segunda-feira, 11 de julho de 2005

Os Atentados de Londres(3)

No dia seguinte aos atentados, o Jornal de Notícias titulava: "O medo voltou". Por vezes tenho a sensação que os media gostam de criar medo nas suas audiências. Medo do terrorismo, medo do declínio moral, medo da desintegração social, medo da decadência e fanatismo religioso, medo de tantas doenças físicas e psíquicas da sociedade moderna.

As reacções a todos estes medos são diversas. Há quem sonhe num regresso a um passado utópico; há quem prefira refugiar-se em álcool ou drogas; e outros desejam uma solução apocalíptica que simplifique toda a existência. A violência verbal com que hoje se debatem assuntos como manipulação genética, casamento de homossexuais e lésbicas e utilização de energia nuclear, parecem mais uma manifestação de medo e apreensão perante o desconhecido, do que uma postura séria, racional equilibrada perante os factos.

Neste cenário é legítima a pergunta: estará a civilização em risco? É uma pergunta tão velha quanto a própria civilização. Segundo a perspectiva baha’i, a humanidade evolui através de transformações cíclicas (é um conceito que também existe no Hinduísmo e no Budismo). Ao contrário da escatologia cristã onde se aguarda o "fim dos tempos" (e a segunda vinda de Cristo), os ensinamentos baha'is mostram-nos que estes ciclos de transformação se iniciam com um aparecimento de um Profeta; a Sua mensagem é geradora de um novo impulso espiritual e material, a que inevitavelmente se sucedem o declínio e o colapso.

Assim, como baha'i vivendo nesta sociedade aparentemente sitiada pelo medo, é impossível não recordar as palavras de Sto Agostinho aos habitantes de Cartago quando lhe descreviam as invasões bárbaras do império romano como sendo "o fim do mundo". O santo respondia. "Não é o fim do mundo; é o princípio de um mundo novo".

15 comentários:

Marco Oliveira disse...

Eu não tenho essa visão do S.Agostinho. Prefiro o pragametismo do Franklin Delano Roosvelt: "We have nothing to fear, but fear itself"

Quem diria que até dava para citar um Presidente Americano a propósito deste assunto!
:-)

Anónimo disse...

Sim! Sem dúvida que esta sociedade será progressivamente substituida por uma nova e isso só é possível através do sofrimento...

Marco Oliveira disse...

Maria Lagos,

Por essa maneira de pensar, caímos no "quanto pior, melhor". Não me diga que você faz parte dos que anseiam por alguma espécie de apocalipse...

Anónimo disse...

Eu cá gostei da citação de Santo Agostinho, acho que sim aplica-se aos nossos dias.
Quanto ao apocalipse, acho que é um pouco o conceito popular do - se não vai a bem vai a mal - agora assim é que as coisas não podem ficar.
A questão não é desejar o "Apocalipse", mas o de encara-lo como uma saída possivel, a última, a de recurso. É de resto um rumo natural, que a própria natureza se vê forçada a tomar quando o desiquilibriu é extremo. E há que dizer que o apocalipse não tem que ser forçosamente biblico, o sofrimento fisico é de resto menos doloroso que o psicológico.
De resto para mim já entrámos num "apoclipse" há algum tempo. Como dizia um amigo: - "o oceano mais uma gosta continua a ser o oceano" - apocalipse mais umas quantas desgraças, continua a ser o apocalipse... não há que esperar por ele, pois ele já chegou!

João Moutinho disse...

A propósito de Apocalipse, deveríamos olhar mais para "a Nova Jerusalém" que desceu dos Céus.

Marco Oliveira disse...

Pedro Reis,

Se tu és baha'i, isso é uma contradição com o que está no post. O texto refere uma transformação ciclica e tu falas em apocalipses. Qual é a versao bahai que está correcta?

Alguem sabe se o Moutinho fuma alguma coisa esquisita antes de escrever? Não se percebe pivias... No outro dia era o telescópio, hoje é olhar para o céu, amanha deve andar aos gambuzinos, com certeza!
:-)

João Moutinho disse...

Não, Cirilo. Podes estar certo que não fuma dessas coisas, ou das legais. Limitei-me a pegar numa citação do Apocalipse.
Deixei o restante para a imaginação das boas pessoas que estão a ler o que escrevo.
Gambuzinhos, não sei se ainda há mas talvez alguns deles sejam as tais armas de destruição massiça...

Marco Oliveira disse...

Cirilo,

É impressão minha ou andas um pouco assanhado? :-)

As ideias que coloquei no post e que outros baha’is apresentaram não pretendem ser expressões de uma ortodoxia rigorosa, nem tão pouco de "teologias pessoais", que tentamos impor aos outros. Tratam-se apenas de perspectivas pessoais que tentamos debater sem que qualquer um de nós se apresente como uma autoridade sobre qualquer destas matérias.

