Por Preethi.
Este ano, a celebração da Páscoa coincide
com o Ridvan. O que é que a Páscoa tem a ver com o Ridvan, poderíamos
perguntar. Na verdade, à primeira vista, parece não haver qualquer ligação
entre estas duas celebrações. Mas ao longo dos últimos dias, dei por mim a ler
sobre a perspectiva Bahá’í referente aos eventos que os Cristãos celebram
durante a Páscoa, e percebi que se retirarmos as tradições e rituais que se
tornaram sinónimos de Páscoa, então o verdadeiro significado da Páscoa está
muito próximo do significado do Ridvan.
Para os Cristãos, a Páscoa celebra a
ressurreição de Jesus três dias após a Sua crucificação na Sexta-Feira Santa.
Como fui criada numa família Cristã, lembro-me de ler histórias da Bíblia que
falavam da profunda dor e perda que os discípulos sentiram após a Sua crucificação.
Uma das minhas histórias favoritas é sobre Maria Madalena, que estava a chorar
em frente ao túmulo vazio de Jesus.
11 E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois,
chorando, abaixou-se para o sepulcro.
12 E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de
Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque
levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14 E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não
sabia que era Jesus.
15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que
era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e
eu o levarei.
16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer
dizer, Mestre).
17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai:
mas vai para os meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai,
meu Deus e vosso Deus.
18 Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que
ele lhe dissera isto.
(Jo 20:11-18)
Nós, Bahá’ís, entendemos a história da
ressurreição como uma alegoria espiritual e não uma verdade literal. ‘Abdu’l-Bahá
explica o significado da história bíblica no livro “Respostas a Algumas
Perguntas”:
... Após o martírio de Cristo, os Apóstolos ficaram perplexos e assustados.
A realidade de Cristo, que consiste nos Seus ensinamentos, nas Suas bênçãos,
nas Suas perfeições e no Seu poder espiritual, ficou oculta e desapareceu
durante dois ou três dias após o Seu martírio, e não teve aparecimento ou
manifestação externa - de facto, era como se estivesse totalmente perdida. Pois
aqueles que verdadeiramente acreditavam eram poucos em número, e mesmo esses
estavam perplexos e assustados. A Causa de Cristo era, pois, como um corpo sem
vida. Após três dias, os Apóstolos tornaram-se firmes e decididos,
levantaram-se para ajudar a Causa de Cristo, resolveram promover os
ensinamentos divinos e praticar os conselhos do seu Senhor, e esforçaram-se por
servi-Lo. Então a realidade de Cristo tornou-se resplandecente, a Sua graça
brilhou, a Sua religião encontrou uma nova vida, e os Seus ensinamentos e
conselhos tornaram-se manifestos e visíveis. Por outras palavras, a Causa de
Cristo, que era como um corpo sem vida, despertou para a vida e ficou rodeada
pela graça do Espírito Santo. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newlyrevised edition, pp. 117)
Não é difícil imaginar a dor que os
primeiros seguidores dos Manifestantes de Deus devem ter sentido quando
testemunharam o sofrimento infligida a esses Mensageiros Divinos. Em cada
Dispensação, temos histórias sobre como estes seguidores se sentiram quando se
separaram do Manifestante, e não sabiam o que fazer. Isto não foi diferente no
tempo de Bahá’u’lláh.
Após o martírio do Báb e a perseguição
contra a comunidade Bábi, o exílio de Bahá’u’lláh – que era visto pelos Bábis
como o líder da sua comunidade – entristeceu e perturbou profundamente os
Bábis. Tal como os discípulos de Cristo após a crucificação, devem ter
considerado todos aqueles acontecimentos como um golpe fatal na sua Causa e
ficaram sem saber o que fazer.
No entanto, no jardim de Ridvan – tal como
três dia após a crucificação de Jesus – a dor que os Babis devem ter sentido ao
despedirem-se de Bahá’u’lláh deve-se ter transformado em alegria inimaginável
ao saberem que Bahá’u’lláh tinha anunciado ser “Aquele que Deus tornará
manifesto”.
A Páscoa, tal como o Ridvan, é, portanto,
uma celebração do triunfo da Causa divina - onde a dor é transformada em
alegria e a perseguição em vitória. E agora que iniciamos a celebração dos 12
dias do Festival de Ridvan, desejamos uma Páscoa feliz a todos os nossos amigos
Cristãos!
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Texto
original: Ridvan and Easter (www.bahaiblog.net)
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Na sua vida profissional, Preethi tem-se
envolvido em áreas como a educação, o desenvolvimento comunitário e o direito.
No entanto, no seu coração, ela é uma criança que vê o mundo como um enorme
parque de brincadeiras. Actualmente está a desenvolver um projecto educativo
para levar histórias e culturas do mundo aos jovens, com recursos no One Story
Classroom.
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