sexta-feira, 30 de março de 2018

A Verdadeira Ressurreição de Jesus

Por Tom Tai-Seale.


Os livros sagrados estão repletos de significados e nunca devem ser entendidos literalmente... É essencial ter percepção divina para ver a verdade, ouvir o chamamento e obedecer - libertando os corações de todo apego mundano. ('Abdu'l-Bahá, Divine Philosophy, p. 38)
A fé Cristã depende da crença na ressurreição, tal como escreve o apóstolo Paulo (1 Cor 15,14-17); mas o que significa a ressurreição para Paulo?

A maioria dos Ocidentais conhece a história que geralmente é ensinada sobre a ressurreição de Cristo: Jesus morreu; e passados três dias, levantou-se do túmulo - literalmente - e foi visitar certas pessoas para lhes mostrar que tinha vencido a morte e que eles deviam continuar e anunciar ao mundo. No entanto, temos agora motivos abundantes para suspeitar sobre a verdade desta versão literal da ressurreição - e perceber que a ressurreição, na verdade, se refere a algo muito mais sublime e significativo.

S. Paulo, El Greco, 1606
A Bíblia atribui as primeiras narrativas escritas sobre a ressurreição a Paulo. Mas antes lermos as narrativas da ressurreição, devemos perceber a forma como Paulo usa a linguagem. A linguagem de Paulo está longe de ser simples; está cheia de imagens ricas e metáforas. Numa carta a Timóteo (1 Tim 1: 12-13), Paulo falou como se Jesus, em pessoa, o tivesse colocado no ministério e lhe perdoasse o abuso, a perseguição e a indignação que ele dirigiu contra Cristo e os Cristãos. No entanto, sabemos que Paulo nunca conheceu Jesus durante o Seu ministério. Paulo referiu-se ao facto de ter sido escolhido e perdoado como um evento espiritual e não como um evento físico. Da mesma forma, quando Paulo escreveu aos Coríntios (2 Cor 13: 5) que Jesus Cristo estava entre eles, ninguém pensava que Paulo falava sobre o corpo físico de Jesus estando literalmente no meio deles. É óbvio que ele se referia a uma realidade espiritual, e não física. Além disso, quando Paulo disse aos Cristãos de Colossos (3: 3) que eles estavam mortos, que as suas vidas estavam agora ocultas com Cristo em Deus, e que eles deviam colocar os seus pensamentos no mundo vindouro se queriam ser ressuscitados com Cristo, Paulo não estava a falar literalmente. Ele não falava com homens mortos que tivessem sido levados para o céu junto de Cristo. Ele usou linguagem simbólica para descrever uma realidade espiritual, e não uma realidade física. Os investigadores bíblicos sabem que devem ter muita cautela quando tentam atribuir um significado literal às palavras de Paulo.

A referência paulina mais frequentemente citada como prova de que Jesus se levantou fisicamente da sepultura está na sua carta aos Coríntios, onde escreve (1 Cor 15:3-8):
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive, ainda, a maior parte, mas alguns já dormem, também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E, por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como a um abortivo.
Mas o que é que Paulo quer dizer quando escreve que Cristo "foi visto", ou “apareceu”, como se traduz na versão ”Ferreira de Almeida”? Podemos entender isso literalmente, quando já vimos que Paulo usa frequentemente imagens físicas para descrever eventos espirituais (ou seja, não físicos)? Poderia Paulo compreender a ressurreição de outra forma, mais metafórica ou simbólica?

Devemos ter presente que pregar a ressurreição tornou-se uma grande preocupação de Paulo, mesmo antes de se converter ao Cristianismo. Ele enaltecia a ideia da ressurreição, uma parte do seu farisaísmo nato e um ponto essencial de diferença entre os fariseus e os saduceus. Mais tarde, ele invocou esse facto quando foi julgado. (ver Actos 23: 6-8). Assim, para Paulo, a ressurreição existia muito antes da crucificação de Cristo. O que significava isso para ele?

Os Coríntios fizeram perguntas a Paulo sobre a ressurreição. E ele respondeu
Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há-de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo. Nem toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes, e outra a das aves; E há corpos celestes e corpos terrestres; mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. (1 Cor 15, 35- 40)
Ele continua a dizer (v. 44): "Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.". Com esta descrição em mente, como podemos acreditar que alguns "viram" a ressurreição do corpo físico de Cristo alguns dias após a crucificação?

Podemos responder como Paulo: "Que insensato!" O corpo com o qual Deus revestiu Jesus no momento da sua libertação do corpo físico, com toda a sua dor e limitações, era - podemos assumir com segurança - muito mais glorioso do que o físico corpo. Com isso e muito mais evidências bíblicas em mente, podemos entender facilmente que a ressurreição que Paulo pregava era uma ressurreição espiritual.

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Texto Original: The Real Resurrection of Jesus (www.bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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