Há muito que o ano de 1848 é conhecido na Europa como “O Ano da Revolução”.
O rei Luís Filipe foi forçado a abdicar do trono francês e fugiu do país disfarçado de comerciante. Enquanto a república era proclamada em França, a Hungria declarava a sua independência da Áustria. Em Viena, enquanto os revolucionários entravam no palácio real, o rei Ferdinando abdicava do trono e fugia da Áustria. Nos estados italianos, os rebeldes seguiam o exemplo húngaro e austríaco e expulsavam os vice-reis e governantes, e o Papa ficava apreensivo. Durante a noite, vestido como se fosse um simples sacerdote, o Papa Pio IX fugiu de Roma. Em Inglaterra, 100.000 membros do movimento Cartista reuniam-se para marchar em direcção ao Parlamento. A Suécia, a Irlanda e a Dinamarca também tiveram as suas revoltas em 1848.
Convenção de Seneca Falls |
A Convenção de Seneca Falls é considerada a primeira conferência sobre direitos das mulheres. Curiosamente, os anúncios sobre este encontro apareceram nos jornais no dia 14 de Julho, o mesmo dia em que terminava outra conferência, onde se anunciava a emancipação da mulher. Infelizmente, o mundo Eurocêntrico ignorou durante muito tempo o que aconteceu na aldeia de Badasht, na Pérsia, local cujo nome um dia será tão familiar para nós como Belém.
Em 2017, deu-se um reconhecimento extraordinário evento. Em várias celebrações realizadas em todos os países do mundo, celebrou-se o bicentenário do nascimento de Bahá’u’lláh, uma das duas personagens que convocaram essa conferência profundamente marcante.
De facto, houve dois eventos tremendos na Pérsia em Julho de 1848, que podem ser coonsiderados como a principal causa das repercussões revolucionárias que sentiram no resto do mundo durante esse ano.
Desde essa década, reis e clérigos começaram a ser despojados de poder e caíram às mãos do povo.
Nessa mesma década de 1984, uma febre milenarista varreu os mundos Judaico-Cristão e Muçulmano. Rabinos e académicos Judeus, como Judah Alkalai e A.H. Silver consideravam 1840 como o tempo do Messias; “adventistas” como William Miller afirmavam que 1844 era a data prometida pela Bíblia para o regresso de Cristo; templários alemães foram viver para a Palestina e construíram as suas casas no sopé do Monte Carmelo para estarem próximos quando ocorresse a Segunda Vinda; os Muçulmanos consideravam o ano 1260 A.H. (1844 EC) como o momento em que o Qaim (ou o Mahdi) – o Prometido do Islão – surgiria como salvador espiritual.
Apesar dessas expectativas e profecias da década 1840, e das mudanças sociais revolucionárias iniciadas nesse tempo, a maioria dos Judeus ainda espera pelo seu Messias, tal como a maioria dos Cristãos aguarda o regresso de Cristo, e a maioria dos Muçulmanos espera pelo seu Qa’im. Estariam as expectativas e profecias incorrectas? Será que as mudanças sociais mundiais da década de 1840 forma mera coincidência? No seu livro O Ladrão na Noite, William Sears aborda este enigma.
Quando uma abundância esmagadora de provas aponta apenas para uma conclusão possível, e essa conclusão Mostra estar errada, nunca é sensato descartar todas as evidências como estando erradas. É mais sensato assumir que talvez as evidências estejam correctas, e que outra interpretação totalmente diferente dos factos, ou uma conclusão completamente diferente se possa extrair dessas mesmas provas. (p.30)Os Bahá’ís apresentam uma conclusão alternativa.
As profecias bíblicas referem que “duas testemunhas” (Apocalipse 11:3) são necessárias para dar início ao tão aguardado Dia Prometido; por seu lado, o Alcorão profetiza que “dois toques de trombeta” (39:68) anunciarão o dia da renovação. Em Julho de 1848, na Pérsia, foi reunido um tribunal para inquirir um conhecido homem santo, considerado herético, e conhecido como Báb (“A Porta”). No entanto, o Báb usou essa oportunidade de julgamento público para proclamar perante as mais altas instituições persas, que Ele era o Prometido aguardado, não só pelo Islão, mas também por todas as religiões.
Simultaneamente, num outro local mas com o mesmo propósito do Báb, Bahá’u’lláh era o principal impulsionador daquela histórica conferência de Badasht, onde a emancipação da mulher foi primeiramente proclamada por Tahirih, uma poetisa e heroína Babi.
Poderiam um prisioneiro e um nobre persas ser os dois portadores de uma nova mensagem divina para a humanidade? É precisamente isso que os Bahá’ís em todo o mundo celebram durante os anos dos bicentenários dos nascimentos de Bahá’u’lláh e do Báb. Mas porque o primeiro princípio da sua religião é a livre e independente pesquisa da verdade, Eles não queriam que nos limitássemos a acreditar neles. No fundo, a religião não pode continuar a ser uma consequência do local onde nascemos ou uma questão de fé cega. Em vez disso, Eles querem que investiguemos as fontes:
Em verdade digo, este é o Dia em que a humanidade pode contemplar a Face e ouvir a Voz do Prometido. Ergueu-se o Chamamento de Deus e a luz do Seu semblante levantou-se sobre os homens. Compete a todo o homem eliminar todo o vestígio de palavras fúteis da tábua do seu coração, e olhar, com mente aberta e sem preconceitos, os sinais da Sua Revelação, as provas da Sua Missão, e as marcas da Sua Glória. Grande é, de facto, este Dia! As alusões que lhe são feitas em todas as Sagradas Escrituras como o Dia de Deus atestam a sua grandeza. A alma de todo o Profeta de Deus, de todo o Mensageiro Divino, estava sequiosa por este Dia maravilhoso. As diversas raças da terra, de igual modo, desejavam alcançá-lo… Deus permita que a luz da unidade possa envolver toda a terra. (Baha’u’llah, Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, VII)
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Texto Original: The Revolutions of 1848, and Their Relevance Today (www.bahaiteachings.org)
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Tom Lysaght é autor de várias peças de teatro, nomeadamente “Heralds of the Covenant” (que foi exibida Durante o Congresso Mundial Bahá’í de 1992). Foi director da Radio Baha’i do Lago Titcaca (Peru) e é autor do site Your Creative Stage que pretende lançar o teatro como instrumento de construção de comunidades.
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