sábado, 28 de novembro de 2020

Transcender o Ego

Por David Langness.


Ó FILHO DO HOMEM!
Se Me amas, afasta-te de ti próprio; e se procuras o Meu agrado, não consideres o teu próprio; para que tu morras em Mim e Eu possa viver eternamente em ti.

Ó FILHO DO ESPÍRITO!
Não há paz para ti, salvo se renunciares a ti próprio e te volveres para Mim; porque te compete regozijar em Meu Nome e não em teu; pôr a tua confiança em Mim, e não em ti próprio; pois desejo ser o amado único e acima de tudo o que existe. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #7, #8)
A mais antiga e mais consistente orientação espiritual, de praticamente todas as filosofias, fés e sistemas de crenças, inclui a auto-transcendência. Nestas duas citações anteriores d’As Palavras Ocultas de Bahá’u’lláh, esse conselho eterno regressa.

Afasta-te de ti próprio”, pede-nos Bahá’u’lláh. Krishna, Buda, Cristo e Maomé pediram-nos para fazer o mesmo:
Esforça-te constantemente para servir o bem-estar do mundo; com a devoção ao trabalho altruísta, alcança-se a meta suprema da vida. Faz o teu trabalho com o bem-estar dos outros em mente. (Krishna, Bhagavad-Gita)

Apesar de se poder vencer mil vezes mil homens numa batalha, aquele que se vence o seu próprio ego é o maior dos conquistadores. (Buda)

Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. (Lucas 9:23-24)

O mais magnífico combate é a conquista do ego. (Maomé, Hadith Bukhari)
Mas o que significa afastarmo-nos de nós próprios e sermos desprendidos?

Os ensinamentos Bahá’ís enaltecem a busca do nosso próprio ser. Bahá’u’lláh aconselha todas as pessoas a procurar auto-conhecimento, a procurar a verdade de forma independente, e explorar as coisas que abrem a compreensão do seu próprio ser:
... o homem deve conhecer o seu próprio ser e reconhecer o que conduz à sublimidade ou à humilhação, à glória ou à degradação, à riqueza ou à pobreza. (Bahá’u’lláh, Tablets of Baha’u’llah, p. 34)
Mas conhecer o nosso próprio eu – essa parte única de cada pessoa – não é o fim da nossa caminhada espiritual. Pelo contrário, conhecer o nosso próprio eu significa que a caminhada começou.

Bahá’u’lláh – tal como todos os Profetas de Deus, todos os Mensageiros Divinos que fundaram uma nova religião – encoraja todas as pessoas a alargar os seus horizontes para lá do seu próprio ser, e a tentar ver e compreender um cenário mais amplo:
...guiados pela luz do nome de Deus, d'Aquele que tudo vê, livrai-vos das trevas que vos rodeiam. Que a vossa visão seja de âmbito mundial e não limitada a vós mesmos. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XLIII)
Depois de nos compreendemos a nós próprios, depois de sabermos quem somos, os ensinamentos Bahá’ís encorajam-nos a explorar e compreender a realidade mais ampla ao nosso redor - que a nossa “visão seja de âmbito mundial”.

E essa realidade inclui muito mais do que apenas o mundo material. Essa realidade inclui o mundo espiritual, a realidade mística intangível. Bahá’u’lláh pede-nos nestas duas Palavras Ocultas para que comecemos a considerar a nossa própria mortalidade e depois decidir o que fazer com essa realidade.

Ele pede-nos que para confiar em Deus, amar Deus e glorificar o Seu nome. E sugere que apenas a morte do ego pode demonstrar o nosso amor. E menciona a eternidade, apelando a todos nós para que reconheçamos que esta vida física vai inevitavelmente terminar. Há uma vida eterna à espera de cada um de nós, e Bahá’u’lláh diz-nos nas Palavras Ocultas que esta vida física, breve e limitada apenas a precede. Por fim, Ele pede-nos para “morrer em Mim” – transcender o ego, adoptar uma atitude de generosidade e desprendimento e servir a humanidade apenas por amor a Deus.

Este caminho para a auto-trancendência, diz-nos Bahá’u’lláh tal como nos disseram todos os Mensageiros do passado, levar-nos-á à felicidade:
Porventura, não sejais consumidos pelo fogo do ego e da paixão, nem permitais que as coisas vãs e indignas deste mundo inferior vos impeçam de reconhecer Aquele que é a Verdade Eterna. Glória e rebaixamento, riqueza e pobreza, tranquilidade e adversidade, tudo passará, e em breve todos os povos da terra estarão a descansar nos seus túmulos. Incumbe, portanto, a todo homem de discernimento fixar o seu olhar sobre a meta da eternidade, para que, porventura, pela graça d’Aquele que é o Rei Antigo, consiga alcançar o Reino imortal e permanecer à sombra da Árvore da Sua Revelação. (The Summons of the Lord of Hosts, Lawh-i-Ra’ís, ¶20)

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Texto original: Transcending the Self (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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