sábado, 18 de maio de 2019

Porque é que os Bahá’ís não votam em função dos partidos políticos

Por Peter Gyulay.


Como é sabido, os Bahá’ís não participam na política partidária, nem em debates políticos:
Os assuntos religiosos não se devem misturar com a política, na actual situação do mundo, pois os seus interesses não são idênticos. A religião interessa-se por assuntos do coração, do espírito e da moral.

A política ocupa-se com as coisas materiais da vida. Os mestres da religião não devem invadir o campo da política; devem preocupar-se com a educação espiritual do povo; devem dar sempre bons conselhos aos homens, tentar servir Deus e a espécie humana; devem esforçar-se por tentar despertar uma ambição espiritual, e trabalhar para alargar a compreensão e conhecimento da humanidade, para melhorar a moral, e aumentar o amor pela justiça. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pags. 158-159)
Para os Bahá’ís, este princípio do não envolvimento na política partidária emerge do princípio básico da Fé Bahá’í: a unidade. Bahá’u’lláh escreveu: “Tão poderosa é a luz da humanidade que pode iluminar toda a terra.” (Epistle to the Son of the Wolf, p. 14)

Com este propósito, os Bahá’ís envolvem-se no desenvolvimento social através de um discurso colectivo em vez de apoiar facções.

Assim, os Bahá’ís que vivem em países democráticos participam nos processos eleitorais, votando para escolher quem os deve representar e liderar o seu país. Na verdade, ‘Abdu’l-Bahá afirmou que era importante que todos os cidadãos votassem:
… como o governo da América é uma forma republicana de governo, é necessário que todos os cidadãos participem na eleição dos seus dirigentes e participem nos assuntos da república. (Tablets of Abdu’l-Baha, Volume 2, p. 342)
Isto mostra que cada cidadão de um país democrático tem a importante responsabilidade de expressar a sua opinião através do seu voto.

Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá’í, também afirmou que os Bahá’ís “… podem votar, se o puderem fazer, sem se identificar com um ou outro partido.” (Directives from the Guardian, pag. 81)

Então os Bahá’ís votam, mas não apoiam qualquer partido político. Como é que isso funciona?
Nenhum Bahá’í pode ser considerado republicano ou democrata. Ele é, acima de tudo, um apoiante dos princípios enunciados por Bahá’u’lláh, com os quais - estou firmemente convicto – nenhum programa partidário é completamente harmonioso… (Shoghi Effendi, dirigido à Assembleia Nacional dos Estados Unidos e Canadá, 26 de Janeiro de 1933: Baha’i News, No. 85, July, 1934, p. 2)
Claro que um partido político pode ter políticas que promovam alguns princípios Bahá’ís, mas haverá sempre outros aspectos que estarão em conflito. Os Bahá’ís não se querem filiar em qualquer grupo que rejeite qualquer dos princípios e ensinamentos da sua Fé.

Então como é possível aos Bahá’ís votar se não se envolvem na política partidária? A atitude dos Bahá’ís é de votar na pessoa e nas suas políticas, mas não no partido. Se as leis do país permitem, os Bahá’ís registam-se para votar e mantêm a sua independência.

Antes da eleição, cada Bahá’í que deseja votar, compara cuidadosa e conscienciosamente cada candidato, as suas políticas, o seu carácter e experiência, e depois escolhe a pessoa que acredita ser o líder mais competente. Isto significa que a sua preferência pode alternar entre candidatos de diferentes partidos, porque o Bahá’í não é seguidor fiel de qualquer partido ou dirigente partidário.

Apesar do processo eleitoral secular se realizar de forma diferente do processo eleitoral Bahá’í – onde não existem filiações políticas, candidaturas ou campanhas eleitorais – cada Bahá’í ao votar pode adoptar algumas das abordagens das eleições Bahá’ís, escolhendo as políticas que têm mais aspectos em comum com os princípios Bahá’ís: a promoção da unidade mundial, a igualdade entre homens e mulheres, o fim da discriminação racial e religiosa, a redução das diferenças entre ricos e pobres.

Mas apesar dos Bahá’ís decidirem individualmente em quem votar, eles esforçam-se por não se deixar levar por cultos de personalidade que varrem muitos países durante as campanhas eleitorais. Os Bahá’ís tentam fazer uma escolha ponderada e imparcial, ignorando as mensagens distorcidas tantas vezes transmitidas pela comunicação social.

Os Bahá’ís que decidem votar – apesar de escolherem o candidato que consideram mais adequado para o cargo – devem esforçar-se por se distanciar dos resultados. Os Bahá’ís respeitam a decisão da maioria; por esse motivo, não consideram que um líder recém-eleito foi uma escolha errada, nem criticam essa escolha. Os Bahá’ís respeitam o governo e abstêm-se de espalhar a discórdia com opiniões políticas negativas ou críticas públicas.

Os Bahá’ís obedecem aos governos, a menos que esses governos lhes exijam que violem princípios Bahá’ís fundamentais. Os Bahá’ís, por exemplo, nunca obedeceriam a uma ordem governamental que lhes exigisse que rejeitassem as suas crenças ou negassem os seus princípios. Nessas situações, os Bahá’ís têm a liberdade - e até a obrigação - de falar contra essas exigências e expor a verdade. E convém sempre lembrar que apesar dos Bahá’ís poderem participar na eleição de dirigentes que acreditam poder dar um contributo positivo, no fundo, dedicam as suas energias e esperanças aos princípios regeneradores da sua religião.

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Texto original: Why Baha’is Don’t Vote Based on Party (www.bahaiteachings.org)

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Peter Gyulay é escritor, músico e educador da Austrália. Interessa-se pela exploração dos aspectos mais profundos da vida. Tem um site com a sua escrita e música e um blog chamado The nooks and crannies of existence.

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