sábado, 2 de fevereiro de 2019

Bahá'u'lláh responde a um Cristão - e a todos os Cristãos

Por Christopher Buck.


Consegue imaginar o que seria escrever uma carta a um Mensageiro de Deus – e receber uma resposta? Foi isso que aconteceu quando o médico sírio Faris Effendi escreveu a sua declaração de fé em Bahá’u’lláh.

O significado do papel histórico de Faris - enquanto primeiro Bahá’í de origem Cristã - é sublinhado pelo próprio Bahá’u’lláh, no final da Sua epístola:
Por Deus, aos olhos de Deus, a criação desse homem é maior que a criação dos céus e da terra. Quando leres a sua missiva, exclama: “Exaltado seja Deus, Que desperta quem Ele quer com o Seu poder; Ele, em verdade, é Aquele que Desperta os Mundos!” (Bahá’u’lláh, Tablet to Rad’ar-Ruḥ, tradução provisória de Joshua Hall.)
A prova que esta epístola foi a resposta de Bahá’u’lláh à carta original de Faris surge no final da Epístola, onde Bahá’u’lláh, num toque pessoal, fala na primeira pessoa:
Recordo-Me quando a tua missiva foi recebida pela primeira vez, quando o Mais Grandioso Oceano submergiu a Arca devido àquilo que as mãos dos politeístas cometeram. E [tenho presente] aquele momento quando [a tua carta] foi apresentada perante [Bahá’u’lláh]… Recitámo-la e respondemos-te através desta Mensagem irrevogável e que tudo abrange. (Bahá’u’lláh, “Tablet for Faris Effendi the Christian,” tradução provisória de Stephen Lambden)
É curioso notar que Shoghi Effendi – o Guardião da Fé Bahá’í entre 1921 e 1957, e tradutor inspirado das escrituras Bahá’ís – traduziu um terço desta epístola a Faris:
O Sopro foi lançado e a Brisa espalhou-se, e de Sião surgiu o que estava oculto, e de Jerusalém ouviu-se a Voz de Deus, o Uno, o Incomparável, o Omnisciente. (Baha’u’llah, citado por Shoghi Effendi em The Promised Day is Come, p. 77)
...Ó concurso de patriarcas [Cristãos]! Aquele que foi prometido nas Epístolas já veio. Temei a Deus e não sigais as imaginações frívolas das superstições. Colocai de lado as coisas que possuis e segurai-vos firmemente à Epístola de Deus pelo Seu poder soberano. Isto é melhor para vós do que tudo o que possuis. Disto dá testemunho todo o coração entendido, e todo o homem de discernimento. Orgulhai-vos em Meu nome e, no entanto, isolai-vos de Mim com se por um véu? Isto, de facto, é uma coisa estranha!

... Ó concurso de Arcebispos! Apareceu aquele que é o Senhor de todos os homens! Na planície da orientação Ele chama a humanidade, enquanto vós sois contados entre os mortos! Grande é a bem-aventurança daquele que é animado pela Brisa de Deus e se ergueu de entre os mortos neste Nome perspícuo.

...Ó concurso de bispos! O tremor apoderou-se de todos clãs da terra, e Aquele que é o Pai Eterno brada entre a terra e céu. Bem-aventurada a orelha que ouviu e o olho que viu, e o coração que se voltou para Aquele que é o Ponto de Adoração de todos os que estão nos céus e todo os que estão na terra.

...Ó concurso de sacerdotes! Surgiu o Dia do Juízo Final, o Dia em que veio Aquele que estava no céu. Ele em verdade, é Aquele que vos foi prometido nos Livros de Deus, o Santo, o Omnipotente, o Todo-Louvado. Durante quanto tempo deambulareis no deserto da negligência e superstição? Voltai os vossos corações em direcção ao vosso Senhor, o Clemente, o Generoso. (Idem, pp. 100-102)
Podemos perguntar: se Bahá’u’lláh está a escrever para o médico Faris, então porque é nos excertos acima (traduzidos por Shoghi Effendi), Ele se dirige aos líderes mundiais do Cristianismo? Apesar desta epístola ser uma resposta à carta de Faris, Bahá’u’lláh escreveu simultaneamente uma “carta aberta” e proclamação pública – ao colectivo dos líderes religiosos e políticos de todo o mundo – sobre a Sua condição e missão divinas, pretendendo unificar o mundo através do poder dos Seus ensinamentos.

Bahá’u’lláh caracteriza a carta a Faris como “Epístola Poderosa”. Num jogo palavras simbólico e poético, Bahá’u’lláh alude ao significado do nome de Faris (“cavaleiro”):
Incumbe-te dar graças Àquele que te permitiu escutar o arrulho da Pomba e te fez compreender este Caminho Recto. Levanta-te para a vitória da Causa do teu Senhor, com sabedoria e perspicuidade. Ele, em verdade, auxilia quem quer que Ele deseje com uma soberania que vem d’Ele. Ele, seguramente, é o Todo-Poderoso, o Omnipotente. Suplicamos a Deus que te faça cavaleiro das realidades deste campo de batalha [hipódromo] e te faça de modo que as fantasias vãs não te separem de Deus, o teu Senhor e Senhor de todos os mundos. (Baha’u’llah, Tablet for Faris Effendi the Christian, tradução provisória de Stephen Lambden.)
O médico Faris representa – numa forma idealizada - todos os Bahá’ís de origem Cristã (incluindo eu próprio) que se levantam para levar a mensagem do “Evangelho” de Bahá’u’lláh ao resto do mundo.

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Texto original: Baha’u’llah Replies to the First Christian Baha’i - and to All Christians (www.bahaiteachings.org)

Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

1 comentário:

Courtney disse...

Lovely blog. Thanks for sharing with us.