Por Greg Hodges.
Tal como a água que flui por um vale até a um rio mais abaixo, os nossos olhos e mentes dificilmente podem ficar longe dos nossos telefones, computadores e outros aparelhos com écrans.
A atracção
aparentemente irresistível pela paixão electrónica atrai-nos e prende-nos.
Mesmo quando rodeados pelas pessoas que nos são mais queridas e por
oportunidades de nos melhorarmos a nós próprios e viver a vida na plenitude,
mesmo assim, damos a nossa principal atenção aos prazeres on-line comuns.
Costumava
ser apenas um estorvo. Mas à medida que a dependência de aparelhos se aproxima
do vício e leva a um comportamento mais extremo, as nossas relações
disfuncionais com as tecnologias de informação acabam por se transformar numa
crise espiritual que afecta a sociedade como um todo.
Não haverá
saída? Será isto o melhor que podemos conseguir? Uma parte crescente da
sociedade actual diz que não. Mesmo que agora não tenhamos certezas - ou do que
poderão ser essas saída e que consequências poderão ter - existe um movimento
crescente de utilizadores insatisfeitos que sente que é possível um modo de
vida melhor. A nossa experiência directa com o ambiente que nos rodeia e com as
pessoas que nos são próximas pode ser a base para uma felicidade mais completa
e plena.
Então, o que
dizem os ensinamentos Bahá’ís sobre isto?
Esta não é
uma questão de resposta fácil. As figuras centrais da Fé Bahá’í escreveram há
mais de cem anos atrás; não tinham telefones, nem computadores. Consultar as
escrituras Bahá’ís sobre este tipo de vício não é o mesmo que como fazer uma
pesquisa no Google. As primeiras coisas que aparecem podem não parecer
directamente relevantes. Mas o carácter universal das escrituras Bahá’ís
permite que os leitores encontrem significados e orientações que podem não
estar explícitos no contexto original da mensagem.
Escolhi
quatro citações das escrituras de Bahá’u’lláh que sinto no meu coração serem
relevantes para a luta que hoje enfrentamos na busca de um relacionamento
saudável com a tecnologia da informação. Não considero de forma alguma que
estas citações sejam as mais importantes sobre o assunto. São apenas aquelas que
me dizem alguma coisa e que - quando uma noite reflecti sobre este tema - me
pareceram ter um grande poder. Procurem nelas a qualquer sabedoria que quiserem.
Se existirem outras citações não incluídas aqui que falam particularmente ao seu
coração, por favor partilhe-as nos comentários.
A primeira
citação está no livro Selecções das Escrituras de Bahá’u’lláh. Fala da alegria
que pode surgir ao levarmos uma chama espiritual para o nosso relacionamento
com os outros:
Como é triste se algum homem, neste
Dia, pousar o seu coração sobre coisas efémeras deste mundo! Levantai-vos e
segurai-vos firmemente à Causa de Deus. Sede os mais afectuosos uns com os
outros. Por amor ao Bem-Amado, queimai totalmente o véu do ego com a chama do
fogo imortal, e com faces jubilosas e radiantes de luz, associai-vos com o
vosso próximo. (Baha’u'llah, Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, sec.CXLVII)
A segunda
vem de um livro de referência de Bahá’u’lláh sobre a viagem espiritual: Os Sete
Vales. Muitas vezes, voltamo-nos para os nossos aparelhos porque nos sentimos
aborrecidos com o que está ao nosso redor. Nesta citação, Bahá’u’lláh descreve
um buscador espiritual que encontra oportunidades para a felicidade divina em
todos os lugares:
Nesta viagem, o viajante habita em
todas as terras e mora em todas as regiões. Em todas as faces, ele procura a
beleza do Amigo; em todos os países, ele contempla o Amado. Ele junta-se a
todas as companhias, e procura comunhão com todas as almas, para que, por
ventura, possa descobrir o segredo do Amigo, ou em alguma face possa contemplar
a beleza do Amado. (Bahá’u’lláh, The Seven Valleys, p. 7)
A terceira
vem de uma das epístolas de Bahá’u’lláh para o proeminente líder zoroastriano
Manikchi Sahib. Quando estamos absorvidos com os nossos aparelhos, a nossa
capacidade de acção para melhorar a sociedade pode-se resumir apenas a falar
sobre coisas nas redes sociais. Neste excerto, Bahá’u’lláh escreveu sobre o
poder transformador da luz de Deus e a necessidade de acções para alcançar uma
satisfação verdadeira e duradoura:
Num tempo em que as trevas envolveram
o mundo, o oceano do favor divino agitou-se e Sua Luz manifestou-se, para que
os feitos dos homens fossem revelados. Esta, em verdade, é aquela Luz que foi
predita nas escrituras celestiais. Se o Omnipotente assim desejar, os corações
de todos os homens serão expiados e purificados através da sua palavra bondosa,
e a luz da unidade irradiará o seu esplendor sobre cada alma e fará renascer
toda a terra.
Ó povo! As palavras devem ser
apoiadas por actos, pois os actos são o verdadeiro teste das palavras. Sem
estes, elas nunca poderão saciar a sede da alma sequiosa, nem abrir os portais
da visão perante os olhos dos cegos. (Baha'u'llah, The Tabernacle of Unity, pp.8-9)
A quarta
citação é da Epístola da Sabedoria de Bahá’u’lláh. Para mim, sempre foi uma
descrição geral de uma vida bem vivida e um apelo inspirador para a excelência
espiritual:
Esforçai-vos para ser exemplos
brilhantes para toda a humanidade e verdadeiras lembranças das virtudes de Deus
entre os homens. Aquele que se levanta para servir a Minha Causa deve
manifestar a Minha sabedoria, e esforçar-se para banir a ignorância da Terra.
Sede unidos na consulta, sede unos em pensamento. Que cada amanhecer seja
melhor que a véspera e cada amanhã mais rico do que ontem. O mérito do homem
está no serviço e na virtude e não na ostentação de fortunas e riquezas.
Acautelai-vos para que que as vossas palavras estejam limpas de fantasias
fúteis e desejos mundanos, e que os vossos actos estejam livres de estratagemas
e desconfianças. Não dissipeis a riqueza das vossas vidas preciosas na busca do
mal e do afecto corrupto, nem permitais que os vossos esforços sejam gastos na
promoção do vosso interesse pessoal. Sede generosos nos vossos dias de
abundância e sede pacientes nas horas da perda. A adversidade é seguida pelo
sucesso e ao regozijo segue-se o infortúnio. Protegei-vos contra a futilidade e
a indolência, e segurai-vos àquilo que beneficia a humanidade, jovens ou
idosos, poderosos ou humildes. (Bahá’u’lláh, Tablets of Bahá’u’lláh, p. 138)
Na noite em
que recolhi estas citações, a minha esposa e eu tínhamos acabado de entoar
orações para o nosso filho, quando ele adormecia, deitado na cama. As luzes
estavam baixas. O ambiente era sereno. No passado, este momento de ir deitar e
adormecer podia parecer banal e comum. Hoje, porém, as ligações pessoais
íntimas que se criaram parecem cheias de possibilidades para uma nova era mais
espiritual, mais luminosa.
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Greg Hodges
é um apaixonado pela combinação da mudança social com a renovação espiritual.
Vive com a sua esposa no Maine (EUA).
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