Elfo disse...

Os Romanos salgaram Cartago e todas as suas redondesas. Se aquilo foi um começo de um mundo novo, só se foi o fim do império que se aproximava a passos largos.
Sempre estivemos rodeados de mudança, e, fomos nós próprios factores de mudança, ou que julgam que fizeram os bábis na Pérsia do tempo do Báb, foram eles próprios que revolucionaram a maneira de pensar do século XIII E.H. e agora é a vez dos violentos que usam o terror como arma de arremesso para impressionarem o ocidente, esquecendo talvez que foram os ocidentais quem levou as artes da guerra de guerrilha para o Oriente através da CIA, Oriente este que as exportou de seguida para os países de origem: USA e UK.
Quem ensinou os Afgãos a combater o perigoso inimigo comunista: USA
Quem deu treino de guerrilha urbana a Sadam Hussein: UK
Até os nossos "rambos" da GNR lá estiveram após a invasão, e, a ensinar quem? Ironia das ironias a Alqeida foi treinada nos USA.

Elfo disse...

E, desculpem lá, já me estava a esquecer, foram os EEUU que mantiveram as ditaduras do Oriente e foram eles que treinaram o seu Rambo invencível: Osama bin Laden.
Agora transformaram o homen no bode expiatório de todos os males do Ocidente.
As chamadas dores de parto da humanidade já estão a dar os seus frutos: Temos uma iliteracia que amedronta mais do que os bombardeamentos dos afgãos ou iraquis, londrinos, novaiorquinos ou madrilenos. E esta iliteracia vai alastrando como ... uma arma de destruição macissa, porque arrasa o passado e empenha o futuro dos que virão a seguir.

E, no entanto, isto já estava previsto por Bahá'u'lláh quando os homens recusaram a Paz Maior, agora terão de se contentar com a Paz Menor.

João Moutinho disse...

OH Elfo, tão zangado com os americanos! Será que eles são assim tão maus?
Provavelmente, uma das causas da II Guerra Mundial deveu-se ao facto de a corrente isolacionista que vigorava nos EUA desde a doutina Monroe ter impedido que esta nação tivesse partcipado na Sociedade das Nações.
E na Europa? Porque não houve mais guerras (com a excepção da desintegração da Jugoslávias e algumas ex repúblicas soviéticas)?
É mais giro dizer que foi graças à União Europeia, mas receio que se formos honestos connosco próprios haveremos de reconhecer que se deveu mais aos EUA e correspondente poderio bélico.
O Bin Laden criação norte-americana?
Naquele contexto consideraram justo apoiar a guerrilha anti-soviética, e não terão sido só eles a pensar dessa forma.
Talvez, para nós europeus, nos custe ver um país feito de imigrantes, de gente pobre, de costumes simples, ter-se tornardo naquilo que é.

Anónimo disse...

Myflower, meu caro Moutinho, Myflower. Não eram simples emigrantes... eram a escumalha do reino de Sua Majestade.

Mas não, João, não vou por aí, aliás porque o Barnabé já desapareceu..., deves estar a referir-te a uma nação que em menos de cem anos construíu os seus alicerces em cima daescravatura de milhares de negros e em cima do extermínio de milhões de nativos ameríndios e que os reduziu a uma atracção de feira nas reservas que lhes deixaram. Não, João, não vou por aí, aliás porque até conheci a Fé Bahá'í através de uma amigo Pioneiro norte-americano casado com uma ameríndia líndissima. Não, João, não confundo a árvore com a floresta, mas também não engulo essa de que os "heróis" americanos nos vieram salvar do nazismo, vieram quando as costas de Pearl Harbor foram atacadas pelos nipónicos, porque até aí o sr Ford
fabricava para os alemães e a Siemens americana tinha grandes negócios com o Füer.
Nnnnnnnnnnnão meu caro os Norte americanos não são os pais da democracia nem das igualdades, isso deve-se aos franceses, e, até a famosa estátua da Liberdade de que tanto se orgulham foi oferecida pelos Franceses, os tais da Velha Europa. A Constituição americana foi escrita em França e em Inglaterra.

Mas isso é para outra conversa, que se calhar não caberá neste blogue do nosso comum amigo Marco.

Elfo disse...

"Myflower, meu caro Moutinho, Myflower. Não eram simples emigrantes... eram a escumalha do reino de Sua Majestade."

Por qualquer razão que me escapou não apareceu o meu nome Elfo.

Anónimo disse...

Fantástico texto. O princípio de um Mundo Novo. Excelente. Um forte abraço,
Ângelo Ferreira
Pantalassa

Marco Oliveira disse...

Angelo,
Só me esqueci de dizer que este processo de transição para um mundo novo não é fácil.
É mesmo muito doloroso assistir a um mundo que se desintegra, e suportar as dores do parto que permitem que nasça um mundo novo.