Quando em 1984 aceitei a Fé Bahá’í, falava-se muito em perseguições religiosas no Irão. Um dos alvos do fanatismo da revolução iraniana tinha sido a comunidade bahá’í daquele país (creio que aconteceu com praticamente todos os regimes); muitas famílias bahá’ís que tinham possibilidades, abandonavam o Irão e instalavam-se noutros países.
Entretanto as notícias que iam chegando do Irão eram uma torrente de angústias. A casa do Báb, em Shiraz, tinha sido destruída; os membros da Assembleia Nacional dos Bahá’ís do Irão tinham sido enforcados; cemitérios Bahá’ís eram profanados; crentes socialmente conhecidos eram raptados e fuzilados... Não havia boas notícias vindas do Irão.
Desde o início da revolução islâmica 1979 que os Bahá’ís no Irão eram alvo de perseguições sistematizadas; dezenas de milhar ficaram sem emprego, viram as suas pensões de reforma canceladas, as empresas eram confiscadas ou encerradas; jovens e crianças foram expulsos das escolas.
Foi no Irão que nasceu a Fé Bahá’í; A comunidade bahá’í do Irão constitui a maior minoria religiosa daquele país (350.000 pessoas). Há muito tempo que os fundamentalistas islâmicos viam a nova religião como uma heresia e uma ameaça à sociedade. Princípios Bahá’ís como a revelação progressiva, a livre e independente investigação da verdade, a igualdade de direitos e oportunidades para as mulheres e a necessidade de instrução escolar para toda a população são conceitos que irritam os clérigos muçulmanos
Um dos momentos mais dramáticos das perseguições que se seguiram à revolução, deu-se em Junho de 1983, as autoridade iranianas prenderam dez mulheres que leccionavam aulas bahá’ís para crianças (o equivalente à catequese, em Portugal). Estas mulheres foram sujeitas a intensos abusos físicos e mentais, sempre com o objectivo de as forçar a negar a sua fé. Tal como a maioria dos Bahá’ís que tinham sido presos, mantiveram-se firmes.
No dia 18 desse mês, essas dez mulheres bahá’ís foram enforcadas. Este acto foi particularmente chocante para os Bahá’ís, pois vulgarmente apenas os homens eram alvo de execuções. A mais nova dessas mulheres era uma adolescente de 16 anos; chamava-se Mona Mahmudnizhad. A história de Mona mereceu muita atenção mediática: vários livros publicados, foram publicados muitos artigos em revistas e jornais e até um videoclip descrevendo o seu martírio foi lançado (link).
Nos anos seguintes, a Comissão dos Direitos Humanos da ONU foi condenando repetidamente o Irão; no início dos anos 90 as perseguições perderam o seu carácter violento; mas as discriminações continuaram.
Após 25 anos de Revolução Islâmica, os mulláhs bem poderiam fazer um balanço das suas perseguições aos bahá’ís; por paradoxal que pareça, as perseguições no Irão contribuíram para que a religião bahá’í se tornasse mais conhecida em todo o mundo; muitos crentes iranianos se espalharam pelo mundo e estimularam fortemente o crescimento das comunidades bahá’ís em diversos países; e o tema das perseguições levou a que a Comunidade Bahá’í ficasse conhecida nos organismos internacionais.
Não tivessem existido perseguições no Irão, e ainda hoje a comunidade Bahá’í seria quase desconhecida.