sábado, 14 de janeiro de 2023

Porque envelhecemos? O que significa isso para as nossas almas?

Por Fariborz Davoodi.


Porque envelhecemos? Esta é uma das questões mais difíceis e complexas de toda a biologia.

Na verdade, as respostas a questão têm várias implicações profundas para a saúde física e espiritual do indivíduo, bem como para o bom funcionamento da sociedade.

Sabemos que todos os seres humanos envelhecem. Provavelmente já ouviram falar sobre a descoberta bioquímica da enzima Telomerase, que regula o crescimento das células humanas e pode desempenhar um papel importante no envelhecimento. Também estarão familiarizados com o padrão de envelhecimento anormal observado nas pessoas atingidas pela Progéria, em que todo o processo de envelhecimento acelera, de modo que uma pessoa com sete anos pode ficar com um corpo envelhecido, como se tivesse 60 anos. Essas coisas fazem-nos perceber que envelhecer é, de facto, um processo complexo e pouco compreendido.

Existe um conceito científico que afirma que os seres humanos têm um tempo de vida máximo - que, independentemente de quão bem uma pessoa cuide do seu corpo físico, um tempo de morte biológica pré-programado chega aos 125 anos de idade, mesmo para pessoas com saúde perfeita. É estranho, muito estranho! Claro, isso não devia surpreender-nos, porque vemos esse padrão em muitas entidades biológicas, como árvores, plantas, bactérias e abelhas. O processo de envelhecimento de uma única célula também faz parte desse continuum.

Talvez seja por isso que os idosos, mais do que qualquer outro segmento da população, gradualmente se consciencializam da sua limitada perspectiva de vida. Isto significa que eles geralmente estão mais sintonizados com os aspectos espirituais da vida e mais inclinados a aceitar a existência de uma vida após a morte.

Este conceito de vida eterna e do mundo além tem sido uma componente da psique humana há milhares de anos. À medida que envelhecemos, temos mais para olhar para trás de forma reflexiva, mais experiência de vida para contemplar. Podemos começar a procurar, como sugerem os ensinamentos Bahá'ís, o “rio da vida eterna”:

Vês, ó meu Senhor, esta miserável criatura batendo à porta da Tua graça, esta alma evanescente procurando o rio da vida eterna vindo das mãos da Tua generosidade. Teu é o domínio, em todos os tempos, ó Tu que és o Senhor de todos os nomes; e minha é a renúncia e a submissão voluntária à Tua vontade, ó Criador dos céus! (Bahá’u’lláh, Oração Obrigatória Longa)

Hoje podemos a ter, mas é provável que, com a idade, o leitor desenvolva o desejo por uma vida espiritual e eterna. Enquanto isso, aqui neste mundo material, como lidamos com a nossa população idosa que cresce rapidamente? Como é que as sociedades e as culturas respondem ao facto de as pessoas viverem agora mais do que antigamente?

O envelhecimento de uma comunidade humana tem implicações e complexidades económicas, sociais e políticas que variam de lugar para lugar. Olhando para as questões socioeconómicas relacionadas com a velhice, vemos que vários organismos internacionais se têm debruçado sobre este assunto. O primeiro Fórum Mundial da ONU sobre Envelhecimento ocorreu em 1982, e a Comunidade Internacional Bahá'í (CIB) esteve envolvida como ONG, servindo no Conselho Executivo em 1981-82. A CIB apresentou duas recomendações aos organizadores do Fórum:

(1) Deve haver plena integração do envelhecimento na comunidade humana, uma vez que a comunidade deve ser uma família alagada na qual todos, de qualquer idade, são parte essencial, e não apenas autorizados, mas encorajados, a fazer a maior contribuição possível para o bem-estar do todo; e

(2) Que, ao considerar as necessidades do envelhecimento no processo de desenvolvimento, devemos ter em conta a totalidade do ser humano - a dimensão moral e espiritual, além da sua natureza emocional, intelectual e física - ao discutir as contribuições especiais dos idosos para o desenvolvimento e a sua participação nos benefícios resultantes. (Baha’i World, Volume 18, p. 397)

A grande teoria final sobre o envelhecimento, ainda a ser elaborada, irá provavelmente precisar de ter em conta aspectos genéticos, factores ambientais, influência hormonal e taxa metabólica, entre outros factores. O mais importante de tudo, porém, é que muitos cientistas e investigadores acreditam, agora, que o corpo humano possui um mecanismo interno que regula a morte pré-programada do organismo, provavelmente transmitida através de um grande relógio biológico, que estabelece um limite para nossa permanência aqui na Terra. Temos muito a aprender sobre esse processo, mas sabemos que ele ocorre como resultado de algum controle e programa biológico incorporado ao nível celular.

Mas a idade, como sabemos, tem efeitos nos aspectos físicos do corpo e da mente. Os ensinamentos Bahá'ís lembram-nos que a nossa realidade interior, a própria alma, é eterna:

Toda a criação física é perecível. Os corpos materiais são constituídos por átomos; quando esses átomos começam a separar-se, surge a decomposição e depois vem aquilo a que chamamos morte. Essa composição de átomos, que constitui o corpo ou o elemento mortal de qualquer ser criado, é temporária. Quando a força de atração que mantém unidos esses átomos é retirada, o corpo, como tal, deixa de existir.

Com a alma é diferente. A alma não é uma composição de elementos; não é constituída por muitos átomos; é de uma substância indivisível e é, portanto, eterna. Está inteiramente fora da ordem da criação física; é imortal! (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pp. 90-91)

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Texto original: Why Do We Age, and What Does it Mean for Our Souls? (www.bahaiteachings.org)


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Fariborz Alan Davoodi cresceu em Abadan (Irão), junto ao Golfo Pérsico. Em 1977, pouco antes da revolução islâmica, foi para os EUA tendo estudado na Universidade do Texas, em Arlington. Hoje é médico especializado em Sono e Medicina Familiar, e trabalha em Flower Mound, no Texas (EUA).

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