quinta-feira, 22 de julho de 2004

Julho de 1850: os britânicos e o martírio do Báb

O Ten-Coronel Justin Sheil era um militar e diplomata britânico que em 1830 integrou um grupo de oficiais cuja missão era treinar o exército persa. Em 1846, assumiu funções de secretário da embaixada britânica em Teerão. Ele e a esposa, acompanharam durante vários anos uma série de eventos relacionados com as religiões Bábi e Bahá'í. O martírio do Báb foi relatado pelo Ten-Coronel Sheil a Lord Palmerston, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico, em 22 de Julho de 1850:

"O fundador desta seita foi executado em Tabreez – Foi morto por uma descarga de um grande número de mosquetes, e a sua morte chegou ao ponto de dar à sua religião o sacrifício purificador que incrementará grandemente os seus prosélitos. Quando o fumo e a poeira se dissiparam após a descarga, não se via o Báb, e a populaça proclamou que ele tinha ascendido aos céus. As balas tinham quebrado as cordas que o prendiam, mas ele foi arrastado do recanto onde o encontraram após algumas buscas, e morto a tiro.
A sua morte, segundo a crença dos seus discípulos não fará diferença, pois o Bab existe sempre.
"

No momento do martírio do Báb, o cônsul britânico R.W.Stevens, estava ausente de Tabriz; o irmão do cônsul assumiu a responsabilidade pelo consulado e não enviou o relatório do evento a Sheil. Apenas no dia 24 de Julho, o Cônsul Stevens, de regresso ao seu posto, rectificou a omissão e acrescentou que o corpo do Báb e do seu discípulo tinham sido "lançados no fosso da cidade onde foram devorados por cães".



Sheil escreveu a Palmerston, em 15 de Agosto, que "Apesar da opinião e conselho de agentes estrangeiros serem, geralmente, desagradáveis ao Ministro Persa, penso, mesmo assim, que é meu dever chamar a sua atenção para qualquer abuso flagrante ou ultraje que chegue ao meu conhecimento. Estou convencido que nestas ocasiões, não obstante a ausência de apreço por parte de Ameer-i-Nizam (o Grão-Vizir) ele poderá, a titulo pessoal, tomar algumas medidas para emendar a situação". Prosseguiu dizendo que o cônsul em Tabriz tinha reportado que o corpo do Báb "por ordem do irmão de Ameer-i-Nizam tinha sido lançado no fosso da cidade e devorado por cães, facto que, na verdade, acontecera". A esta carta anexou uma cópia da carta que escrevera ao Grão-Vizir sobre este assunto. Nessa carta lia-se:

"Vossa Excelência está ciente do caloroso interesse que o Governo Britânico tem em tudo o que respeita a honra, respeitabilidade e crédito deste Governo, e é sobre este ponto que lhe refiro uma ocorrência recente em Tabreez que provavelmente não foi levada ao conhecimento de Vossa Excelência. A execução do Pretendente Bab nessa cidade foi acompanhada por uma circunstância que, se publicada nas Gazetas da Europa, lançaria o maior descrédito sobre os Ministros Persas. Depois dessa pessoa ter sido morta, o seu corpo, por ordem de Vezeer.i.Nizam foi lançado no fosso da cidade e devorado por cães, facto que na realidade aconteceu. Este acto assemelha-se a factos ocorridos em eras muito antigas, e não posso acreditar que possam ocorrer em nenhum país entre a Inglaterra e a China. Satisfeito por acreditar que este acto não recebeu a sanção de Vossa Excelência, e sabendo que sentimentos provocaria na Europa, considerei apropriado escrever esta informação amistosa, para não o deixar na ignorância do sucedido."

Palmerston respondeu a 8 de Outubro: "... o Governo de Sua Majestade aprova o facto de ter chamado a atenção de Ameer-I-izam... para a forma como foi tratado o corpo do pretendente Bab após a sua execução em Tabreez"

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Links/Notas

As perspectivas britânica e russa sobre a execução do Báb podem ser estudadas com detalhe em The Báb, de Hasan Balyuzi e The Bábi and Bahá’í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, de Moojan Momen.

Justin Sheil viria a ser embaixador britânico na Pérsia. A esposa de Justin Sheil é autora de Glimpses of Life and Manners in Persia, onde descreve, entre muitas outras coisas, os comportamentos dos Bábis.

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