sábado, 7 de outubro de 2023

As Elites, os Populistas e as tentativas para nos dividirem

Por David House.



No início de cada empreendimento, deve-se olhar para o seu fim. (Tablets of Baha’u’llah, p. 168)

Os partidos políticos, onde quer que actuem, prosperam frequentemente com base na divisão.

Os partidos políticos tentam separar-nos em facções artificiais ou unidades tribais que se opõem a alguma coisa ou a outra pessoa, polarizando a população e colocando-nos uns contra os outros. Se eu sou democrata e o outro é republicano, ou se eu sou trabalhista e o outro é conservador, ou se eu sou socialista e outro é capitalista, ou se eu sou liberal e o outro é conservador, então nós dois rotulamo-nos com uma filiação partidária e desenha-se automaticamente uma linha divisória, criando uma fronteira e uma barreira entre nós.

Em última análise, isso não nos beneficia. Separa-nos em diferentes campos; produz conflito e divisão; gera ressentimentos e raiva; e pode até degenerar em polémicas e violência. Assim como o bom e o mau, ou o preto e branco, a realidade geralmente está algures num ponto intermédio. Mesmo que possamos rotular-nos como filiados num partido, podemos não estar tão afastados nos nossos pontos de vista; ou podemos concordar na maioria das coisas e discordar apenas em algumas. Os sistemas políticos, porém, enfatizam as nossas divergências. Promovem uma abordagem da vida baseada no grupo: ou estás no meu grupo ou no grupo adversário. Fazes parte do grupo certo; ou pertences aos Outros, que estão destinados a ser derrotados e esmagados.

Então, quem beneficia com o sistema político partidário? Bem, se seguirmos o conselho de Bahá’u’lláh e “olharmos para o fim” de cada esforço desde o início, poderemos ver que as divisões políticas partidárias, no fundo, beneficiam aqueles que desejam o poder. O sistema político partidário gera uma situação de constante desunião e conflito como forma de ganhar e manter o poder. Essas divisões políticas partidárias separam-nos, e isso mantém-nos a todos numa guerrilha constante de baixa intensidade, inconscientes e sem vontade de tentar uma abordagem mais unificada para resolver os nossos problemas comuns.

Em muitos lugares, simplesmente aceitamos e não questionamos este estado de coisas. A maioria das pessoas passa a vida inteira sem nunca questionar o modelo do sistema político partidário, ou considerar quaisquer alternativas. Mas os ensinamentos Bahá’ís questionam esse sistema, e pedem-nos também que o questionemos:

Não pronuncies palavra alguma sobre política; a tua tarefa diz respeito à vida da alma, pois, em verdade, isso é o que leva à felicidade do homem no mundo de Deus. A não ser que seja para elogiá-los, não faças menção alguma dos reis da Terra e dos governos do mundo. Em vez disso, limita as tuas palavras à divulgação das ditosas novidades do Reino de Deus, e à demonstração da influência do Verbo de Deus, e da santidade da Causa de Deus. Fala da felicidade permanente, dos deleites espirituais e das qualidades divinas, e de como o Sol da Verdade Se ergueu sobre os horizontes da Terra; fala do sopro do espírito da vida no corpo do mundo. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #53)

Os ensinamentos Bahá’ís pedem que nos concentremos na unidade e não na desunião; e acrescentam que primeiramente devemos dirigir a nossa atenção para o nosso próprio carácter interior e para as nossas almas:

Que se submetam voluntariamente a todo rei justo e sejam bons cidadãos para todo o governante generoso. Que obedeçam ao governo e não se intrometam em questões políticas, mas que se dediquem à melhoria do carácter e do comportamento, e fixem o seu olhar na Luz do mundo. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #236)

Com estas frases em mente, vejamos a mais recente manobra divisiva e de diversão que o sistema político começou a utilizar em muitos lugares do mundo: criar uma distinção falsa e divisiva entre as elites e os populistas. As definições convencionais destes dois termos geralmente são as seguintes: as elites representam os ricos, os instruídos e os poderosos; e os populistas representam as pessoas comuns. Mas hoje esses termos foram manipulados e distorcidos com outro sentido: as elites representam agora aqueles eleitos para governar os nossos países e o mundo; e os populistas representam subitamente aqueles que querem um regresso ao nacionalismo. As elites mundiais, de acordo com a nova definição, querem um governo global que retire os direitos das pessoas; e os populistas querem o governo independente e o direito de fazer o que quiserem. Nesta estratégia inteligente de desinformação, as elites equivalem ao mal e os populistas equivalem ao bem. Até o rótulo – elites – cheira a propaganda, pleno de carga emocional, concebido para gerar oposição e desprezo.

Ultimamente, os políticos que se dizem populistas usam esta estratégia divisionista para criar medos nas pessoas e, em última análise, para atingir as suas próprias ambições autoritárias. Não acreditem nisso – essa é a definição clássica de demagogo: alguém que tenta despertar as emoções das pessoas para ganhar poder.

Na realidade, esta nova táctica, que pretende mais uma vez dividir-nos uns contra os outros, explora ressentimentos e queixas de classe. Portanto, quando ouvirem as palavras elites ou populistas, tenham cuidado. Tal como as antigas divisões, estas novas têm como objetivo manipular as nossas emoções e brincar com os nossos medos – e manter-nos divididos.

Para conseguirmos alguma unidade social real e resolver verdadeiramente os nossos problemas, precisaremos de ir além destes tipos de falsas categorias binárias, filiações partidárias e as antigas dicotomias liberais versus conservadoras. Precisaremos descobrir a realidade profunda da nossa unidade, encontrar um terreno comum e unificar a humanidade:

O primeiro ensinamento é que o homem deve investigar a realidade, pois a realidade é contrária às interpretações dogmáticas e às imitações de formas ancestrais de crença, às quais todas as nações e povos aderem tão tenazmente. Estas imitações cegas são contrárias à base fundamental das religiões divinas, pois as religiões divinas, nos seus ensinamentos centrais e essenciais baseiam-se na unidade, no amor e na paz, ao passo que estas variações e imitações sempre produziram guerra, rebeldia e conflito. Portanto, todas as almas deveriam considerar que é sua responsabilidade investigar a realidade. A realidade é uma só; e quando encontrada, unificará toda a humanidade. A realidade é o amor de Deus. A realidade é o conhecimento de Deus. A realidade é a justiça. A realidade é a unidade ou solidariedade da humanidade. A realidade é a paz internacional. A realidade é o conhecimento das verdades. A realidade unifica a humanidade. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 372)

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Texto original: Elites versus Populists: the New Attempt to Divide Us (www.bahaiteachings.org)

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