe-as nos comentários.

A primeira citação está no livro Selecções das Escrituras de Bahá’u’lláh. Fala da alegria que pode surgir ao levarmos uma chama espiritual para o nosso relacionamento com os outros:

Como é triste se algum homem, neste Dia, pousar o seu coração sobre coisas efémeras deste mundo! Levantai-vos e segurai-vos firmemente à Causa de Deus. Sede os mais afectuosos uns com os outros. Por amor ao Bem-Amado, queimai totalmente o véu do ego com a chama do fogo imortal, e com faces jubilosas e radiantes de luz, associai-vos com o vosso próximo. (Baha’u'llah, Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, sec.CXLVII)

A segunda vem de um livro de referência de Bahá’u’lláh sobre a viagem espiritual: Os Sete Vales. Muitas vezes, voltamo-nos para os nossos aparelhos porque nos sentimos aborrecidos com o que está ao nosso redor. Nesta citação, Bahá’u’lláh descreve um buscador espiritual que encontra oportunidades para a felicidade divina em todos os lugares:

Nesta viagem, o viajante habita em todas as terras e mora em todas as regiões. Em todas as faces, ele procura a beleza do Amigo; em todos os países, ele contempla o Amado. Ele junta-se a todas as companhias, e procura comunhão com todas as almas, para que, por ventura, possa descobrir o segredo do Amigo, ou em alguma face possa contemplar a beleza do Amado. (Bahá’u’lláh, The Seven Valleys, p. 7)

A terceira vem de uma das epístolas de Bahá’u’lláh para o proeminente líder zoroastriano Manikchi Sahib. Quando estamos absorvidos com os nossos aparelhos, a nossa capacidade de acção para melhorar a sociedade pode-se resumir apenas a falar sobre coisas nas redes sociais. Neste excerto, Bahá’u’lláh escreveu sobre o poder transformador da luz de Deus e a necessidade de acções para alcançar uma satisfação verdadeira e duradoura:

Num tempo em que as trevas envolveram o mundo, o oceano do favor divino agitou-se e Sua Luz manifestou-se, para que os feitos dos homens fossem revelados. Esta, em verdade, é aquela Luz que foi predita nas escrituras celestiais. Se o Omnipotente assim desejar, os corações de todos os homens serão expiados e purificados através da sua palavra bondosa, e a luz da unidade irradiará o seu esplendor sobre cada alma e fará renascer toda a terra.

Ó povo! As palavras devem ser apoiadas por actos, pois os actos são o verdadeiro teste das palavras. Sem estes, elas nunca poderão saciar a sede da alma sequiosa, nem abrir os portais da visão perante os olhos dos cegos. (Baha'u'llah, The Tabernacle of Unity, pp.8-9)

A quarta citação é da Epístola da Sabedoria de Bahá’u’lláh. Para mim, sempre foi uma descrição geral de uma vida bem vivida e um apelo inspirador para a excelência espiritual:

Esforçai-vos para ser exemplos brilhantes para toda a humanidade e verdadeiras lembranças das virtudes de Deus entre os homens. Aquele que se levanta para servir a Minha Causa deve manifestar a Minha sabedoria, e esforçar-se para banir a ignorância da Terra. Sede unidos na consulta, sede unos em pensamento. Que cada amanhecer seja melhor que a véspera e cada amanhã mais rico do que ontem. O mérito do homem está no serviço e na virtude e não na ostentação de fortunas e riquezas. Acautelai-vos para que que as vossas palavras estejam limpas de fantasias fúteis e desejos mundanos, e que os vossos actos estejam livres de estratagemas e desconfianças. Não dissipeis a riqueza das vossas vidas preciosas na busca do mal e do afecto corrupto, nem permitais que os vossos esforços sejam gastos na promoção do vosso interesse pessoal. Sede generosos nos vossos dias de abundância e sede pacientes nas horas da perda. A adversidade é seguida pelo sucesso e ao regozijo segue-se o infortúnio. Protegei-vos contra a futilidade e a indolência, e segurai-vos àquilo que beneficia a humanidade, jovens ou idosos, poderosos ou humildes. (Bahá’u’lláh, Tablets of Bahá’u’lláh, p. 138)

Na noite em que recolhi estas citações, a minha esposa e eu tínhamos acabado de entoar orações para o nosso filho, quando ele adormecia, deitado na cama. As luzes estavam baixas. O ambiente era sereno. No passado, este momento de ir deitar e adormecer podia parecer banal e comum. Hoje, porém, as ligações pessoais íntimas que se criaram parecem cheias de possibilidades para uma nova era mais espiritual, mais luminosa.

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Greg Hodges é um apaixonado pela combinação da mudança social com a renovação espiritual. Vive com a sua esposa no Maine (EUA).

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