sábado, 14 de dezembro de 2019

Porque é que eu acredito que Cristo regressou

Por Vahid Houston Ranjbar.


Há muito tempo que as pessoas aguardam o regresso de Cristo ou o Dia do Juízo Final; isto significa que qualquer pretensão de cumprimento dessas profecias é vista com uma dose saudável de cepticismo.

Temos boas razões para esse cepticismo: muitas previsões de cataclismos, afirmações fantásticas, e pretensos messias que congregam seguidores ao seu redor e satisfazem com práticas e crenças bizarras. No entanto, na maioria das vezes, nada acontece.

Como Bahá’í, estou plenamente convicto que este momento extraordinário ocorreu em meados do século XIX.

Na verdade, vou ao ponto de dizer que o regresso de Cristo é quase óbvio para quem quer que examine as circunstâncias, a história e o carácter de Bahá’u’lláh, do Báb e dos Seus seguidores. O evento em si nada tem a ver com as visões espectaculares de estrelas a cair do céu e de um ser luminoso a descer fisicamente à Terra, como algumas pessoas imaginam. Este tipo de imagens populares e fantasistas fazem parte do entendimento comum sobre este evento – uma interpretação literal e não-metafórica do Novo-Testamento.

Longe deste cenário fantástico, os acontecimentos que rodeiam o nascimento da Fé Bahá’í são compreensíveis – pelo menos superficialmente.

Começou em 1844, quando um comerciante com 24 anos de idade, residente na cidade de Shiraz, na Pérsia, assumiu o título de “O Báb” – uma palavra árabe que significa “Porta”. Ele afirmou ser o Prometido do Islão Xiita e disse que vinha preparar o caminho de alguém ainda maior, tal como João Baptista fizera em relação a Cristo. Ele declarou que a Sua revelação anunciava o advento de “Aquele que Deus tornará Manifesto”, o mensageiro divino que cumpriria as profecias de todas as religiões do passado.

Surpreendentemente, o breve e tumultuoso ministério do Báb tem muitos paralelismos com a vida de Cristo. Ele reuniu ao seu redor muito discípulos devotos, realizou milagres (apesar do Báb ter proibido que fossem atribuídos milagres à Sua pessoa), pregou contra as instituições clericais corruptas e foi executado em 1850 por um governo que temia a rápida disseminação da sua Fé. Mais tarde, em 1863, um jovem da nobreza persa com o título “Bahá’u’lláh” – que significa “a glória de Deus” – que tinha apoiado a causa do Báb e sido encarcerado e exilado, declarou ser Ele o prometido pelo Báb:
Ó povos do mundo! O Sol da Verdade ergueu-se para iluminar toda a terra e espiritualizar a comunidade do homem. Louváveis são os seus resultados e frutos, abundantes são as evidências sagradas que provêm da sua graça. Isto é misericórdia perfeita e a mais pura dádiva; é luz para o mundo e todos os seus povos; é harmonia e camaradagem, amor e solidariedade; de facto, é compaixão e unidade, e deixarmos de nos vermos como estranhos; é sermos um, em completa dignidade e liberdade, com toda a terra. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, p. 1)
Esta história notável – com heróis que preenchem a história inicial da Fé Bahá’í – contém os grandes arquétipos que permanecerão durante eras na consciência humana; são a base de mitos e lendas.

A história das religiões Babi e Bahá’í inclui heróis como Tahirih, considerada a primeira mártir moderna pela emancipação feminina; Mulla Husayn, o estudioso, investigador, primeiro discípulo e combatente heróico pela Causa do Báb; e, mais tarde, ‘Abdu’l-Bahá - o filho mais velho de Bahá’u’lláh, nascido na mesma noite em que o Báb fez a Sua declaração, em 1844 - cuja vida personifica e própria essência dos ensinamentos de Cristo. Vale a pena ouvir a narrativa das suas histórias, nem que seja apenas pelo drama e felicidade que evidenciam. Estas almas notáveis parecem ter sido esculpidas em mármore, enquanto estiveram neste mundo mortal. Toda uma geração de iranianos de todas as classes sociais foi afectada pela força das revelações do Báb e de Bahá’u’lláh; milhares deram as suas vidas preferindo não renunciar à sua nova fé.

Frequentemente, quando falo com pessoas com tendência mais fundamentalistas, o seu cepticismo centra-se em torno da natureza não-extraordinária do advento de Bahá’u’lláh – e do princípio Bahá’í de aceitação de outras dispensações religiosas como parte do plano de Deus. Mas se pensarmos um pouco sobre qualquer uma destas objecções, elas desmoronam-se sob uma análise lógica.

Primeiramente, suponhamos que, de facto, aparecia mesmo um ser luminoso descendo dos céus e afirmando ser Cristo. Se este acto aparentemente miraculoso fosse a característica distintiva do salvador, então como teríamos a certeza de que ele era o verdadeiro salvado, tendo em conta aquilo que sabemos sobre as possibilidades da tecnologia humana? Como dizia o escritor de ficção científica Arthur C. Clarke, “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”. A possibilidade simples mortais tecnologicamente avançados criarem um tal espectáculo de efeitos especiais poderia ser posta de parte?

Se a capacidade para criar fenómenos físicos miraculosos é a medida para aceitar a autoridade espiritual, então não deveriam ser os cientistas os mais venerados, pois eles são os mais bem-sucedidos nesta área? Se lermos os Evangelhos nesta perspectiva, torna-se óbvio que o principal poder atribuído a Cristo e a base da Sua autoridade se baseiam nos atributos não físicos do amor, da bondade e compaixão que Ele manifestava – e não em supostos milagres que ele realizava.

As maravilhas físicas que a Bíblia descreve, podem ter alguma faceta histórica, mas são mais importantes se entendidas pelo seu conteúdo metafórico. Repetidamente, a espiritualidade é colocada acima da aparência física do mundo. Então faz sentido, que a realização ou o surgimento de “maravilhas físicas” não podem ser usadas como prova para justificar ou rejeitar pretensões.

Por outro lado, parece-me lógico que se Cristo regressou, Ele será o juiz final para decidir se as outras religiões são ou não inspiradas por Deus. É óbvio que o juízo humano sobre este assunto não poderá superar o Seu. Por exemplo, quando durante o Seu primeiro advento, Cristo quebrou o sábado ou proclamou a sua Divindade, aqueles que O rejeitaram com base nisso tiveram alguma razão? No fundo, aqueles que O rejeitaram e O crucificaram fizeram-no porque os Seus ensinamentos não pareciam estar de acordo com o seu entendimento das Escrituras.

Se um Cristão racional levar a sério a promessa do regresso de Cristo, não pode, de forma alguma, ter a arrogância de pensar que compreende a Escritura melhor que Deus ou o Seu Mensageiro. Primeiramente, deve libertar-se de ideias pré-concebidas sobre o que Ele dirá ou ensinará; caso contrário, irá rejeitá-Lo exactamente pelas mesmas razões que Ele foi rejeitado no Seu primeiro advento. Quando estiver livre desses preconceitos, pode reflectir na história e circunstâncias do nascimento da Fé Bahá’í e perceber como cumprem esta promessa de regresso.

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Texto original: Why I Believe Christ Has Returned (www.bahaiteachings.org)

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Vahid Houston Ranjbar é um físico que trabalha no Relativistic Heavy Ion Collider no Brookhaven National Labs.

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