sábado, 13 de fevereiro de 2021

Os mortos vão ressuscitar?

Por Maya Bohnhoff.


Na igreja da nossa cidade, realizaram-se uma série de encontros para conhecer a Fé Bahá’í. Num desses encontros, o Pastor Dan levantou a questão da ressurreição:

A Fé Bahá’í acredita numa Ressurreição física?

O Apóstolo Paulo aborda este assunto na primeira epístola aos Coríntios (cap. 15). Os teólogos usam esta carta como a base de uma doutrina que proclama que sem uma ressurreição física do corpo humano, a fé Cristã é vã.

Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé. (1Cor 15:12-14)

Paulo apresenta uma descrição do significado da “ressurreição” em 1 Coríntios 15:35-55. Ele escreve:

Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; e, quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado. Nem toda carne é a mesma; porém uma é a carne dos homens, outra, a dos animais, outra, a das aves, e outra, a dos peixes. Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é a glória dos celestiais, e outra, a dos terrestres. Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor. Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. 

Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?

Aqui Paulo descreve a ressurreição como espiritual e não como física. Ele diz claramente que o “corpo” ressuscitado não é o corpo físico; que é “enterrado” e que o “corpo físico” é seguido por um “corpo espiritual”. Ele deixa claro que este corpo espiritual não é semelhante em nada ao corpo físico; e usa duas metáforas para destacar esta ideia: a semente apodrecida e a planta, e a diferença entre a lua e o sol.

A lua é um corpo inerte que não tem brilho próprio; apenas pode reflectir a luz que recebe – uma metáfora adequada para descrever a condição humana. O sol é feito de matéria diferente e tem o seu próprio brilho. “Assim acontecerá também com a ressurreição dos mortos”, diz Paulo. “Enterra-se um simples corpo físico e aparece depois um corpo espiritual”.

A ressurreição de Cristo é, evidentemente, um protótipo da ressurreição da alma humana. A Sua vitória sobre a morte ilustra o potencial de um crente: “Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda.” (1 Cor 15:23) Daqui depreende-se que a ressurreição de Cristo foi espiritual, e também assim deve ser a nossa. Paulo proclama esta noção quando compara e contrasta o “primeiro Adão” (uma “alma vivente”) com o “último Adão” (Cristo), que ele diz ser o espírito vivificante.



Além disso, Paulo afirma enfaticamente que a “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus”. Aqui ele cita as palavras de Jesus a Nicodemos. Lembremo-nos do contexto dessas palavras originais. Jesus diz a Nicodemos que ele deve nascer de novo – não da carne, mas do espírito. Afinal, qual é a mensagem de Cristo sobre a verdadeira vida? É a vida do corpo ou a vida do espírito?

Penso que isto dá luz ao “mistério” que Paulo fala nos versículos anteriores – que nem todos “dormirão” (isto é, morrem) mas serão transformados. Se esta transformação significa uma transformação ou renascimento espiritual, então tudo isto faz sentido, pois é algo que acontece àqueles que estão fisicamente vivos, mas espiritualmente mortos.

Claramente, Paulo não está a pregar uma ressurreição física de Jesus ou nossa; ele prega uma ressurreição espiritual para os crentes, pedindo-lhes que tenham fé, e conclui: “Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?

Isto parece consistente com aquilo que Cristo nos diz: “as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6:63).

Isto também se reflecte nas palavras de Bahá’u’lláh sobre o assunto, que partilhei no grupo de fiéis da igreja do Pastor Dan:

A natureza da alma após a morte nunca poderá ser descrita, não é conhecida, nem é permissível revelar todo o seu carácter aos olhos do homem… O mundo do além é tão diferente deste mundo, quanto este mundo é diferente daquele mundo da criança que ainda está no ventre materno. Quando a alma atinge a Presença de Deus, assumirá a forma que melhor convenha à sua imortalidade e seja digna da sua habitação celestial. (SEB, LXXXI)

Seria surpreendente ouvir que os meus amigos Cristãos concordam que não existe diferenças entre as palavras de Paulo e as palavras de Bahá’u’lláh? A alma permanece indescritível – uma essência espiritual, não física.

-----------------------------------------------------------
Texto original: Won’t the Dead Rise Again? (bahaiteachings.org)
 
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.


Sem comentários: