Por Rodney Richards.
Cuidar dos refugiados do mundo e dos
sem-abrigo é uma tarefa difícil, porque as necessidades normalmente superam largamente
os meios disponíveis.
Numerosas organizações governamentais e humanitárias
fazem o possível para ajudar esses refugiados, fornecendo terrenos, abrigos
temporários, comida, bebida, roupas, escolas e muito mais; com isso, os cada
vez maiores campos de refugiados no mundo podem responder temporariamente às
necessidades de milhões de pessoas deslocadas.
Recentemente, o ACNUR - a Agência das
Nações Unidas para os Refugiados - informou que o número de pessoas deslocadas
no mundo aumentou para 65,6 milhões - mais do que toda a população do Reino
Unido. Esse número surpreendente (inclui um aumento de 300.000 em relação ao
ano anterior) é o maior número de refugiados alguma vez registado.
O que pode uma pessoa fazer em relação a
esta crise global? Temos a responsabilidade de agir ou devemos deixar essa
tarefa para organizações e governos?
Do ponto de vista de Bahá’í, ajudar os
refugiados sem lar é um assunto para todos. Bahá’u’lláh - Ele próprio um
refugiado e exilado - escreveu:
Ó ricos da terra! Não fujais da face do pobre que jaz no pó; pelo
contrário, sede amigos dele e permiti-lhe que conte a história dos males com
que o inescrutável decreto de Deus o afligiu. Pela rectidão de Deus! Enquanto
estiveres com ele, a Assembleia no alto estará a olhar por vós, a interceder
por vós, a louvar os vossos nomes e a glorificar a vossa acção. (Gleanings fromthe Writings of Baha’u’llah, sec. CXLV)
‘Abdu’l-Bahá, que também foi refugiado e
prisioneiro juntamente com o Seu Pai, afirmou:
Que todos vós possais estar unidos, que possais concordar, que possais
servir a solidariedade da espécie humana.
Que possais ser os bem-intencionados para toda a humanidade. Que possais
ser os auxiliadores de todo o pobre, que possais ser os enfermeiros do doente.
Que possais ser fontes de conforto dos que têm o coração despedaçado. Que
possais ser um refúgio para o vagabundo. Que possais ser uma fonte de coragem
para o assustado. Assim, com o favor e assistência de Deus poderá erguer-se o estandarte
da felicidade humana no centro do mundo e a insígnia da concórdia universal será
desfraldada. (The Promulgation of Universal Peace, p. 425)
Como exemplo do quão terrível se tornou a
actual crise de refugiados no mundo, vejamos o pequeno Líbano. Com 10.000 km2,
é um dos países mais pequenos do mundo em termos de superfície terrestre.
Durante a década de 1960, o Líbano era conhecido como "a Suíça do
Oriente" e Beirute, a sua capital, "a Paris do Médio-Oriente ".
Como sabemos, o Líbano tem como vizinhos a
Síria (a norte e a leste) e Israel (a sul). O Líbano tem sido atormentado por
violência sectária e guerra civil; em 1990, a guerra civil terminou e havia quase
um milhão de libaneses deslocados. Algumas partes do Líbano ficaram em ruínas,
e a Síria foi uma potência ocupante até 2005. Seguiram-se uma série de
assassinatos de líderes libaneses, facto que dificultou a formação de um
governo estável. Depois, em 2012, a guerra civil na Síria ameaçou transbordar
para o Líbano e, em 2013, mais de 677.000 refugiados sírios atravessaram a
fronteira libanesa, procurando a segurança relativa do país. Hoje o Líbano tem
mais de 1 milhão de refugiados sírios, aproximadamente um sétimo da população
do país.
Mas o Líbano não é o único país com
pessoas deslocadas e sem-abrigo. Como podemos nós, indivíduos, lidar com essas
questões urgentes e prestar ajuda aos deslocados, aos sem-abrigo e aos
refugiados? Quem pode servir como exemplo na ajuda a essas multidões indefesas?
Em 1932, Shoghi Effendi escreveu sobre uma
Bahá’í que fez exatamente isso:
O rebentar da Grande Guerra deu-lhe mais uma oportunidade para revelar o
verdadeiro valor do seu caráter e libertar as energias latentes no seu coração.
A residência de 'Abdu'l-Bahá em Haifa estava rodeada, durante todo aquele
conflito sombrio, por um grupo de homens, mulheres e crianças famintas, que a
má administração, a crueldade e a negligência dos funcionários do governo
otomano tinham levado a procurar ajuda para as suas aflições. Das suas mãos [de
Bahiyyih Khanum, irmã de Abdu'l-Bahá], e da abundância do seu coração, essas vítimas
infelizes de uma tirania abjecta recebiam, dia após dia, provas inesquecíveis
de um amor que aprenderam a invejar e a admirar. As suas palavras de alegria e
conforto, a comida, o dinheiro, as roupas que ela distribuía livremente, os medicamentos
que, por um processo próprio, ela mesma preparava e ministrava diligentemente -
tudo isso teve a sua parte no confortar do inconsolável, no recuperar da visão do
cego, no abrigar do órfão, no curar do doente e auxiliar o desalojado e o vagabundo.
(Baha’i Administration,, p. 193)
A Grande Guerra foi a Primeira Guerra
Mundial; o cenário era a Palestina; a Folha Mais Sagrada era o título da
Bahiyyih Khanum, a irmã mais velha de Abdu'l-Bahá.
Durante a Primeira Guerra Mundial, quando
a Palestina esteve isolada do mundo e ameaçada pela fome, Bahiyyih Khanum e ‘Abdu’l-Bahá
tornaram-se exemplos brilhantes de cuidado pelos pobres e necessitados, pelos
destituídos, pelos desafortunados e pelos refugiados – o tipo de exemplo que
começa no coração dos indivíduos, e inspira grupos e nações que hoje fornecem
ajuda:
Nem as autoridades britânicas foram lentas em expressar a sua gratidão sobre
o papel que ‘Abdu’l-Bahá desempenhou no aliviar do fardo dos sofrimentos que
oprimiam os habitantes da Terra Santa durante os dias tenebrosos daquele
conflito angustiante. (Shoghi Effendi, God Passes By, p. 306)
O governo britânico atribuiu o título de
Cavaleiro a ‘Abdu’l-Bahá devido ao seu trabalho que evitou a fome entre o povo
da Palestina durante a guerra.
Apenas o envolvimento pessoal, o amor e a
unidade – unidade de pensamento, de vontade e de acção – pode dar início a
soluções permanentes. Essa unidade, essa fraternidade global, esse amor, podem
nascer das soluções espirituais e práticas proclamadas por Bahá’u’lláh.
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Texto
original: What Can One Person Do about the World’s Refugees? (bahaiteachings.org)
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Rodney Richards é escritor técnico de
profissão e trabalhou durante 39 anos para o Governo Estadual de New Jersey.
Reformou-se em 2009 e dedicou-se à escrita (prosa e poesia),tendo publicado o
seu primeiro livro de memórias Episodes: A poetic memoir. É casado, orgulha-se
dos seus filhos adultos, e permanece um elemento activo na sua comunidade.
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