terça-feira, 24 de maio de 2005

Epístola de Maqsúd (5)

O quinto (e último) post sobre a Epístola de Maqsud. Entre parentesis rectos indicam-se os números dos parágrafos. O primeiro parágrafo começa com as palavras "Ele é Deus, excelso é Ele, o Senhor de Majestade e poder".
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REVELAÇÃO E A RELIGIÃO

Na epístola de Maqsúd, além de resumir alguns conceitos teológicos já abordados noutras epístolas, Bahá'u'lláh aponta também o papel da religião na resolução dos problemas dos povos.

O segundo parágrafo da Epístola a Maqsúd contém um resumo daquilo que na terminologia baha'i se designa por "revelação progressiva". De acordo com este conceito, Deus envia ciclicamente Mensageiros Divinos à humanidade. Esses Mensageiros - os fundadores das grandes religiões mundiais - trazem ensinamentos cujo objectivo é guiar e esclarecer os povos. E sempre que apareceu algum Mensageiro divino, Ele foi perseguido e acusado de ser instigador da miséria e aflição entre os povos (a).

A epístola de Maqsúd descreve o Verbo de Deus como a força mais poderosa entre a criação: “...a sua influência penetrante é incalculável. Sempre dominou e para sempre continuará a dominar o reino da existência[32]. Apesar de Bahá'u'lláh não Se alargar muito sobre este assunto nesta epístola, ainda assim utiliza metáforas interessantes que descrevem o poder do Verbo Divino: “...um oceano cujas riquezas são inesgotáveis[32]...chave mestra para o mundo inteiro[32].

Para descrever o papel da religião na transformação do mundo, a Epístola de Maqsúd mostra-nos quais devem ser os objectivos da religião e quais as suas potencialidades. Assim, segundo o fundador da religião Bahá’í, o propósito da religião é a “salvaguarda dos interesses, a promoção da unidade do género humano e nutrir entre os homens o espírito de amor e amizade. Não permitimos que se torne fonte de dissensão, discórdia ou inimizade[15]. Bahá'u'lláh acrescenta uma breve referência aos dirigentes religiosos, os quais devem consultar com os governantes sobre o que melhor sirva os interesse da humanidade; os dirigentes religiosos também têm o seu papel a desempenhar na reabilitação da condição humana.

Na mitigação das tribulações que afectam a humanidade, a religião tem um papel que não pode ser ignorado. Segundo Bahá'u'lláh, a chave para a resolução dos problemas humanos está contida nas escrituras. Para referir este aspecto, utiliza a metáfora “frutos da árvore da sabedoria[27] para se referir aos ensinamentos de Deus contidos nas escrituras, e acrescenta que os povos do mundo parecem incapazes de apreciar o paladar desses frutos devido à “febre da negligência e da insensatez[33] (b).

Segundo Bahá'u'lláh, a origem de muitos dos problemas da humanidade parece estar na incapacidade dos seres humanos para por verdadeiramente em prática os ensinamentos de qualquer religião. Quando uma pessoa põe em prática os ensinamentos de uma religião, ela transforma-se e afecta de forma positiva todos os que a rodeiam; a mera transformação política e social também defendida nesta epístola, só por si não surtirá grandes efeitos. É necessária também uma transformação ao nível individual. Como alguém escreveu, não é possível fazer uma sociedade de ouro com pessoas de chumbo.

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NOTAS
(a) - Este tema já tinha sido largamente abordado no Kitáb-i-Íqán.
(b) – Sobre este assunto, Bahá'u'lláh escreveu também : "A religião é o maior de todos os meios para o estabelecimento de ordem no mundo e para o contentamento pacífico de todos os que aí habitam. O enfraquecimento dos pilares da religião fortaleceu as mãos dos ignorantes e tornou-os ousados e arrogantes." E noutra epístola : "A religião é uma luz radiante e uma fortaleza inexpugnável para a protecção e bem-estar dos povos do mundo, pois o temos a Deus impele o homem a segurar-se firmemente àquilo que é bom e a repelir todo o mal. Se a lâmpada for obscurecida, caos e confusão reinarão, e as luzes da equidade, da justiça, da tranquilidade e da paz deixarão de brilhar. " [Bahá'u'lláh citado em World Order of Bahá'u'lláh, 186-187]

8 comentários:

Anónimo disse...

"Segundo Bahá'u'lláh, a origem de muitos dos problemas da humanidade parece estar na incapacidade dos seres humanos para por verdadeiramente em prática os ensinamentos de qualquer religião."
Mas esta incapacidade virá de onde? É intrinseca ou extrinseca?
E quem decide o que é "verdadeiramente"?

João Moutinho

Pedro Fontela disse...

«E quem decide o que é "verdadeiramente"?»

Os sacerdotes obviamente :)

Anónimo disse...

Mas Pedro, na Fé Bahá'í não há sacerdotes.
Não é imperativo a existência de um clero para a prossecução de uma comunidade de crentes.
Não podemos, ambos, decidir o "verdadeiramente"? :-)
...És "terrível"... :-)

João Moutinho

Anónimo disse...

com cada um a decidir o 'verdadeiramente' estão abertas as portas da barbárie...

Anónimo disse...

As religiões conduzem-nos ao "verdadeiramente", a fim de não caírmos na barbárie. No entanto, a livre pesquisa independente da verdade deve estar sempre presente. Da mesma forma, existe o livro arbírtrio, a fim de podermos responder pelos nossos actos.
Pois é, Pinto Ribeiro. Estamos perfeitamente de acordo sobre a necessidade de evitarmos a barbárie.

João Moutinho

Marco Oliveira disse...

João,
Creio que a incapacidade reside no facto dos crentes confundirem nos ensinamentos religiosos aquilo que é efémero com o que é eterno. O apego a rituais e a dogmas criados pela mente humana estão longe de ser a verdadeira prática religiosa; pelo contrário, o potencial da religião revela-se quando os crentes consubstanciam os ensinamentos religiosos em respeito e dedicação ao seu semelhante e nalguma forma de contributo para o progresso da civilização.

Pedro Fontela disse...

A todos,

Na minha opinião qualquer estrutura que evite o pensamento individual e se arrogue como interpretadora, seja da realidade ou da religião :) , é perversa na sua natureza. Estou curioso por quanto tempo é que a religião Bahá'í se irá manter sem uma estrutura formal...

Marco Oliveira disse...

Pedro,
A religião baha'i possui uma administração formal. Talvez o facto dos membros desta administração serem eleitos pelos crentes, dá-lhe um caracter totalmente diferente das estruturas de outras comunidades religiosas. E apesar de existir uma "interpretação oficial" para as nossas escrituras, todos somos encorajados a estudar, interpretar e debater as escrituras (apenas não podemos impor as nossas interpretações aos outros)

Pertencer a uma comunidade religiosa significa sempre aceitar que há um conjunto de leis a cumprir; e se não se cumprem essas leis, isso pode significar alguma perda dos direitos enquanto membro da comunidade. Isto não é uma excepção na Comunidade Baha’i. Por exemplo, um baha'i não pode ser membro de sociedade secretas (maçonaria, rosacruz, etc) sob pena de perder o seu direito de voto.

Se um baha'i defender ideias que são contrários aos ensinamentos básicos, também pode perder o seu direito de voto ou mesmo ser expulso da comunidade (mas isto já é muito raro acontecer).

Mesmo correndo o risco de ficares desiludido, achei que era importante esclarecer isto para não ficares com uma ideia incorrecta.