Há mais de 1400 anos, que os Muçulmanos acreditam que Jesus predisse a vinda de um mensageiro depois d’Ele , e que se chamaria Ahmad – uma referência inequívoca a Maomé:
E quando Jesus, o filho de Maria disse: ó filhos de Israel, em verdade eu sou o apóstolo de Deus que vos foi enviado, confirmando a lei que vos foi entregue antes de mim, e confirmando as boas novas de um apóstolo que virá depois de mim, e cujo nome será Ahmad. (Alcorão 61:6)Entretanto, os Cristãos também têm negado que exista no Novo Testamento qualquer referência a Maomé; e a isso os Muçulmanos respondem dizendo que os Cristãos eliminaram do texto das profecias relevantes. Esta antiga controvérsia alargou o fosso existente entre os mundos Muçulmano e Cristão.
Foram feitas algumas tentativas para harmonizar o grego do “Consolador” prometido no Evangelho de João (14:16) e da Primeira Epístola de João (2:1) com a palavra árabe que melhor traduz esse termo. Mas a palavra grega “parakletos” (em português, paráclito) significa “advogado” enquanto que Ahmad significa “louvado”
A palavra grega mais próxima - periklytos - significa “muito louvado”. Esta explicação é apelativa para alguns Muçulmanos, convencidos pelas interpretações tradicionais de certos versículos do Alcorão de que as escrituras Cristãs foram falsificadas ou “perdidas” para impedir o reconhecimento de Maomé. Esta é uma afirmação absurda aos olhos dos Cristãos que nem serve para iniciar uma demonstração histórica natural de Maomé ser o sucessor e o regresso de Jesus.
No entanto, há uma palavra anteriormente ignorada que pode ser considerada uma ligação entre Cristianismo e Islão. Bahá’u’lláh escreveu:
... os povos Cristão e Judeu não compreenderam a intenção das palavras de Deus e as promessas que Ele lhes fez no Seu Livro, e por isso negaram a Sua Causa, afastaram-se dos Seus Profetas, e rejeitaram as Suas provas. (Baha’u’llah, Gems of Mysteries, p. 6)E depois prossegue:
Irei agora relatar alguns excertos revelados nos Livros antigos e mencionar alguns dos sinais que anunciam o aparecimento das Manifestações de Deus na pessoa santificada dos Seus eleitos. (Idem, p.7)Bahá’u’lláh cita primeiramente o Evangelho de Mateus dizendo: “Este é o texto que foi revelado anteriormente no primeiro evangelho, segundo Mateus, sobre os sinais que devem necessariamente anunciar o advento d’Aquele que virá depois d’Ele…” (idem)
Logo após a aflição daqueles dias, o Sol irá escurecer-se, a Lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. Ele enviará os seus anjos, com uma trombeta altissonante, para reunir os seus eleitos desde os quatro ventos, de um extremo ao outro do céu. (Mateus 24:29-31)Bahá’u’lláh também cita o Evangelho de Lucas:
Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre os povos, aterrados com o bramido e a agitação do mar; os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai acontecer ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima. (Lc 21:25-28)Estes dois excertos dos evangelhos predizem que o “Filho do homem” – interpretado pelos Cristãos como sendo o regresso de Jesus Cristo – regressará com “grande poder e glória”. Os termos gregos originais usados para “glória” nestas narrativas evangélicas significam “louvor, honra, glória, esplendor, reconhecimento”. Os tradutores e comentadores tradicionalmente traduziram a palavra no contexto em que se encontra em ambos os textos evangélicos como significando “glória”.
A palavra hebraica “kavod” tem sido frequentemente traduzida para grego como “doxis” e partilham o significado de “glória”. Também partilham o sentido de esplendor, honra, brilho – tudo isto são termos associados ao aparecimento do divino no deserto do Sinai a Moisés, e a alguns profetas, especialmente Ezequiel. Assim, “glória” ajusta-se ao significado grego destes versículos.
Mas porque existem outros significados, é tentador analisar como se poderiam relacionar com as profecias aparentemente não cumpridas sobre o aparecimento de Maomé. É esperado que o regresso de Jesus Cristo seja recebido com hinos de louvor pelos seus seguidores em toda a terra. A raíz da palavra árabe “Ahmad”-H-M-D mostra-nos que todas as palavras que derivam dessa raiz estão relacionadas com “louvor”. Isso inclui “Ahmad que significa “altamente louvado” e Maomé (Muhammad) que significa “digno de louvor”.
Será que os sábios Muçulmanos não estavam suficientemente familiarizados com as narrativas do texto grego original do evangelho para reconhecer que o prometido Ahmad do Alcorão e nome do seu profeta Maomé (Muhammad) estar ali, nas “nuvens do céu, com grande poder e glória”?
Será que os sábios Cristãos não quiseram destacar estas semelhanças entre a terminologia grega e árabe por temer que os seus correligionários pudessem abandonar o rebanho e aderir ao Islão? Quaisquer que tenham sido os obstáculos dos tempos passados, agora estamos num tempo de compreensão mútua para a humanidade por esse motivo todos temos boas razões para considerar novas formas de interpretar estas palavras antigas.
Se se pretende defender que Jesus previu o aparecimento de Maomé, isto pode ser o princípio para curar as feridas que separaram e criaram inimizades entre as duas maiores comunidades religiosas no planeta. Pode mesmo levar as pessoas a reconhecer a unicidade essencial de todos os profetas e das suas religiões, cumprindo as próprias palavras de Bahá’u’lláh:
Se fores dos habitantes desta cidade no interior do oceano da unidade divina, verás todos os Profetas e Mensageiros de Deus como uma só alma e um só corpo, como uma só luz e um só espírito, de tal forma que o primeiro entre eles será o último e o último será o primeiro. Pois todos eles se levantaram para proclamar a Sua Causa e estabeleceram as leis da sabedoria divina. Eles são – cada um, e todos – as Manifestações do Seu Ser, os Repositórios do Seu poder, os Tesouros da Sua Revelação, os Lugares de Alvorada do Seu esplendor e os Amanheceres da Sua luz. Através deles manifestaram-se os sinais da santidade nas realidades de todas as coisas e os sinais da unicidade nas essências de todos os seres. Através deles revelaram-se os elementos da glorificação nas realidades celestiais e os expoentes do louvor nas essências eternas. Deles proveio toda a criação e a eles regressará tudo o que foi mencionado. E porque nos seus mais íntimos Seres eles são os mesmos Luminares e os mesmos Mistérios, deverás ver as suas condições exteriores à mesma luz, para que possas reconhecê-Los a todos como um único Ser, ou melhor, vê-los unidos nas suas palavras, afirmações e expressões. (Baha’u’llah, Gems of Divine Mysteries, pp. 33-34)
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Texto original: Did Jesus Foretell Muhammad? (www.bahaiteachings.org)
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Peter Terry é um académico independente, músico e professor. É autor dos livros A Prophet in Modern Times (uma biografia do Bab), In His Own Words (uma biografia de Baha'u'llah), Proofs of the Prophets (uma compilação e comentário sobre as 40 provas da condição de Profeta), Proofs of the Prophets: Lord Krishna e Proofs of the Prophets: Baha'u'llah.
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