sábado, 23 de novembro de 2019

Compreender a Aliança de Bahá’u’lláh

Por Maya Bohnhoff.


Os Bahá'ís acreditam que a característica mais distintiva da sua Fé é a providência específica que Bahá'u'lláh tomou ao nomear um centro da Sua aliança:
Quanto à mais grandiosa característica da Revelação de Bahá'u'lláh - um ensinamento específico que não foi dado por qualquer Profeta do passado – é a ordenação e nomeação do Centro da Aliança. Com esta nomeação e disposição, Ele salvaguarda e protege a religião de Deus contra diferenças e cismas, tornando impossível que qualquer pessoa crie uma seita ou facção de crença. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, pp. 455-456)
“A mais grandiosa característica da Revelação de Bahá'u'lláh”. Isto soa a algo muito importante, certo? Mas o que é que ‘Abdu’l-Bahá pretende dizer com “Centro da Aliança” e o que a torna tão importante e singular?

No passado nunca existiu qualquer instrução escrita para os crentes sobre a fonte da orientação após a ascensão do fundador da Fé. É certo que cada Profeta de Deus tinha um discípulo principal. Para Krishna, foi Arjuna; para Buda, foi Ananda; para Cristo, foi Pedro; para Maomé, foi Ali. A frase de Cristo dirigida a Pedro, dizendo “...tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja” é entendida por alguns Cristãos como significando que Pedro foi nomeado por Cristo como líder da Fé. Esta crença está na base da Igreja Católica, mas as doutrinas Cristãs baseiam-se, essencialmente, nas cartas do apóstolo Paulo. Maomé nomeou verbalmente como sucessor o Seu genro Ali, mas os mais velhos entre os seus seguidores acharam que Ali era demasiado jovem para exercer um poder temporal e devia ser apenas líder espiritual.

Os estudantes de história e crentes aprofundados sabem certamente que as antigas religiões sofreram múltiplos cismas após o falecimento dos seus profetas. O Budismo dividiu-se quase imediatamente em duas grandes correntes, e posteriormente em vários ramos. Existem milhares de igrejas Cristãs, algumas nascidas após episódios de horrível violência entre Cristãos. O Islão dividiu-se nas facções pró e contra Ali – uma divisão que ainda hoje é motivo de conflito. Nenhuma destas religiões têm uma autoridade central única. Além disso, nenhum Profeta desde Moisés deixou um plano para as instituições que deveriam servir a comunidade dos crentes. Bahá’u’lláh, porém, aboliu o sacerdócio e – para proteger a unidade da Sua Fé – deixou instruções explicitas no Seu Testamento para os crentes se voltarem apenas para ‘Abdu’l-Bahá após a Sua ascensão:
A Vontade do Testador divino é esta: incumbe aos Aghsan, aos Afnan [descendentes de Bahá’u’lláh e do Báb] e aos Meus Parentes – todos sem excepção – voltar as suas faces para o Mais Grandioso Ramo [um dos títulos de ‘Abdu’l-Bahá]. Considerai aquilo que revelámos no Nosso Livro Mais Sagrado: “Quando o oceano da Minha presença tiver vazado e o Livro da Minha Revelação estiver terminado, voltai as vossas faces para Aquele Que Deus propôs, Que ramificou desta Raiz Antiga”. O objecto deste versículo sagrado não é outro senão o Mais Grandioso Ramo. (Bahá’u’lláh, Tablets of Bahá’u’lláh, p. 221)
Agora, poder-se-ia supor que com instruções claras como estas, ninguém que acreditasse em Bahá’u’lláh tentaria sequer violar esta Aliança explicita. Mas a verdade é que esta Aliança explicita tem sido repetidamente desafiada. A Aliança de Bahá’u’lláh não impede, como que por magia, que as pessoas a desafiem. No entanto, a sua função protectora tem garantido que todos os que surgem para a desafiar acabam por ser incapazes de destruir a unidade Fé Bahá’í.

É por isso que a “mais grandiosa característica” da Fé Bahá’í consiste numa cláusula que conserva e protege a sua unidade.

Não esqueçamos o carácter único do tempo em que vivemos. Possuímos instrumentos que podem destruir o mundo ou uni-lo. A tecnologia dá-nos armas poderosas, viagens rápidas, comunicações instantâneas, enormes populações que falam a mesma língua (ou línguas). Da mesma forma, devemos recordar-nos do derradeiro propósito da Fé de Bahá'u'lláh: unir a humanidade. Por isso, não é surpreendente que Bahá’u’lláh tenha deixado instruções escritas para a protecção da sua unidade:

Hoje o poder dinâmico no mundo da existência é o poder da Aliança que é como uma artéria que pulsa no corpo do mundo contingente e protege a unidade Bahá’í.

Aos Bahá’ís é ordenado que estabeleçam a unicidade da humanidade; se eles não se conseguirem unir em torno de um ponto, como conseguirão realizar unidade a humanidade?
O propósito da Abençoada Beleza ao criar esta Aliança e Testamento foi reunir todos os seres existentes em torno de um ponto para que almas imprevidentes – que em todos os ciclos e gerações têm sido causa de discórdia – não possam debilitar a Causa. ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, #183)
Seguidamente iremos explorar o significado o significado desta função protectora única.

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Texto original: Understanding Baha’u’llah’s Covenant (www.bahaiteachings.org)

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

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