sábado, 11 de novembro de 2017

Venerar Cristo e Bahá’u’lláh como Coração e Alma

Por Christopher Buck.

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz. (Isaías 9:6)
Fui educado como cristão, e sempre me ensinaram que Jesus era o único caminho para Deus. Anos mais tarde, tornei-me Bahá'í. Antes disso, tive que desfazer esta noção de "apenas Jesus" que recebi durante uma parte significativa da minha infância e adolescência.

Ao investigar a Fé Bahá’í - especialmente as afirmações da verdade de Bahá’u’lláh - sempre temi que, de alguma forma, pudesse perder a minha salvação. Para alterar ou mudar as minhas convicções, eu arriscava muito - para dizer o mínimo.

Deparei-me com esta questão: posso acreditar simultaneamente em Jesus Cristo e Bahá’u’lláh? Em caso afirmativo, como? ‘Abdu’l-Bahá respondeu a uma pergunta semelhante:
Colocaste-me duas perguntas: "Se o mesmo espírito se manifesta em todos os Manifestantes e Profetas, então, qual é a distinção ou diferença entre Cristo (ou melhor, Jesus) e os outros Profetas; também [qual é a diferença] entre Pai e Filho? "

Saibe que o espírito humano é um só, mas manifesta-se em vários membros do corpo de uma certa (medida ou) forma. O espírito humano existe no olhar (olhos); também existe no cérebro, que é a localização de grandes funções e poderes; também existe no coração, cujo órgão está fortemente ligado ao cérebro ou ao centro da mente; e o coração, ou o centro que é a ligação com o cérebro, tem uma função, efeito e aparência distintas e separadas...

Falando de forma figurada, o Pai é o centro do cérebro e o Filho é o centro do coração; o resto dos Profetas são membros e peças. Neste caso, o Pai e o Profeta são duas expressões da mesma coisa, como o homem e a criatura são dois nomes da mesma realidade. A palavra "homem", porém, é maior que a palavra "criatura" porque contém um significado mais importante do que o nome "criatura"; ambos são o mesmo. (Tablets of Abdul-Baha, pp. 102-103)
Neste texto notável, quando ‘Abdu’l-Bahá se refere ao "Filho", significa Jesus Cristo; da mesma forma, "o Pai" refere-se a Bahá’u’lláh.

A reacção do leitor – com justa indignação – poderá ser: "O quê??? Eu sempre pensei que o 'Pai' era Deus e apenas Deus!” Sim, isso está correcto. Mas convido o leitor a ler novamente a profecia de Isaías 9:6, citada acima. Este excerto, amplamente conhecido como a "Profecia Natalícia", sugere, por implicação, que o "Pai da eternidade" não pode logicamente ser o "Filho de Deus" - uma pedra angular fundamental da teologia Trinitária, e uma crença base daquilo que os teólogos sistemáticos às vezes se referem como "alta Cristologia".

Na sua "Epístola ao Papa Pio IX", Bahá’u’lláh afirma o seguinte:
Ó confluência de monges! As fragrâncias do Todo-Misericordioso sopraram sobre toda a criação. Feliz o homem que abandona os seus desejos e se segura firmemente à orientação. Ele, em verdade, é dos que alcançaram a presença de Deus neste Dia, um dia em que o alvoroço se apossou dos habitantes da terra e encheu de consternação todos salvo aqueles que foram libertados por Deus, Aquele que faz curvar os pescoços dos homens.

Adornais os vossos corpos, quando as roupas de Deus estão manchadas com o sangue de ódio pelas mãos do povo da negação? Saí das vossas habitações e ordenai ao povo que entre no Reino de Deus, o Senhor do Dia do Juízo. A Palavra que o Filho ocultou tornou-se manifesta. Foi enviada na forma de templo humano, neste dia. Bendito seja o Senhor, Que é o Pai! Ele, na verdade, veio às nações na Sua mais grandiosa majestade. Voltai as vossas faces para Ele, ó confluência dos justos!

Ó seguidores de todas as religiões! Vemos-vos vagueando enlouquecidos nos desertos do erro. Sois os peixes deste Oceano; então porque vos privais daquilo que vos sustém? Vejam! Agitou-se perante as vossas faces. Apressai-vos a ele vindo todas as regiões. Este é o dia em que a Rocha brada, grita e celebra o louvor do seu Senhor, o Possuidor de tudo, o Altíssimo, dizendo: “Vejam! O Pai já veio, e aquilo que foi prometido no Reino cumpriu-se!” Esta é a Palavra que foi preservada por detrás dos véus da grandeza e que, quando a Promessa se cumpriu, derramou com sinais claros o seu esplendor desde o horizonte da Vontade Divina (The Summons of the Lord of Hosts, pp. 58–59)
De forma sucinta, vamos agora aplicar à Profecia Natalícia (Is 9:6), os quatro passos para entender a profecia:

1º Passo: Se impossível, então não é literal.

Esta profecia não é literal, porque o "Pai da eternidade" não pode ser Deus se o nascimento mencionado na profecia de Isaías é humano: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu" (Isaías 9: 6). A maioria dos Cristãos pensa que "o Filho" aqui significa "o Filho de Deus" (Jesus Cristo). Mas "o Filho de Deus" não pode ser um e o mesmo que o "Pai da eternidade". Sim, eles são "um" em espírito, mas não idênticos.

2º Passo: Se não é literal, então é figurado.

'Abdu'l-Bahá apresenta uma perspectiva importante sobre a analogia expressa aqui: "Falando de forma figurada, o Pai é o centro do cérebro e o Filho é o centro do coração; o resto dos Profetas são membros e peças. Neste caso, o Pai e o Profeta são duas expressões da mesma coisa, como o homem e a criatura são dois nomes da mesma realidade." Por outras palavras, podemos interpretar "o Pai" figurativamente, não literalmente.

3º Passo: Se é figurado, então é simbólico.

Quanto às qualidades que este símbolo representa, "o governo está sobre os seus ombros" é uma das funções do símbolo do "Pai da eternidade". Esse governo provavelmente será um governo mundial, especialmente porque o "Pai da eternidade" é também o "Príncipe da Paz".

4º Passo: Se é simbólico, então é espiritual e social.

'Abdu'l-Bahá aplica a Profecia Natalícia a Bahá’u’lláh como o "pai". Bahá’u’lláh afirma claramente: "A Palavra que o Filho ocultou tornou-se manifesta. Foi enviada na forma de templo humano, neste dia. Bendito seja o Senhor, Que é o Pai! Ele, na verdade, veio às nações na Sua mais grandiosa majestade".

Assim podemos perceber que os Bahá’ís veneram Cristo como o coração ("o Filho é o centro do coração") e Bahá’u’lláh como alma.

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Texto original: Revering Christ and Baha’u’llah as Heart and Soul (www.bahaiteachings.org)

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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

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