sábado, 12 de maio de 2018

O Evangelho de João e a Ressurreição de Cristo

Por Tom Tai-Seale.

...escreveste sobre o encontro com Sua Santidade Cristo após a crucifixão e que alguns apóstolos O perceberam mas não O reconheceram; mas reconheceram-No depois de partilhar o pão.

Sabe que o Espírito Messiânico e a emanação do Espírito Santo sempre se manifesta, mas a capacidade e aptidão (para o receber) é maior em alguns e menor noutros. Após a crucifixão, os apóstolos não tinham a capacidade e a aptidão para testemunhar a realidade Messiânica, pois estavam agitados. Mas quando encontraram constância e firmeza, a sua visão interior abriu-se, eles viram a realidade do Messias como manifesta. Pois o corpo de Cristo foi crucificado e desapareceu, mas o Espírito de Cristo está sempre a fluir sobre o mundo contingente e manifesta-se perante o olhar das pessoas convictas. (‘Abdu’l-Bahá, Tablets of Abdu’l-Baha, Vol. 1, pp. 193-194)
A narrativa de João sobre a ressurreição de Cristo é bastante semelhante à de Lucas, diferenciando-se por aumentar a frequência dos eventos e de acrescentar diálogos interessantes. Ele coloca Maria Madalena vendo Jesus no exterior do túmulo, mas inicialmente não O reconhecendo. Depois, quando ela percebe que é Jesus, é-lhe dito: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai.” (Jn 20:17) Seguindo o significado literal, isto significa que Jesus não morreu na cruz. Uma teoria especulativa e bastante complexa, surgiu entre os teólogos Cristãos para explicar como é que Jesus podia ter morrido sem ter ascendido ao Pai. Mas talvez João estivesse a tentar enfatizar que não nos devemos agarrar ao corpo físico de Jesus - que o corpo espiritual é mais importante.

Jesus e os Apóstolos
João regista dois momentos em que Jesus aparece e fica entre os discípulos, mencionando especificamente que nas duas ocasiões os discípulos estavam em casa com as portas trancadas. Na primeira vez, o discípulo Tomé não estava presente; por isso recusou-se a acreditar a menos que pudesse colocar os dedos nas feridas no corpo de Jesus. Quando Jesus aparece pela segunda vez, o pedido de Tomé é concedido e Jesus afirma: “Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” (Jn 20:29) Há quem considere esta narrativa como uma confirmação da ressurreição literal. Outros consideram-na como uma afirmação de que Tomé podia acreditar numa ressurreição espiritual de Jesus porque ele conhecera-O durante o Seu ministério, i.e., antes da crucifixão.

Os relatos dos aparecimentos de Jesus a outras pessoas (após os versículos citados acima) surgiram como adições posteriores ao Evangelho; não foram escritas pelos autores originais.

Como podemos perceber, após analisar claramente cada um dos quatro evangelhos, e comparando-os cronologicamente, parece que cada evangelho possibilita interpretações literais e simbólicas. Consequentemente, nenhum dos lados no debate literal/simbólico foi capaz de demonstrar de forma definitiva que a sua interpretação é a correcta.

Mas sabemos que as pessoas de carne e osso não se materializam subitamente e posteriormente desmaterializam-se (excepto em filmes de ficção científica!). Não desaparecem subitamente; não saltam de um lugar para o outro; não permanecem desconhecidas para quem as conhece e segue; nem conseguem entrar em diálogo com os seus parceiros. Por outro lado, não se pode sentir as feridas nos espíritos. Ou o espírito era carne, ou o sentimento era um produto de uma reflexão mental. O que aconteceu?

Parece óbvio, quando analisamos racionalmente todas as histórias e as suas perspectivas, que os autores dos evangelhos apenas incluíram as histórias imprecisas de uma experiência de ressurreição nas suas diferentes narrativas. No que toca à ressurreição física, os autores sabiam que esses relatos não eram muito credíveis. No entanto, os evangelistas também devem ter percebido que muitas pessoas queriam acreditar e transmitir esses relatos. Se registar essas narrativas ajudava a jovem fé desses Cristãos, que mal podia haver nisso? Quando analisados de forma desapaixonada, porém, a força das evidências leva-nos para uma interpretação não-literal. Esta conclusão reflecte os ensinamentos Bahá’ís, que se centram firmemente nos sentidos alegóricos e simbólicos desses relatos:
... Após o martírio de Cristo, os Apóstolos ficaram perplexos e assustados. A realidade de Cristo, que consiste nos Seus ensinamentos, nas Suas bênçãos, nas Suas perfeições e no Seu poder espiritual, ficou oculta e desapareceu durante dois ou três dias após o Seu martírio, e não teve aparecimento ou manifestação externa - de facto, era como se estivesse totalmente perdida. Pois aqueles que verdadeiramente acreditavam eram poucos em número, e mesmo esses estavam perplexos e assustados. A Causa de Cristo era, pois, como um corpo sem vida. Após três dias, os Apóstolos tornaram-se firmes e decididos, levantaram-se para ajudar a Causa de Cristo, resolveram promover os ensinamentos divinos e praticar os conselhos do seu Senhor, e esforçaram-se por servi-Lo. Então a realidade de Cristo tornou-se resplandecente, a Sua graça brilhou, a Sua religião encontrou uma nova vida, e os Seus ensinamentos e conselhos tornaram-se manifestos e visíveis. Por outras palavras, a Causa de Cristo, que era como um corpo sem vida, despertou para a vida e ficou rodeada pela graça do Espírito Santo.

Este é o significado da ressurreição de Cristo, e esta foi uma verdadeira ressurreição. Mas como o clero não entendeu o significado dos Evangelhos e não compreendeu esse mistério, tem sido afirmado que a religião se opõe à ciência, pois, entre outras coisas, a ascensão de Cristo num corpo físico aos céus materiais é contrária à Ciências matemáticas. Mas quando a verdade deste assunto é exposta e este símbolismo é explicado, ela não está de modo algum em contradição com a ciência, mas antes, está confirmada pela ciência e pela razão. ('Abdu'l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pp. 117-119)
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Texto Original: The Gospel of John, the Resurrection and the Reality of Christ (www.bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Baha’i: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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