sábado, 4 de julho de 2020

Porque matamos os Profetas? O Martírio do Báb


A história contém uma narrativa trágica sobre a forma como nós, os humanos - em especial os que têm poder - tratamos os profetas. O que faz os nossos dirigentes reagir tão cruelmente aos fundadores das grandes religiões mundiais?

Porque desprezamos e matamos os nossos profetas?

Provavelmente já todos percebemos que as autoridades e os líderes sociais têm um registo histórico dramático quando abordam os santos mensageiros de Deus. Eles foram os responsáveis pelos terríveis maus-tratos infligidos aos fundadores das grandes religiões mundiais e aos seus primeiros seguidores. Foram os actos desses líderes que levaram Abraão e Moisés serem alvo de prisão, exílio, escárnio e perseguição. Krishna e Buddha foram ridicularizados e censurados pelos governantes do seu tempo. Os líderes políticos e religiosos de pretensas civilizações avançadas crucificaram Cristo, fizeram guerra a Maomé, exilaram e encarceraram Bahá’u’lláh e executaram o Báb.

Talvez ainda não tenham ouvido falar do Báb e do que Lhe aconteceu. A extraordinária história deste jovem e carismático profeta pode surpreender o(a) leitor(a). No fundo, Ele iniciou uma nova religião progressista no seio de uma das sociedades mais corruptas e atrasadas do mundo, e consequentemente sofreu tremendamente.

O Báb (título que em árabe significa “A Porta” ou “O Portão”) foi um jovem persa – de nome próprio Siyyid Ali Muhammad - que anunciou a Sua mensagem 1844. Os Seus ensinamentos religiosos tinham raízes no misticismo profético Sufi, prevalecente na Pérsia do sec. XIX. O Báb transmitiu uma mensagem excitante - que vinha anunciar o futuro aparecimento de uma grandiosa revelação mundial, tal como João Baptista tinha anunciado o advento de Cristo - e que Ele e o Prometido iriam unir a humanidade e reconciliar as suas tradições religiosas:
Tornai-vos como verdadeiros irmãos na una e indivisível religião de Deus, libertos das diferenças, pois, em verdade, Deus deseja que os vossos corações sejam espelhos para os vossos irmãos de Fé, para que vos encontrais reflectidos neles, e eles em vós. Este é o verdadeiro caminho de Deus, o Omnipotente, e Ele, na verdade, está atento aos vossos actos. (Selections from the Writings of the Bab, p. 55)
A Fé Babi assumiu rapidamente uma intensidade ardente naquela cultura agrilhoada em tradições. Inicialmente eram poucos os aderentes que conheciam os ensinamentos do Báb; mas depois, milhares e dezenas de milhar tornaram-se Babis, afastando-se das tradições e práticas sociais islâmicas, e desafiando a autoridade dos seus líderes. Os governantes da Pérsia e o seu poderoso clero reagiram agressivamente a estes desenvolvimentos. Seguiu-se uma campanha de perseguições e chacinas brutais.

Seis anos após o surgimento desta nova Fé, o governo decretou a execução do seu jovem e carismático fundador. Já tinham sido torturados e executados mais de 20.000 seguidores fervorosos do Báb durante aqueles breves e intensos seis anos de existência do movimento Babi. O Báb apelava para mudanças revolucionárias nos sistemas de crenças e governação, e proclamava a unidade de todas as religiões; consequentemente, as autoridades receavam que este desafio dinâmico e o seu crescente apoio viesse a restringir ou desfazer o seu poder.

Com a sua vasta chacina contra os Babis, o rei da Pérsia e os mullás tentavam acabar com o movimento Babi; mas era cada vez mais as pessoas que se tornavam Babis, apesar das perseguições horríveis. Finalmente, em Julho de 1850, as autoridades condenaram o Báb à morte; acusaram-No de apostasia – a mesma acusação que os fariseus fizeram a Jesus – mas o Báb recusou-Se a negar os Seus ensinamentos e aceitou tranquilamente as consequências.

A sentença seria executada no dia 9 de Julho de 1850, por um pelotão de fuzilamento, numa praça da cidade de Tabriz. Anis, um dos mais jovens seguidores do Báb, insistiu em acompanhá-Lo na morte, e as autoridades aceitaram o seu pedido. Uma enorme multidão reuniu-se na praça, preparando-se para assistir ao acontecimento.

Praça de Tabriz onde o Báb foi executado.
Na manhã anterior ao fuzilamento, Sam Khan, o coronel que comandava o regimento arménio de soldados mercenários que deveriam executar o Báb, pediu perdão ao Báb. “Eu professo a Fé Cristã, e não vos desejo qualquer mal”, disse Khan ao Báb na Sua cela, “Se a Vossa Causa for a Causa da Verdade, livrai-me da obrigação de derramar o vosso sangue.”

Sam Khan
O Báb respondeu ao comandante: "Segui as vossas instruções, e se a vossa intenção for sincera, o Omnipotente poderá certamente aliviar-vos da vossa dificuldade."

Depois de levado para a praça, o Báb foi amarrado e pendurado com cordas junto à parede de um aquartelamento.

Após a ordem de fogo de Sam Khan, os mosquetes do regimento disparam. Testemunhas ocidentais que presenciaram o evento referem que “o fumo das setecentas e cinquenta armas foi tanto que a luz do dia se transformou em escuridão.

Quando o fumo se desvaneceu, a multidão viu que o Báb tinha desaparecido.

Anis estava ileso junto à parede; as cordas que o prendiam estavam desfeitas em pedaços. Surpreendida, a multidão começou a gritar que tinha visto um milagre.
“O Siyyid-i-Bab desapareceu da nossa vista!” clamava a multidão agitada. Começaram freneticamente a procurá-Lo e acabaram por O encontrar sentado na Sua cela, a falar com Siyyid Husayn – uma conversa que tinha sido interrompida. O Seu rosto mostrava uma calma imperturbável. O Seu corpo tinha escapado ileso à saraivada de balas que o regimento Lhe dirigira. “Terminei a Minha conversa com Siyyid Husayn”, disse o Báb [ao oficial]. Agora podeis prosseguir o comprimento da vossa intenção”. (Nabil, The Dawn-Breakers, p. 513)
Entretanto, o Coronel Sam Khan ordenou ao seu regimento que abandonasse a praça e jurou que nunca mais obedeceria a uma ordem semelhante, mesmo que isso lhe custasse a sua própria vida. Quando as tropas de Khan saíram da praça, o coronel que comandava a tropa local ofereceu-se para realizar a execução. Nesse momento o Báb proferiu as Suas últimas palavras:

"Se tivésseis acreditado em Mim, ó geração perversa, cada um de vós teria seguido o exemplo deste jovem que, em grau, é superior à maioria de vós, e de bom grado se teria se sacrificado no Meu caminho. Dia virá em que Me tereis reconhecido; nesse dia, Eu terei deixado de estar convosco. (The Bab, quoted by Shoghi Effendi in God Passes By, p. 53)

Os guardas penduraram novamente o Báb e o Seu companheiro Anis. O pelotão de fuzilamento tomou posição e disparou. À segunda tentativa, consumou-se a execução.

Hoje, corpos do Báb e do Seu seguidor repousam sob uma cúpula dourada no Monte Carmelo, em Haifa, na Terra Santa. Milhões de pessoas de todo o mundo visitam anualmente este local sagrado, onde o Santuário do Báb proclama ao mundo a mensagem Bahá’í de unidade, paz, amor e desprendimento.

No próximo dia 9 de Julho a comunidade Bahá’í assinala o martírio do Báb, homenageando o Seu sacrifício e reconhecendo o novo ciclo religioso que Ele iniciou e que abriu caminho para a mensagem revolucionária e unificadora de Bahá’u’lláh.

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Traduzido e adaptado de: Why Do We Kill Our Prophets? The Martyrdom of the Bab (www.bahaiteachings.org)

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