terça-feira, 8 de março de 2005

Munirih Khanum

No dia 8 de Março de 1873 realizou-se o casamento de 'Abdu'l-Bahá com Munirih Khanum. Para assinalar essa efeméride que hoje se assinala, aqui fica um breve apontamento biográfico sobre a esposa de 'Abdu'l-Bahá.

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Na Pérsia do séc. XIX era normais os casamentos arranjados entre as famílias – especialmente entre a nobreza persa; a maioria destes casamentos eram acordados entre as famílias e os noivos (ainda crianças) nada podiam objectar às decisões dos progenitores. Quando 'Abdu'l-Bahá era criança, em Teerão, a família escolheu uma para Sua noiva, Shahr-banu. Era filha de um meio-irmão mais velho de Bahá'u'lláh. Após o exílio de Bahá'u'lláh e família para o Iraque, Shahr-banu continuou a viver em Mazindaran (junto ao mar Cáspio).

Em 1868, Bahá'u'lláh deu instruções a um dos seus tios para que levasse Shahr-banu para Teerão e aí se tratassem de todos os requisitos para a sua viagem até Adrianópolis. Uma das meio-irmãs de Bahá'u'lláh, que Lhe tinha grande inimizade, ao saber deste pedido, levou Shahr-banu para sua casa em Teerão e obrigou-a a casar com o filho do primeiro-ministro[1]. Esta situação deixou Shahr-banu profundamente abalada e deprimida; algum tempo mais tarde acabaria por morrer devido a uma tuberculose.

Conta-se que, pouco depois deste acontecimento, Bahá'u'lláh terá tido um sonho que descreveu a alguns crentes: "Sonhei que a face de uma linda moça que vive em Teerão e cuja mão foi pedida por Mirza Hasan para o Mais Grandioso Ramo[2], se tornou escura. E ao mesmo tempo apareceu a face de outra moça, cujo semblante era luminoso e cujo coração radiante. Escolhemo-la para esposa do Mais Grandioso Ramo".[3]

Fatimih Khanum nasceu numa das mais conhecidas famílias de Isfahan. O pai era descendente do Profeta Maomé; a mãe era filha de comerciantes abastados daquela cidade. Desde a sua infância, Fatimih Khanum viu-se envolvida em alguns dos principais eventos da história babi e baha'i. O seu pai, Mirza Muhammad-'Ali, tornara-se babi pouco depois da declaração do Báb, e conheceu-O pessoalmente em Isfahan; foi também um dos participantes na conferência de Badasht. Fatimih cresceu neste período em que a comunidade Babi se transformava em comunidade Baha'i. Isfahan tinha uma importante comunidade e a sua família era, em muitos aspectos, o pivot dessa comunidade.

Fatimih Kahnum, mais conhecida por Munirih Khanum,
a esposa de 'Abdu'l-Bahá (1880)

Em 1872, chegou a Isfahan um mensageiro de 'Akká. Dirigiu-se à casa onde morava a família de Fatimih Khanum e disse-lhes: "Trago-vos novidades maravilhosas. Estou encarregado de levar a filha do falecido Mirzá Muhammad 'Ali para a Terra Santa; faremos o caminho dos peregrinos que seguem para Meca. Deveis fazer os preparativos para deixar Isfahan no momento da Hajj, e viajaremos por Shiraz e Bushir. Os preparativos da viagem devem ser feitos discretamente de forma a que ninguém saiba da vossa viagem a não ser alguns dias antes da partida." Na data combinada, Fatimih Khanum, o seu irmão, o mensageiro e um criado partiram em direcção a Shiraz.

Nessa cidade foram recebidos por familiares do Báb. Seguidamente, e sempre acompanhando os peregrinos que iam para Meca, seguiram para Bushir, de onde iniciaram uma viagem por mar durante 18 dias, até Jeddah. Foram a Meca, onde cumpriram os rituais da peregrinação, e no regresso a Jeddah receberam uma mensagem que os aconselhava a ficar naquela cidade até que todos os peregrinos partissem; só depois deveriam seguir para Alexandria, onde deviam aguardar até receber novas instruções. Nessa cidade do Egipto, enquanto aguardavam, conheceram os baha’is locais; todos estavam céptícos sobre a possibilidade daqueles quatro viajantes conseguirem entrar na cidade de 'Akká. Por fim, surgiram instruções que diziam que deviam apanhar um vapor austríaco até 'Akká.

O desembarque nessa cidade também teve os seus percalços, com vários desencontros e sempre sob receio de serem reconhecidos pelas autoridades otomanas. É importante ter presente que se viviam os anos de isolamento quase total da pequena comunidade de exilados em 'Akká. Ninguém conseguia entrar naquela cidade (as autoridades otomanas tinham dado instruções especiais aos guardas para impedir a entrada de viajantes persas na cidadela).

Nos meses seguintes em 'Akká, a possibilidade de contacto directo com Bahá'u'lláh e Sua família dava-lhes uma enorme alegria. Nas suas memórias, Fatimih Khanum descreve que umas das primeiras coisas que Bahá'u'lláh lhes disse quando os recebeu foi: "Trouxemo-vos à Prisão, num momento em que as portas do encontro estão fechadas para todos os crentes. Isto por nenhum outro motivo senão o de mostrar o Poder e Força de Deus".[5]

Os preparativos para o casamento foram decorrendo durante os meses seguintes. Foi também durante esse tempo que Fatimih, à semelhança de outros crentes, recebeu um título: Munirih (Iluminada).

Da cerimónia de casamento pouco se encontra nos relatos da época. Apenas sabemos que a irmã de 'Abdu'l-Bahá ofereceu a Munirih um vestido branco, e três horas após o pôr do sol, Munirih entrou na casa da família de Bahá'u'lláh, onde foi calorosamente acolhida.

A partir desse momento Munirih passou a ser uma testemunha directa dos principais eventos da história bahá'í, até 1938, ano do seu falecimento. 'Abdu'l-Bahá e Munirih Khanum estiveram casados durante 48 anos e tiveram vários filhos, dos quais apenas sobreviveram quatro meninas. Ao longo da sua vida conseguiu financiar e encorajar a criação de escolas para raparigas na Pérsia.

Túmulo de Munirih Khanum, nos jardins bahá'ís , em Haifa.
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NOTAS
[1] - Episódio descrito na Epístola ao Filho do Lobo.
[2] - Mais Grandioso Ramo é um titulo pelo qual também é conhecido 'Abdu'l-Bahá. Nas Suas escrituras, Bahá'u'lláh costuma designar os Seus descendentes masculinos por "Ramos" e os descendentes femininos por "Folhas".
[3] - Munirih Khanum: Memoirs and Letters, pag.25
[4] - Baha'u'llah - The King of Glory, H.M. Balyuzi, , p. 346
[5] - Munirih Khanum: Memoirs and Letters, pag. 44

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